Guerra Mundial Z: entre clichês e excessos, roteiro garante o filme

Em uma bela manhã norte americana, uma típica família entra no carro para um passeio. De repente, o trânsito fica congestionado e algumas pessoas começam a agir de forma estranha. A causa: um vírus se espalha pelo mundo, e faz com que os infectados pareçam e comportem-se como zumbis. Os valores e sistemas sociais caem por terra, pois tudo o que é importante no momento é a sobrevivência dos que ainda não foram transformados. Um herói-galã divide-se, então, entre proteger a sua família e salvar o mundo dessa desagradável situação.

Gerry, Karen e as duas filhas tentam fugir de um estado de pânico entre a população

Você tem a impressão de já ter visto ou lido essa história. Pois é. Eu também. “Guerra Mundial Z” nada mais é que a junção de várias situações e elementos que já vimos anteriormente (The Walking Dead, Ensaio Sobre a Cegueira, Filmes-Sobre-O-Fim-Do-Mundo, Filmes-Sobre-Zumbis, etc.). O seu mérito, contudo, está no fato de conseguir, em meio a tanto clichê e informações já recebidas anteriormente, sustentar um roteiro excitante e, de certo modo, imprevisível. “De certo modo” porque é lógico que algumas situações do todo são previsíveis, já que caminham para o óbvio e esperado “final feliz”, mas a competência do roteiro de “Guerra Mundial Z”, baseado no livro de Max Brooks, está justamente no fato de que não se limita ao já esperado. No decorrer das duas horas de filme, somos bombardeados por conflitos menores, situações e problemas, e logo em seguida por uma solução que desencadeia o próximo empecilho que o protagonista (um Brad Pitt bem abaixo do que estamos acostumados) irá enfrentar.

No supermercado, os personagens tentam conseguir alguns mantimentos

A excelência técnica também é uma característica admirável. Salvos alguns exageros (como, por exemplo, a trilha sonora que acentua extremamente o drama de alguns momentos, chegando a incomodar quem já está naturalmente envolvido), nenhum dos aspectos deixa a desejar. Mas também nenhum chega ao nível de excelência, embora a fotografia aproxime-se disso. Uma pausa para comentar as atuações: tanto Brad Pitt quanto Mireille Enos (que faz, Karen Lane, esposa de Gerry Lane, personagem de Brad Pitt) são bons atores, mas perceptivelmente não conseguiram atingir seu ápice em um filme em que contracenavam com zumbis. Mas eu diria que tanto um quanto o outro fez o possível e algo a mais que isso seria quase milagre. Sobre os zumbis, não tenho uma opinião formada. Tudo o que posso dizer é que nos momentos em que as criaturas eram focadas, o público da sessão ria, em vez de assustar-se. Quer dizer, deve ter algum problema aí.

Com o currículo que tem, Marc Foster tem maturidade suficiente para não se queimar. Então, no geral, Guerra Mundial Z pode ser considerado um filme bom, salvo principalmente pela dinamicidade e genialidade do roteiro e pelo suporte tecnológico que não permitiu nenhuma gafe técnica. Mas não posso terminar essa crítica sem mencionar a forte carga ideológica que o filme carrega. Pode até parecer pleonasmo falar isso de um filme blockbuster norte-americano, mas alguns deles fogem ao aceitável. É o caso de Guerra Mundial Z. Com o mínimo de conhecimento geopolítico, alguns podem encarar como de péssimo tom algumas situações colocadas no filmes, que, arrisco dizer, deve ter tido algum investimento de Israel, parceiro político e bélico dos EUA. Contudo, a nível de entretenimento para um público que não se deixa levar pelas impressões causadas por tudo o que assiste, Guerra Mundial Z está muito bem, obrigada.

Zumbis escalam muro de separação para invadir o Israel

O desfecho deixa um pouco a desejar, é verdade, com um discurso ufanista, esperançoso e carregado de significados que nos faz indagar se a voz em off de Brad Pitt está mesmo se referindo a uma epidemia fictícia de zumbis, ou se o alvo a ser atingido é outro. Talvez, o maior pecado de Guerra Mundial Z tenha sido justamente esse: mesmo com um bom material de ficção, que lhe dá espaço para pintar e bordar no mundo da fantasia e da ficção científica, faz questão de deixar no ar um duplo sentido que pode confundir ou incomodar os mais chatos ou sensatos (palavras que algumas situações se aplicam como sinônimas).

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Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Andressa Vieira

Andressa Vieira

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.

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João Victor Wanderley de Souza
10 anos atrás

Andressa, também saí bem satisfeito do cinema.
Gostei bastante do filme mesmo sabendo que não dava pra ir muito longe do lugar comum.
Sobre Brad Pitt, não dá pra exigir dele num filme desses o que ele já mostrou em Clube da Luta ou Benjamim Button, por exemplo. Mas acho que as experiência e maturidade facilitaram na composição do personagem. Achei-o na medida certa.
Marc Foster é responsável por um dos filmes mais incríveis que já vi (Em Busca da Terra do Nunca) e já dirigiu 007. Acho ele muito competente também aqui, mas me incomodou o excesso de câmeras de mão e close ups nas cenas de ação. Miitas vezes eu tive dificuldade de entender o que estava acontecendo em cena. A trilha me deixou bem dividido: hora referenciava os clássicos da época de Romero, hora recorria a uns elementos tecno-eletrônicos que não faziam o menor sentido.
Porém, as qualidades do filme e as inteligentes cenas de ação são superiores e o maior mérito da película é manter um ritmo alucinante durante a maior parte da película.
OBS: O responsvel pela OMS é a cara do jogador Juninho Pernambucano: http://www.pop.com.br/arquivos/I/INJ/INJuninhoPernambucano1503/199854_JuninhoPernambucanoINTjpg.jpg

Andressa Vieira
Reply to  João Victor Wanderley de Souza
10 anos atrás

Ei, João Victor! Pois é, no fim das contas e no frigir dos avos, até gostei do filme. Não posso negar o meu tombo para esses blockbusters espetáculo! Gosto mesmo, quando bem feitos rs Quanto a Brad Pitt, é exatamente o que disse.. esperar mais que isso dele nesse filme não faz muito sentido. Mas fica aquela impressão de muito talento para pouca pedida. É um papel que qualquer outro ator marromeno faria… Valeu o comentário :))))

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