Homem-Aranha X O Espetacular Homem-Aranha – A Batalha de Gerações

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Intérpretes do Cabeça de Teia nas telonas: Tobey Maguire (2002 a 2007) e Andrew Garfield (2012 até hoje)

Hoje, para a alegria da família brasileira, vamos comparar os intérpretes de um dos heróis mais amados de todos os tempos: o Homem-Aranha! Mas antes de lhes atribuirmos qualquer semelhança ou diferença, falemos do personagem homônimo. O Homem-Aranha foi criado em 1962 por Stan Lee e Steve Dikto e teve sua estreia na revista Amazing Fantasy. Na chamada “Era de Prata dos Quadrinhos”, com a implantação do selo Comic Code Authority, várias histórias passaram por reformulações (tudo isso devido ao livro do psiquiatra Fredric Wertham, Sedução dos Inocentes, no qual ele alegava que as HQs incentivavam a criminalidade e a delinquência juvenil). Estando também no início da Guerra Fria, o gênero ficção-científica estava em alta e foi nessa época que os autores citados anteriormente se destacariam e criariam o que, daquele momento em diante, serviria como regra básica pra toda história em quadrinhos da Marvel. Stan Lee havia convidado Jack Kirby (parceiro de longa data e um dos mais respeitados desenhistas da editora, na época em que ainda chamava-se Timely Comics), para participar da criação do personagem. Como ele havia criado um herói que mais parecia uma versão genérica do Capitão América (também criado por Kirby), Lee chamou Dikto e a união desses gênios deu origem a um dos super-heróis mais conhecidos e respeitados da principal concorrente da DC Comics.

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Conceito do Homem-Aranha criado por Jack Kirby

Baseando-se numa série de quadrinhos pulp chamada The Spider, da qual era fã, Stan Lee escreveu o roteiro que serviria para auxiliar Steve Dikto a desenhar a história e que, depois de pronta, voltava para Lee acrescentar os diálogos nos balões.

Diferente de sua versão mais conhecida hoje, o Teioso nessa época possuía teias embaixo dos braços e que tinham a função de ajudá-lo a planar quando saltasse de um prédio a outro. A origem é aquela que todos conhecem: o estudante Peter Parker – que morava com seus tios Ben e May Parker – é mordido por uma aranha que foi exposta à radiação (diferente das aranhas geneticamente modificadas dos filmes), ganhando assim incríveis poderes. Resolvendo usar as habilidades que recebera para benefício próprio, Parker entrou num show de lutas e acabou vencendo, porém não recebeu o dinheiro que lhe era de direito. Após o ocorrido, a pessoa que lhe devia o pagamento acabou sendo roubada por um marginal que Peter poderia ter detido se quisesse, mas não o fez para vingar-se por não ter sido pago devidamente. Ao chegar em casa recebe a notícia da morte do seu tio pelas mãos do… marginal que deixara fugir. Então a partir daquele momento Peter Parker reconhece que, como seu tio Ben havia lhe dito, “com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”, e a partir daquele momento tornou-se um combatente do crime para que mais ninguém sofresse perdas como ele.

Os principais poderes do Homem-Aranha são a incrível agilidade e força, a capacidade de grudar nas paredes e o sentido aranha (que lhe servia como alerta sempre que ele ou alguém perto estava em perigo). Diferente do aracnídeo que o mordeu, Peter não podia produzir teias, então criou os lançadores de teia. Eles ficam em seus pulsos e são ativados quando o mesmo aperta os gatilhos nas palmas das mãos. São carregados por cartuchos contendo uma substância maleável, mas bastante resistente quando lançada e que se assemelha aos fios de teia criados pelas aranhas.

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Estreia do Homem-Aranha na Amazing Fantasy Nº 15 (1962)

Muita coisa aconteceu com o herói depois e, como nosso foco aqui são as produções live-action, focaremos nelas a partir de agora. A Marvel lançou a série The Amazing Spider-Man (1977) com Nicholas Hammond no papel principal (curiosidade: o rosto dele serviu como base para criar o Peter Parker da série animada dos anos 90). Com duas temporadas de 13 episódios, ela acabou não gerando o sucesso esperado. Um ano depois, com o gênero de Tokusatsu (live-actions com heróis japoneses que se transformam para combater monstros) em voga, surgiu Spiderman (ou “Supaidaman” segundo a pronuncia nipônica). Diferindo demasiadamente do original, essa série contava a história do motoqueiro Takuya Yamashiro que, após testemunhar a nave Marveller cair na Terra, tem seu pai morto por aliens que queriam dominar o mundo. O protagonista ganha os poderes de aranha através do sangue de Garia, um guerreiro do planeta Spider e dono da nave Marveller que transformava-se num robô gigante, como em todo bom seriado japonês e que, por alguma razão, era um LEOPARDO (?). A série teve 41 episódios e durou de 78 a 79. Depois disso, a Marvel pareceu não querer mais tentar fazer um live-action do Cabeça de Teia e deixou o personagem longe desse gênero por um bom tempo… Quase 25 anos.

The Amazing Spider-Man (1977) e Supaidaman (1978)
The Amazing Spider-Man (1977) e Supaidaman (1978)

Nos anos 90, a Marvel declarou falência. Isso se deu devido a uma série de péssimas decisões administrativas e por isso ela teve que vender parte dos direitos de alguns personagens para se manter por um tempo até poder se recuperar de vez. Dentro desse pacote, estavam o Homem-Aranha (vendido para a Sony) e os X-Men (vendidos para a Fox). Então esboços de como seria um filme do Cabeça de Teia começaram a ser produzidos e diversos diretores estavam interessados nisso. Dentre eles estava James Cameron que, baseado no Homem-Aranha 2099, elaborou uma história na qual Peter Parker não precisaria de lançadores de teia, pois elas seriam produzidas pelo próprio organismo dele.

Depois de diversos acontecimentos, a ideia foi engavetada e só se consolidou em 2002, com Sam Raimi na direção e Tobey Maguire no papel principal. Devido ao diretor ser conhecido pela excelente trilogia de terror Evil Dead (Uma Noite Alucinante no Brasil), o primeiro filme misturou ação, comédia e altas doses de suspense como só quem conhece o trabalho de Raimi entenderá. Baseando-se no universo Ultimate dos quadrinhos (Millenium no Brasil), que visa criar versões mais modernas dos heróis da Marvel, o filme acabou sendo um sucesso de crítica e bilheteria, o que lhe rendeu mais dois filmes. Enfrentando o Duende-Verde no primeiro e o Doutor Octopus no segundo, os iniciais foram muito elogiados, o que acabou não acontecendo no terceiro. A “Regra dos filmes do Batman” (na qual só pode haver, no máximo, dois vilões por filme) foi “enterrada” no último filme da trilogia, em que há três vilões, e eles ficarem, digamos, mal aproveitados. Apesar de tudo, o filme foi bem recebido por alguns fãs, mas infelizmente não o bastante para a produção de um quarto filme.

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Pôsteres da Trilogia Homem-Aranha

Com o fim da parceria de Tobey Maguire e Sam Raimi por causa da saída do diretor, a Sony acabou fazendo uma seleção de novos atores para o que viria a ser o reboot do Homem-Aranha. Então, em 2012, surgiu O Espetacular Homem-Aranha, com direção de Marc Webb e com Andrew Garfield substituindo Maguire no papel de Peter Parker. A imagem do nerd, digamos, “caricato”, presente no primeiro filme, foi abandonada e Peter era um nerd descolado, que anda de skate, tem gel no cabelo e não aparenta ser tão desprezado como era o antigo protagonista dos filmes de Raimi. Apesar de todas essas controvérsias, o filme foi aclamado pelos críticos e a Sony anunciou que será uma quadrilogia. Não difere muito dos filmes antecessores, também seguindo a linha Ultimate, só que diversas mudanças foram feitas, como o fato do pai de Peter ter trabalhado com o Dr. Kurt Connors (o Lagarto, vilão da trama) e a primeira paixão do principal ser Gwen Stacy (como nos quadrinhos) e não Mary-Jane, como na trilogia de Raimi. A sequência está em fase de produção e as primeiras imagens já estão disponíveis na internet (como o visual de Elektro e a “controversa” Mary-Jane).

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Imagem promocional de O Espetacular Homem-Aranha

Mesmo sendo tão parecidos, os filmes possuem suas particularidades. Não dá pra dizer qual “Peter” é melhor, o “Peter Maguire” ou o do “Peter Garfield”, pois cada um possui as características e qualidades que são o espelho de suas próprias épocas. São visões diferentes de contextos diferentes. Apesar do mais conhecido ser o Maguire e o Garfield estar começando a ocupar seu espaço agora, deve-se (assim como tá sendo com o Ben Affleck, futuro Batman), dar a chance dele mostrar seu potencial. É um fã do Aranha fazendo o papel dele. Ele até vestiu uma fantasia barata e agradeceu pela oportunidade de poder fazer o papel de um super-herói que ele, como muitos, ama desde criança. Muitos fãs ficaram tristes porque não houve um “Homem-Aranha 4”, mas agora eles têm a chance de conhecer uma nova visão do herói que há décadas habita nos corações e sonhos de diversos nerds do mundo inteiro.

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Homem-Aranha (por Mike Deodato)

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JB Santos
Humorista, roteirista, desenhista, diarista e usuário do Windows Vista (mentira). Amante de HQs, games, filmes, séries, música, ficção científica e refrigerante de laranja. Estudante de Design da UFRN nas horas vagas e gente no restante do tempo… Ou será que não?
JB Santos

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Humorista, roteirista, desenhista, diarista e usuário do Windows Vista (mentira). Amante de HQs, games, filmes, séries, música, ficção científica e refrigerante de laranja. Estudante de Design da UFRN nas horas vagas e gente no restante do tempo... Ou será que não?

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Joanilson Santos
10 anos atrás

Abandonei a trilogia inicial e passei a ver várias vezes O Espetácular Homem Aranha, mas não tem jeito. Apesar de seguir o roteiro das HQs com maior fidelidade, há algo que falta nessa nova saga. Pra mim, o que posso dizer de cara, é que os atores não possuem, nem de longe, o mesmo carisma dos personagens na trilogia inicial. Aliás, eu costumo dizer que JJ Jameson sozinho, vivido por J.K Simmons na primeira trilogia, é melhor que todos os personagens em O Espetacular Homem Aranha.

Adson
10 anos atrás

Esse texto reflete bem meu ponto de vista sobre os filmes do Homem-Aranha. Concordo com você, Joanilson, falta carisma nos personagens desse reboot. Mesmo assim, ainda considero um bom filme, principalmente por ele respeitar detalhes importantes oriundos do HQ, como o fato do primeiro amor Peter ser a Gwen. O relacionamento entre Gwen e Peter é muito importante para a saga do Homem-Aranha, tanto é que a morte de Gwen foi um marco que pôs fim a Era de Prata das histórias em quadrinhos. Só depois disso é que a Mary Jane conquista seu lugar.

Enfim, reitero o quão bacana está ficando o trabalho do Marc Webb – um nome um tanto sugestivo para ser o diretor da nova saga do aranha nas telonas. – e parabenizo meu amigo JB Santos pelo texto. Continue assim!

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10 anos atrás

[…] das duas sequências é a sua preferida? O Chaplin dedicou um texto sobre as semelhanças e as diferenças entre as duas sequências de um dos heróis mais idolatrados pelos nerds do mundo inteiro. Vale a […]

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