Livros e HQ’s: ‘Turma da Mônica Jovem – Veneno Virtual’ é confuso, por vezes energético e bastante decepcionante

Turma da Mônica Jovem em “Veneno Virtual”

Gibis e quadrinhos, ah como eu gosto disso. Bom, nem sempre, algumas coisas podem dar certo, quando um estúdio ou publicadora resolve dar uma “repaginada” em suas histórias, é muito bom quando temos essa vontade criar algo novo, experimentar novos caminhos, afinal de contas, receitas boas não são necessariamente velhas ou possuem uma fórmula mágica.  Uma receita novíssima, criada em 2008, foi a Turma da Mônica Jovem. Sim, a dentuça dos gibis agora cresceu, possui um smartphone e uma turma afiadíssima com a tecnologia, Maurício acreditou não apenas em criar uma nova turma da Mônica, como também investiu e acreditou (talvez de forma um pouco esquisita) nos mangás. Isso tem uma justificativa, o mangá teve um dos seus “booms” de sucesso justamente nesta época, podemos tomar, por exemplo, o “Gantz”, “Blackjack” e muitos outros. Maurício de Sousa, tomando ciência do que acontecia no mercado, acreditou no segmento.

Com um público mais crescido, certamente para jovens a partir de dez anos (arrisco dizer) o foco foi determinado e as histórias começaram a ser escritas para esse público. É de extrema importância denotar que a turma da Mônica agradava das crianças aos mais velhos, pela retratação caricaturada do que vivemos em nosso dia a dia, quando somos crianças e quando somos aqueles que as amam, ou seja, seus pais. Contudo, a Turma da Mônica Jovem possui uma proposta diferenciada, buscou retratar a adolescência dessa turminha bagunceira, gente que gosta de uma balburdia gostosa!

Todos a espreita de uma nova fofa do “Castelo do Troll”
Capa da edição “Veneno Virtual”

Na publicação de número 57, encontramos o retrato de um problema comum no novo dia a dia da sociedade, que são as fofocas criadas na rede mundial de computadores (internet). Contendo uma equipe de produção muito pequena, se comparada com as histórias padrões e de sucesso da turma, o enredo se desenrola na problemática dentro da sala de aula. Os primeiros quadros do mangá mostram Mônica e sua turma no laboratório de informática, cujo papel da professora Ana Paula é explicar e exemplificar o que é a internet e a sua importância atualmente. Abro um parênteses aqui e depois continuo meu prólogo. Será que Maurício achava que as crianças não conhecem e nem sabem disso? A forma como a internet é apresentada chega a ser uma ofensa ao leitor, que parece um completo desinformado do que é aquilo, está certo que nem todo mundo conhece as possibilidades da internet, mas talvez explorar mais o que ela permite (sem demora) seria mais inteligente, mas voltemos ao prólogo, antes que isso vire uma prosopopeia.

Após uma introdução (para leigos), a história se centra nas fofocas, “bafões” que o site “Castelo do Troll” começa a contar da turma. Como acontece com as celebridades e com os jovens, algumas verdadeiras e outras não, mas fofoca não precisa ser verdadeira para causar uma má imagem e um grande desconforto em quem é a vítima. Aqui merece ser parabenizada uma explicativa muito clara do que era um “troll” dentro da mitologia nórdica, o que de certo nem os mais velhos devem ter tomado por nota quando leram ou estudaram sobre. Quem fica com o cargo de esclarecer esse conceito é o Cebola, que perdeu sua maior identidade. Talvez não fosse necessário explicar o que exatamente, contudo expliquemos o que aconteceu. “Elado” não é mais o vocabulário do personagem, ele cresceu e aprendeu a falar corretamente “errado”, mas será que isso não foi “elado”? Essa sempre foi a maior característica do personagem. Com as devidas explicações, o “Rei do Troll” implanta através do seu blog todo o tipo de fofoca, deixando cada membro da sala focado durante alguma semana e logo outra postagem é feita com a próxima vítima ou vítimas.

Quando saí uma publicação do Xaveco, com uma foto dele dormindo, a reação dele é inesperada

A história às vezes é monótona, sem qualquer ação, apenas diálogo, não empolgando o leitor, talvez até o fazendo desistir. Contudo, a partes posteriores são compensadas com situações que prendem o leitor, sempre se lembrando de fatos de quando eram crianças, para sustentar que eles ainda são a Turma da Mônica. O famoso coelhinho ainda faz parte na história, mas de forma bem tímida, o que talvez incomode também o leitor que tanto o amava, no uso do mesmo na fúria de Mônica. A ira da personagem principal foi reduzida bastante, mostrando certo amadurecimento, porém a história em um todo é confusa. Acho ainda que Maurício e sua equipe não sabem bem por onde eles encontrarão uma forma confortável de publicar as histórias da Turma da Mônica Jovem. Por diversos (são muitos mesmo) momentos o leitor encontra uma realidade, deixando a história mais próxima de quem lê, mas por outro lado, na página seguinte a história volta a fantasiar, ficando neste embalo do real para a utopia, o imaginário de forma bastante brusca, o que chega a incomodar para quem gosta do fluir da história.

Nos mangás, Mônica e Cebola são apaixonados e namorados

“Veneno Virtual” experimenta bastante, utiliza os elementos básicos da turma da Mônica, deixando-a ainda dentuça, o Cebolinha ainda possui pouco cabelo e o Cascão não é mais tão fedido como antigamente, afinal de contas, ele cresceu. Alguns elementos morreram, como a fúria exagerada da Mônica, já citada, que tornava as histórias bastantes divertidas. Agora os momentos para fazer o leitor rir são bastante forçados, até mesmo para um adolescente. Às vezes, certa piada ou tirada de algum personagem é melhor de ser ignorada do que bem entendida. Os (poucos) momentos de fúria de Mônica são os mais divertidos, ela sozinha salva a história, pois retrata bem uma adolescente que possui crise, apaixonada pelo Cebola, e com um imenso coração, mas não a deixe irritada, que isso lhe custará caro, muito caro, por sinal. Cebola e Cascão também são vívidos na história, Cascão ainda é vítima do que o Cebola faz, como nas antigas história, e o Cebola continua tramando e pensando em como criar planos criativos, não beira o nível de nerd, mas um CDF barra pesada com as garotas, com certeza.

Quando Mônica é a vítima da vez, ela fica determinada a desmascarar o “Rei dos Troll”

O desfecho da história é morno, previsível e sem grandes surpresas, quando a história está por um fio de terminar, o leitor logo percebe quem é o blogueiro por de trás de “O Castelo do Troll”. Entre os momentos mais divertidos é quando Mônica lança contra o autor das fofocas o troll de pelúcia que ele tinha sobre a mesa. Isso foi genial, certamente bastante nostálgico da Mônica enquanto criança.

A história possui seus méritos, pode entreter o leitor por uma ou duas horas, apesar de estar no estilo mangá, a forma como o leitor virará as páginas se dá no curso normal, da direita para a esquerda, possuindo uma instrução divertida da Mônica caso o leitor tente começar a ler como os mangás japoneses são. O mangá não possui cor alguma, exceto pelas suas capas, o material das páginas é um pouco melhor que os gibis tradicionais, Maurício inseriu nas histórias um modelo novelístico, como o escritor Manuel Antônio de Almeida realizou em “Memória de um Sargento de Milícias”. Na edição de número 57 encontramos uma única história do começo ao fim, como nos mangás, se distanciando dos gibis que possuem histórias mais curtas e diversas. Cada história é diferente da outra e não depende da outra para ser compreendida, salvo os casos que isso é feito de forma proposital, até mesmo em gibis.

Personagens principais do mangá (da esquerda para a direita) : Magali, Mônica, Cebola e Cascão

Turma da Mônica Jovem é uma boa leitura, porém cheia de altos e baixos, o leitor poderá se encontrar ali, caso esteja na faixa etária a qual foi destinada. Aos mais velhos, poderão morrer de tédio, ou talvez gostem, por identificar pessoas ao redor que passam por esse tipo de problemática. A forma mais coerente de tomar conhecimento é conferindo mais este trabalho de Maurício de Sousa. Talvez eu não volte a me empolgar tão cedo com esta série, porém aguardemos o amadurecimento do conceito e da ideia trabalhados.

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Matheus Geres
Analista de Sistemas, nas horas vagas web designer, estudante de Sistemas de Informação, apaixonado por Tecnologia, Informática, videogames, rock n’ roll, boa música, teatro, cinema, gibis e quadrinhos. Se um sorriso resolvesse todas as coisas, seria uma pessoa muito bem resolvida com a vida. Além disso, Cristão por escolha e amor, amante das pessoas e do calor humano.
Matheus Geres

Matheus Geres

Analista de Sistemas, nas horas vagas web designer, estudante de Sistemas de Informação, apaixonado por Tecnologia, Informática, videogames, rock n' roll, boa música, teatro, cinema, gibis e quadrinhos. Se um sorriso resolvesse todas as coisas, seria uma pessoa muito bem resolvida com a vida. Além disso, Cristão por escolha e amor, amante das pessoas e do calor humano.

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André
10 anos atrás

A ideia é maneira.

karolaine
karolaine
7 anos atrás

amei a ideia

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