Prêmio Hangar de Música 2013: ‘Arregaçou demais!’

O Teatro Riachuelo estendeu o tapete vermelho para receber a nata musical potiguar nessa quarta-feira (08). Estiveram presentes cantores, musicistas, jornalistas, produtores culturais, gente estranha, gente bonita e nós d’O Chaplin também. Esta jornalista que vos escreve se meteu em meio à rapaziada pra conferir o que rolou lá dentro, entre erros e acertos dos pitacos da postagem sobre os indicados, acertei em cheio sobre o destaque da noite, que pra muitos foi uma surpresa: o mossoroense Artur Soares faturou três troféus Clave de Sol (compositor/letrista, revelação e clipe do ano). Outros pontos bastante positivos e relevantes da noite foram os shows dos paraibanos do Cabruêra, a vencedora do primeiro The Voice, Ellen Oléria, além das muitas caras novas, break, hip-hop e as devidas homenagens ao cantor/compositor Mirabô Dantas.

Anfitriã da noite, a atriz Quitéria Kelly, imitando a amiga Simona Talma (Foto: Andressa Vieira)

A edição 2013 do Hangar, este ano recobrou seu prestígio, também o interesse por parte dos músicos que atuam no RN, além de sua credibilidade junto ao público e os próprios artistas. A premiação teve início lá atrás, em 1999, em um formato bem simples e pequeno, e passou por momentos de altos e baixos. Cerca de mil e quinhentos convites foram distribuídos gratuitamente àqueles interessados em conferir os shows deste ano, com uma proposta de valorizar novos artistas. Muitas das atrações que subiram ao palco estavam fazendo sua estreia no teatro. Já conhecida de outras edições, a atriz Quitéria Kelly novamente comandou a noite, com seu carisma, sorriso e piadas divertidíssimas, mas como boa “host” oscilou entre momentos de comédias geniais, como as ótimas imitações do vídeo 19 divas, só que em uma versão potiguar, e outros momentos assim nem tão felizes ou um tantinho indelicados, como a imitação do sotaque da diretora do Teatro Riachuelo. A orquestra composta por músicos de primeira linha, formada por Eduardo Taufic, Rogério Pitomba, Jubileu e JP,  foi um dos pontos a se destacar da premiação.

Primeira atração da noite, a banda paraibana, Cabruêra (Foto: Andressa Vieira)

Abrindo a festa, a atriz (ex-Global e atual Clowns de Shakespeare) Titina Medeiros chamou a apresentadora Quitéria, mas quem apareceu foi o ator Bruno Diego, que fez seu sketch, um tanto quanto atrapalhado, narrando um causo vivido pelo homenageado da noite, o cantor/compositor natural de Areia Branca, Mirabô Dantas. O primeiro show da noite foi da banda paraibana Cabruêra, que tocou “Carcará” (a melhor versão que já ouvi), com seu rock nordestinês com toques eletrônicos. Os músicos emendaram na sequência um dos hits, “Erectos Cactos”, o vocalista Arthur Pessoa, munido de seu violão e uma caneta, tirou o som que ele batizou de “violão esferográfico” (ao invés de palheta ele usa a caneta para tocar as cordas). A banda ainda recebeu o prêmio Destaque do Nordeste.

Artur Soares, com seus três troféus Clave de Sol. (Foto: Divulgação)

O primeiro prêmio da noite foi de Compositor/Letrista, o corpo de jurados elegeu Artur Soares como o compositor do ano, pelo seu disco de estreia, “Bodoque” (2013). O cantor num misto de timidez, surpresa e vergonha soltou um “Ixi, massa, viu” em seu discurso de agradecimento. A apresentadora Quitéria Kelly não perdoou e soltou um: “Discurso digno de um letrista”. Tirações de onda à parte, o garoto subiu ainda mais três vezes ao palco, duas para receber os prêmios de “Revelação do ano” (seu discurso: “Arregaçou”) e “Vídeo do Ano”, pelo clipe, “Meu Fusca Charlie” (que foi exibido durante a cerimônia). Ainda subiu ao palco pra cantar “Da Minha Terra”, música de sua autoria. Acho que àqueles que não o conheciam saíram com uma impressão de que os prêmios foram merecidos, apesar dos fortes nomes concorrendo.

Homenageado e homenagens

À direita, o homenageado da noite, Mirabô Dantas (Foto: Andressa Vieira)

O homenageado da noite, Mirabeaux Dantas Filho, mais conhecido como Mirabô Dantas ou ainda “Mira”, pros chegados, aproveitou a festa no auge dos seus 66 anos. Conhecido de muito tempo por aqui, com seus 47 anos de carreira, teve músicas gravadas por muita gente, dentre os nomes: Terezinha de Jesus, Elba Ramalho e Lecy Brandão. Compôs em parceria com: Capinam, José Nêumane Pinto e Maurício Tapajós. Sabe a Praia dos Artistas, na orla da zona leste de Natal? Pois bem, recebeu esse nome graças aos vários amigos, artistas do cantor, tais como Gonzaguinha e Alceu Valença, que se hospedavam lá e circulavam pelas praias. Sendo assim, as pessoas passaram a batizar o endereço do músico de Praia dos Artistas. A música sempre esteve presente em sua família, compor sempre foi algo que lhe agradou, cantor de voz frágil, mas de letras muito bonitas, Mirabô já foi comparado ao cearense Fagner. Em sua trajetória musical, já morou no Rio de Janeiro, onde compôs trilhas sonoras para espetáculos de teatro e também para filmes. Seu primeiro disco, “Mares Potiguares”, veio em seu aniversário de 40 anos de carreira, em 2005. Com a simplicidade que lhe é peculiar, Mirabô subiu ao palco para cantar sua música de maior destaque “A Quem Interessar Possa”.

Arleno Farias e Dodora Cardoso deram nova roupagem para “Mares Potiguares”  (Foto: Andressa Vieira)

As homenagens ao compositor “Mira” foram muitas e bote muitas ai, tantas que do meio pro fim eu já não tava mais entendendo quem era quem ou quem tocava o quê, nem de quem era música. O excesso de apresentações alongou a noite de tal modo que a festa se tornou um tanto cansativa. Marcada pra iniciar às 19h, a premiação, só começou de fato uma hora e vinte minutos depois. Foram cinquenta artistas que se apresentaram, um número alto, que dá porte, glamour e o respaldo que os organizadores da festa almejavam, principalmente por se tratar do Teatro Riachuelo, um lugar nobre e de enorme visibilidade da cidade. Compreendi essa preocupação em “fazer jus”, mas acredito que se tivessem cortado pela metade o número de performances, a premiação teria se saído melhor.

Homenageando Mirabô Dantas, destaco a dupla: Clara Pinheiro e Dudu Galvão (Foto: Andressa Vieira)

Dentre as várias interpretações das obras “mirabonianas”, destaco pontos positivos e outros negativos. Primeiramente vamos ao lado bom, o sapato “fashionérrimo” de Dudu Galvão e sua performance ao lado de Clara Pinheiro para “Colando a Boca no Teu Rosto”. Outro ponto positivo foi a versão de Dodora Cardoso e Arleno Farias para “Mares Potiguares”. Agora vamos aos pontos que “Vixe, Maria ai meu deus!”: Haley Peltz cantora jazzistia norte-americana, atração internacional da noite, começa a cantar uma música sobre o bairro do Alecrim, eu logo pensei: “nossa que bacana, uma americana cantando sobre os diversos números que os yankes puseram nas ruas de um dos bairros mais famosos da cidade, legal”. É, acho que os organizadores pensaram o mesmo que eu, mas o resultado… Quando a moça soltou a voz e escorregou e desafinou em um português macarrônico que pouco pode se entender, juro como me apeguei às numerações pra compreender o resto e até agora num sei se ela cantou “Avenida 10” ou “Feira do Alecrim”, só sei que no fim ficou todo mundo com cara de interrogação.

Caras novas da música potiguar

Rodrigo Lacaz cantando “Flor Bela” da banda Alfândega foi um dos destaques da noite (Foto: Andressa Vieira)

Subiram ao palco também novos nomes da música potiguar, muita gente fazendo trabalhos extremamente criativos e interessantes e, olhe, um bocado de mano! A galera do hip-hop mandou ver e mostrou que o cenário natalense é de qualidade, destaco o grupo Manife’starte que mandou uma rima de “responsa” sobre a realidade da cidade e me cativou. Outro ponto bacana foram as apresentações do cantor Rodrigo Lacaz, formidável interpretando “Flor Bela”, canção da banda Alfândega. O vocalista do Rastafeeling, Allan Negão, e Cacau Vasconcelos muito à vontade deram suingue à festa ao cantar uma música da banda Cantocalismo. Artur Soares cantando “Da Minha Terra” também foi um bom momento da festa.  Por fim, eu boa natalense que sou fiquei encantada com as novidades e dei um F5 musical. Ah, rolou também um momento rock and roll com a banda Far From Alaska.

Zeus Napolean, hit da internet (Foto: Andressa Vieira)

Por falar em novidade, muito se falou sobre a apresentação de Miley Cyrus no Video Music Awards (VMA) deste anos, ou ainda de seus clipes polêmicos, mas sabe de uma coisa, se é pra polemizar sou mais Zeus Napolean! Tão ligados não? Nem eu até quarta passada. O vídeo do rapaz viralizou pelas bandas de cá e lhe rendeu uma performance, e bote performance nisso, na noite da premiação, cantando “No Silêncio da Noite”, com direito a beijo gay , que segundo Quitéria Kelly, apresentadora:  “A Globo num mostra, mas nóis mostra”. Achamos um divo pra fazer “pareia” com Danina Fromer nas baladas fechação da cidade.

Roqueiros elogiados pela crítica internacional, o Far From Alaska foi a pedida pesada da noite (Foto: Andressa Vieira)

Ausências sentidas

A campeã de indicações, somando sete, Khrystal, não esteve presente na premiação, por motivos de viagem em outra cidade. Senti falta da energia contagiante dela, certamente um showzinho teria animado a plateia. Para receber os dois prêmios, Melhor Intérprete Artista do Ano (ambas eleitas pelo júri popular), que venceu, seus filhos (para o primeiro) e Mirabô Dantas (para o segundo) foram lá. Confesso que muito me admirou a cantora não ter levado Melhor CD do ano com o seu excelente “Dois Tempos” (2012), prêmio que ficou com a banda Rosa de Pedra e seu disco “DeMaré” (2012). O álbum da banda natalense não foi má escolha, mas certamente não teria sido minha primeira, nem minha segunda escolha, nada contra os artistas, mas “Dois Tempos” de Khrystal e “Em Águas Claras” (2013) de Valéria foram acima da média, meus favoritos. No entanto, compreendi a escolha do júri, embora não concorde, a proposta era premiar a nova safra de artistas, os consolidados tais quais as duas cantoras que citei, já têm um trabalho reconhecido, prestigiado pela crítica local, nacional e estrangeira. A ideia foi apostar em gente que ainda ta crescendo, como forma de estímulo.

Outra ausência sentida foi Valéria Oliveira. A cantora, que neste atual projeto em homenagem a Clara Nunes está pra lá de bem acompanhada com os bambas da Portela e afins, não esteve presente, nem ninguém lembrou do trabalho de altíssima qualidade do show e do álbum “Em Águas Claras”, penso que um disco no porte deste e uma artista de grande talento deveria ter sido reconhecida, mesmo que mais uma vez, por esse trabalho tão vistoso e de uma sofisticação, qualidade e preciosismo ímpar.

Simona Talma, representante potiguar na 2ª edição do The Voice Brasil

Ah, àqueles que se chocaram com a representante potiguar na segunda temporada do programa global The Voice Brasil, Simona Talma, ela esteve presente, cantou, ao lado de seu amigo e parceiro de banda, Luiz Gadelha, a canção “Colando a boca no teu rosto” de Mirabô, apresentação bacana. Até o fim do programa de caça a novos talentos musicais do país, Simona “The Voice” Talma ficará apenas calada para imprensa. Simona, “se joga e faz teu nome”, mostra que a rapaziada potiguar entende dos paranauê e bote quente!

Vencedora da 1ª edição do The Voice Brasil, Ellen Oléria recebeu o prêmio de Revelação Nacional (Foto: Andressa Vieira)

Por falar em “The Voice”, a vencedora da primeira edição do programa, a brasiliense Ellen Oléria também cantou no palco do Teatro Riachuelo, e quer saber, a moça se garantiu muito! Sem instrumentou ou acompanhamento musical ela emendou três músicas de Milton Nascimento a capella e sustentou a atenção de todos. A moça pareceu muito simples e pé no chão, agradeceu ao convite, mandou um recado pra galera do hip-hop que representa as populações de periferia, cantou “Zumbi” de Jorge Ben Jor e quebrou o protocolo cantando mais uma música, esta última de sua autoria, “Testando”. Eu que era totalmente por fora do trabalho de Ellen Oléria antes da premiação, cacei seus álbuns, ouvi e virei fã. A brasiliense recebeu o prêmio de Revelação Nacional.

O eterno novo baiano, Pepeu Gomes, fez apresentação morna (Foto: Andressa Vieira)

Outro nome esperadíssimo da noite foi Pepeu Gomes, um dos deuses da guitarra brasileira, que subiu ao palco com o estilo que lhe é peculiar, trajando botas, calça apertada e chapéu de cowboy, algo que me lembrou vagamente outro guitar hero, Steve Ray Vaughan. O integrante do icônico grupo Os Novos Baianos não foi merecedor de tanta pompa, mandou duas músicas: “Sexy Iemanjá” (tema da abertura da segunda versão da novela “Mulheres de Areia) e “Flor do Desejo”, que tocou de forma pra lá de simples, pra não dizer displicente. O músico baiano recebeu o prêmio por sua Trajetória Musical.

No geral, o saldo do Prêmio Hangar 2013 foi positivo, entre momentos bons e ruins, acredito que tudo transcorreu da melhor maneira que poderia ser feita. O conforto do Teatro Riachuelo deixou todos bastante à vontade, espero que o espaço mantenha-se o mesmo para edições futuras. E pra não dizer que eu só fui passear e filar o camarote das personalidades, fiz uma entrevista! Na sede de repórter, fui falar com Artur Soares, grande nome da noite, com três prêmios, perguntei como é que tava se sentindo e ele com um sorrisão me soltou: “Arregaçou demais, omi!”.

Foto que é pra comprovar a entrevista com Artur Soares (Foto: Andressa Vieira)

Confira a lista dos vencedores e a nossa galeria de fotos do Prêmio Hangar de Música 2013.

 

Vencedores do Prêmio Hangar 2013:

CompositorArtur Soares (CD Bodoque)

Produtor MusicalEduardo Pinheiro

Destaque Hip HopCarcará na Viagem

Destaque PopularBanda Grafith

Produtora CulturalTatiane Fernandes

Melhor CD“De Maré” (Rosa de Pedra)

Revelação Musical do AnoArtur Soares

Música do Ano“Eu tô naquela” (João Henrique Koerig, Quarteto Linha)

Intérprete do AnoKhrystal

Instrumentista do AnoRogério Pitomba

Show do AnoClássicos do baião, Tributo a Gonzagão (Orquestra Sinfônica da UFRN)

Banda do AnoRastafeeling 

Artista do AnoKhrystal

Projeto MusicalFilarmônica de Cruzeta

Incentivo MusicalFecomércio/Sesc-RN

Vídeo Clipe“Meu Fusca Charlie” (Artur Soares)

Destaque NordesteCabruêra

Revelação NacionalEllen Oléria

Trajetória MusicalPepeu Gomes

Destaque NacionalLenine

Galeria de Fotos – Prêmio Hangar 2013 (clique para ampliar):

Fotos: Andressa Vieira

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Leila de Melo
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.
Leila de Melo

Leila de Melo

Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.

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10 anos atrás

[…] lhe rendendo prêmios nas categorias de Compositor, Revelação Musical do Ano e Videoclipe no Prêmio Hangar de Música 2013, uma premiação musical nordestina realizada em Natal, RN, desde 1999. O artista também subirá […]

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