White Metal Vs. Metal Extremo e o roçoio potiguar da semana

Expose Your Hate é uma das bandas que participaria do Dosol e desistiu após uma discussão
Expose Your Hate é uma das bandas que participaria do Dosol e desistiu após uma discussão

O metal veio do rock, que surgiu por volta da década de 1940/1950 e tem sua origem com estilos afro-americanos, como blues. Como assim? Assim como o gospel, o blues veio do spirituals, que veio dos cânticos, gritos e canções religiosas e estas eram cantados pelos escravos.  Suas letras, muitas vezes, incluíam protestos contra a escravidão ou formas de escapar dela. Por que eles falam que vem do capiroto? Veio ainda do blues quando algumas letras citavam o nome do tinhoso como uma forma de criticar os donos de escravos (no sentido conotativo, beleza?).

Robert Johson
Robert Johnson

A fala intensificou com algumas lendas, dentre elas a do Robert Johnson, um exímio guitarrista deste tipo de música nos EUA, que muitos diziam ter vendido a alma ao cão. Ninguém sabe se ele o fez ou não, mas a lenda ficou. O estilo já estava saindo do reduto da comunidade negra, criando fãs e foi quando o país usou a igreja para tentar intimidar os fiéis dizendo que este tipo de música era algo demoníaco e semeando a discórdia (meio contraditório, não é?). Um artigo publicado no Whiplash explica bem a origem.

Aí surgiram as guitarras elétricas e apareceram Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e Elvis Presley, nascendo o rock and roll. O ritmo chegou às rádios europeias, depois à Inglaterra aperfeiçoou a batida, e na década de 1970 vieram as bandas que firmaram o que seria o heavy metal. À medida que o tempo passou, outros estilos roqueiros surgiram e o metal desprendeu do rock, virou um próprio gênero musical (apesar de alguns discordarem). O blues, rock e metal têm em comum o fato de terem quebrado paradigmas, questionado a sociedade e colocarem o dedo na ferida.

Se no funk existe uma categoria chamada de proibidão e esta é considerada um tabu (fala dos traficantes, consumo de drogas, atos sexuais de forma explícita…), no heavy metal também não é diferente. Sempre vai ter um sub-gênero polêmico e que vai provocar as mais profundas reflexões, criando a adoração e o ódio ao mesmo tempo. Aqui em Natal duas bandas de heavy metal tiveram uma rixa pública nesta semana, um atrito, ou como bom potiguar diz, um “roçoio”. Explicaremos a seguir:

O roçoio

Existe o metal extremo que é caracterizados pelo som agressivo. Quais sub-gêneros podem ser aderidos? O black metal (que aborda o ocultismo nas suas letras), death metal (fala sobre morte, violência e a fragilidade humana), o doom (melancolia e a escuridão) e speed (guitarras rápidas e críticas a sociedade). O mais famoso é o primeiro citado, que aborda temas como crítica ao cristianismo, descreve o paganismo, satanismo e outras coisas consideradas um tabu para sociedade, as bandas mais famosas vem da Noruega, como fala neste documentário. Depois vem o death, que fala sobre a fragilidade humana e critica a sociedade, uma das mais famosas deste porte é a finlandesa Children of Bodom.

Também tem o White Metal ou Metal Cristão, que fala de letras relacionados ao cristianismo, totalmente aposto ao black.  Durante os anos 80, os membros do Stryper ajudaram a popularizar o gênero. Alguns consideram meio contraditório este sub-gênero, uma vez que muitos apontam que os religiosos são os que mais detonam o heavy metal e querem “manipular a sociedade”.

The Gates Are Broken é a outra banda envolvida e teve seu show transferido em outra etapa do festival
The Gates Are Broken é a outra banda envolvida e teve seu show transferido em outra etapa do festival

O canal Planno D é um dos que defenderam este argumento e explica do jeito dele a diferença do white e black metal. Os defensores, por sua vez, alegam que é uma forma de conscientizar os jovens e trazer uma boa mensagem. Alguns alegam que o sol nasceu para todos e que independente de ser do “lado negro” da força ou não, acreditar ou não nas mensagens deles, o respeito é merecido e ambos os estilos saem excelentes e respeitados músicos.

Veja este artigo publicado por Marcelo Moreira em 2011, é bastante atual e fala bem sobre esta disputa.

A briga nas terras natalenses aconteceu com uma banda novata e uma experiente. A primeira se chama “The Gates Are Broken”, que tocou várias vezes no Festival Dosol e lançou um EP chamado “Encontro”. Já tocou no Dosol, igrejas e festivais gospels. Em suma, tá conseguindo agradar o meio secular e religioso ao mesmo tempo.

No outro lado do ringue está a experiente “Expose Your Hate”, que tem 15 anos de carreira, com dois discos lançados. Uma das mais famosas da cena potiguar. O que ambas tem em comum? Vocais rasgados, som pesado e uma legião de fãs. A diferença? A segunda citada é mais puxada para o death metal.

Começou o barraco quando as duas resolveram participar no terceiro dia da edição 2014 do Festival Dosol. Nas redes sociais, uma das bandas recusou a tocar no mesmo palco por “diferenças ideológicas” e começaram a aparecer ameças de briga dos fãs de quebrar a cara de um. Foi uma confusão dentro dos comentários.

O The Gates Are Bronken anunciou o cancelamento da apresentação alegando medo de sofrer mais retaliações e as acusações dos fãs e sensibilizados com a história alegaram “intolerância religiosa” para cima da EYH.

A produção do Dosol decidiu, então, transferir a banda cristã para a etapa do município de Santa Cruz e a de metal extremo, por conta própria, resolveu cancelar sua apresentação. Depois, as duas resolveram fazer uma nota a respeito da “briga”.  O parágrafo final da nota de TGAB diz:

“Não temos exatamente nada contra nenhuma das bandas do lineup do Festival, nós admiramos o trabalho profissional de todas e temos um profundo respeito por cada uma independente de crença, descrença ou qualquer outro posicionamento”.

Já Expose Your Hate afirmou em sua nota:

“Deixamos claro que em nenhum momento tomamos alguma decisão pensando em prejudicar o evento, é uma questão nossa enquanto banda, assumimos toda a responsabilidade e consequências por tal ato. Entre os erros e acertos de como as coisas foram conduzidas e absorvidas, nós procuramos expressar nossos motivos sem hostilidade e ataques pessoais, apenas enfatizando que estávamos sendo coerentes com a nossa postura conceitual enquanto banda. Estamos apagando as outras postagens referente ao acontecido pois o assunto está resolvido e deixando esta última nota como um ponto final neste episódio. Obrigado e bola pra frente!”.

Dentro dos comentários do post da nota EYH, alguns apoiaram a atitude da banda de recusar a tocar no festival e defender a sua postura e filosofia, outros criticaram completamente, dizendo que a atitude foi infantil e que o espaço do festival defende a pluralidade.

Anderson Foca, produtor cultural e organizador do festival, também emitiu sua opinião sobre o assunto polêmico. Não é a primeira vez que acontece na cena metaleira local, nacional e mundial, brigas de diferentes tipos trabalhados sempre vão existir.  Quem perde com esta briga é o público que poderia conhecer as duas bandas e o festival.  Depois, os grupos deletaram as antigas postagens para evitar novas polêmicas.

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Lara Paiva
Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.
Lara Paiva

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Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.

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9 anos atrás

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