“A 13ª Emenda” é o documentário pelos olhos de quem sofre

 

O mais novo documentário produzido pelo canal de streaming Netflix e que está concorrendo ao Oscar na categoria de Melhor Documentário de Longa-Metragem nos faz pensar sobre o que é ser humano.

Colocando-nos diante de uma perspectiva histórica, a diretora Ava DurVernay (Selma) proporciona diversos questionamentos sobre o sistema prisional dos EUA e quão falho e preconceituoso ele é. Apresentando em tela vários especialistas e ativistas negros  em apenas 100 minutos, ela consegue fazer perceber que o ser humano está em total declínio social e emocionais.

Como o nome já sugere, o documentário abordará a 13ª Emenda nos EUA, que basicamente viabiliza que os presos percam seus direitos básicos. Para os apreciadores da direita, isso soa totalmente viável e até mesmo justo, entretanto há uma certa discrepância no sistema prisional em que há uma espécie de seleção de quem deve ou não ser preso, hostilizado e deformado dentro dessas cadeias, o que acarreta o ataque das comunidades negras do país, que já são vandalizadas desde sempre.

Angela Davis (ativista negra e atualmente professora) é uma das muitas pessoas entrevistadas

Paralelamente à realidade gringa, temos nós também um sistema prisional falho, vide a crise que ocorreu nos estados do Rio Grande do Norte, Amazonas e Espírito Santo. Lembre-se também do descaso que foi o Carandiru, em São Paulo. Andressa Vieira diz em seu texto sobre a crise carcerária no RN:

“Típico da nossa espécie. Clamar por direitos antes dos deveres. Pensar no próprio umbigo antes de praticar a empatia com o outro.”

O que traz à tona o seguinte ponto: nós, na condição de seres humanos, seres estes capazes de racionar, não podemos exercer este dom para o bem do próximo? O documentário mostra que principalmente os negros foram marginalizados antes mesmo da Guerra Civil, que separou o país em duas sociedades; remete ainda à segregação na década de 60 e ao genocídio que ocorre todos os dias numa esfera quase global.

A 13ª Emenda é um primor tanto em questões técnicas quanto na riqueza de detalhes e informações. É verdadeiramente a minha aposta para o prêmio deste ano no Oscar. E por falar na premiação, o filme também nos faz repensar sobre o que cada filme com representatividade negra indicado este ano representa, seja Moonlight, Estrelas Além do Tempo ou Loving.

O longa ainda critica a forma de governo de vários presidentes republicanos como Nixon, Clinton e Reagan que potencializaram o crescimento exacerbado de presos. 97% das pessoas presas atualmente nos EUA nunca foram a julgamento, este e outros números e estatísticas aparecem durante a trama.

A 13ª Emenda está disponível na Netflix, juntamente com uma entrevista concedida à Oprah pela diretora e também idealizadora do projeto. Perfeito e tocando na ferida que ainda dói, o documentário é um banquete completo de informações relevantes para a vida de todos que são atingidos de alguma forma pelo reflexo da política norte-americana.

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Vinícius Cerqueira
Jornalista em formação, fluente em baianês e musicalmente conduzido no dia a dia
Vinícius Cerqueira

Vinícius Cerqueira

Jornalista em formação, fluente em baianês e musicalmente conduzido no dia a dia

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LUCIA
LUCIA
5 anos atrás

Bom texto e excelente perspectiva. Eu recomendo Diga o nome dela: A vida e morte de Sandra Bland. Eu estava pesquisando e encontrei esse documentário passando ontem na tv. Creio que é um dos melhores filmes HBO que vi nos últimos tempos, principalmente por ser um documentário tão bem feito. Considero que consegue o seu objetivo de nos informar e inclusive nos faz pensar sobre o tema. Vale a pena

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