Atleta A: A verdade por trás do escândalo

“Ele me disse que ia fazer um check-up em mim e esse foi o primeiro dia em que fui abusada”. A frase foi dita pela ginasta Mackayla Maroney, que fez parte do time norte americano de ginástica artística nas olímpiadas de Londres, em 2012. O “ele” é uma referencia ao médico Larry Nassar, que trabalhou na seleção americana por mais de 20 anos, e foi acusado de abuso sexual por várias ginastas.

Essa história foi contada pelos diretores Bonni Cohen e Jon Shenk no documentário “Atleta A”. Seguindo uma linha parecida com a de Spotlight (2015), a produção mostra como a investigação do maior escândalo do esporte americano nos últimos anos foi se desenvolvendo, desde a primeira denúncia feita ao jornal The Indianapolis Star, até o julgamento de Nassar. Logo no início, existe uma mensagem alertando que existem descrições de situações que podem ser perturbadoras, já indicando o quão pesado é o conteúdo que vem pela frente.

É importante lembrar que os Estados Unidos são uma potencia em vários esportes, e a ginástica tem um alto prestígio no país, principalmente por causa de seus ótimos resultados nos jogos olímpicos. Desde criança, várias meninas sonham em um dia representar seu país nos jogos, porém por trás das medalhas de ouro e do glamour das vitórias, existe algo bem mais assustador e criminoso: o abuso sexual de menores.

A princípio, o que seria uma consulta médica rotineira se torna uma sessão de traumas que são carregadas por muito tempo, até o momento em que a ex ginasta Rachael Denhollander resolve expor seu rosto e gravar uma entrevista contando sobre possíveis abusos que sofreu quando era atleta. Em 2015, outra ginasta, Maggie Nichols, que estava bem cotada para participar das olímpiadas no Rio de Janeiro, em 2016, também fez uma denúncia sobre abuso sexual sofrido quando estava com a seleção americana.  A partir disso, uma equipe de jornalistas investigativos parte atrás de mais informações, e começam a descobrir que essa situação era bem maior e mais complexa do que imaginavam, afinal, Larry era apenas uma parte do problema.

O documentário vai sendo construído através de entrevistas com ex atletas, os jornalistas envolvidos na investigação, familiares, advogados e outras pessoas que de alguma forma contribuíram para que essa situação viesse à tona. Um ponto interessante é que em determinado momento é possível compreender um pouco da história da modalidade, fazendo referência à ginástica praticada no bloco oriental, durante a guerra fria, principalmente sobre a romena Nadia Comaneci, e a influência que seu estilo de apresentação teve para as americanas.  Apesar de ter um ritmo mais acelerado, com diversas informações sendo jogadas ao espectador, a cronologia dos fatos consegue ser bem dividida, e o espectador consegue ter uma boa dimensão do quão o trabalho dos jornalistas foi fundamental para que o caso ganhasse uma proporção maior e tivesse evidencias suficientes para que fosse levado ao tribunal.

O ponto principal está na parte final, onde são mostradas imagens do julgamento de Nassar, quando mais de 100 meninas foram ao tribunal dar seus depoimentos olhando no rosto do médico, que além da longa condenação, ainda foi obrigado a escutar confissões perturbadoras de traumas que ele próprio ocasionou. Além do médico, o presidente da Federação Norte Americana e a comissão técnica também foram investigados e afastados de seus cargos, pois ocultaram as acusações, devido a interesses políticos.

“Atleta A” traz uma história que infelizmente ainda é comum na sociedade, e que parece até inacreditável, afinal, Larry era uma pessoa importante na sua comunidade, visto como um bom homem, inclusive as próprias ginastas o descreviam como “a pessoa mais gentil da seleção”, sem ter ideia de que aquelas consultas deixariam marcas psicológicas difíceis de serem esquecidas.

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Caio Rodrigues
Graduado em Comunicação Social(UFRN), vai do rock ao samba, do Poderoso Chefão a Toy Story, como cantava Adoniran Barbosa, “Deus dá o frio, conforme o cobertor”.
Caio Rodrigues

Caio Rodrigues

Graduado em Comunicação Social(UFRN), vai do rock ao samba, do Poderoso Chefão a Toy Story, como cantava Adoniran Barbosa, "Deus dá o frio, conforme o cobertor".

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