Quando me deparei com a capa de “Macanudo nº 1” do ilustrador argentino Liniers, à primeira vista achei que fosse algo que lembrasse “Onde Está Wally?”, mas ao folhear o livreto de noventa e seis páginas me dei conta de que não se tratava disso. Macanudo em espanhol quer dizer “extraordinário, excelente, estupendo e magnífico”. Certamente, o título das histórias dos vários personagens que compõem o universo das obras de Liniers não poderiam ter um nome melhor. São vários tipos engraçadíssimos que nos fazem devorar o livro de uma vez só. As tiras publicadas nesta primeira edição, foram veiculadas entre junho de 2002 de novembro de 2003 no jornal La Nación, da Argentina.
Não muito conhecidos no Brasil, ainda, os personagens que compõem as tirinhas Macanudo, estão há alguns anos fazendo barulho fora de seu país natal, pela internet, um meio que o autor abraçou para divulgar seu trabalho. Na Argentina, Liniers é um dos grandes nomes dos quadrinhos (aonde os quadrinhos são levados a sério) e bate ponto em jornais e qualquer banca de revista portenha.
Caso você, leitor, já tenha lido tudo do Calvin & Haroldo ou Snoopy e acha que sua cota de existencialismo poético e realismo-fantástico-nonsense já foi atingido, acho que é a hora de dar uma chance a Liniers. Os diversos personagens desenhados e escritos por ele, como os esquisitos duendes, a adorável Henriqueta (e Fellini), ou os pinguins, exploram bem o vazio do humor, com um pouquinho de filosofia e auto-depreciação (que é pra rolar aquela identificação por parte do leitor).
Ricardo Liniers Siri ou somente Liniers é um dos mais famosos cartunistas da Argentina e virou febre no Brasil com a publicação de suas tiras em vários blogs. Seus trabalhos já foram publicados em diversas revistas como Rolling Stone, Spirou e La Mano. Desde pequeno, foi um voraz leitor de quadrinhos, conhecendo a obra de Hergé, Goscinny e Uderzo, Quino, Héctor Germán Oesterheld, Charles Schulz e Herriman. Começou a desenhar para fanzines, e logo passou para meios de comunicação profissionais, como Lugares, ¡Suélteme!, Hecho en Buenos Aires, Calles, Zona de Obras, Consecuencias, ¡Qué Suerte!, Olho Mágico, 9-11 Artists Respond, Comix 2000 e outras obras. Realizou duas mostras como artista plástico: “Macanudo”, em Ludi (2001), e “Mono en Bicicleta”, em La Bibliotheque (2003).
Trazendo bom humor e leveza ao nosso cotidiano, por vezes deveras complicado, Liniers acaba nos chamando atenção para a efemeridade da vida e para a urgência em aproveitá-la. Isso, no entanto, não imprime peso ao seu traço. Antes, nos apresenta situações e personagens que vivem num mundo à parte, cheios de força e doçura. Não há como não sentir empatia pelo ingênuo robô Z-25, ou se identificar com Enriqueta, uma menina sonhadora e esperta. Definitivamente a leitura é agradável e certamente a obra faz jus ao nome, é extremamente “macanuda”.
A título de curiosidade, eis aqui um documentário que fala sobre a trajetória criativa de Liniers, chama-se: “Liniers, El Trazo Simple De Las Cosas”, da cineasta Franca Gonzalez.
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.