Com o surgimento da condição pós-moderna podemos perceber uma nova corrente de pensamento, defendida principalmente por autores como Arlindo Machado e Perry Anderson, enfatizando que passamos por um período cuja tendência é buscar romper as barreiras que padronizavam e categorizavam as artes. Essa nova manifestação traz consigo novos preceitos que rompem por completo as estruturas/núcleos que durante um tempo foram irredutíveis. Logo o pós-modernismo estabelece novos valores na sociedade reformulando a experiência sócio-cultural, o homem agora começa a se inserir em um espaço dominado por discussões sobre a globalização, o aumento desenfreado do consumo, o individualismo exacerbado, a música eletrônica e o niilismo nas artes em geral.
Diante do exposto, percebe-se que a arte na contemporaneidade busca outro viés, um processo onde o espectador não mais escolha uma mídia para emergir, mas experimenta novas formas de experiência midiáticas, fazendo com que a cada dia se torne difícil as velhas mídias disputarem a atenção das pessoas. Este contexto fez surgir uma nova experiência narrativa em que as empresas começam a criar histórias que se desdobram em diferentes mídias criando os projetos de narrativa transmídia, termo cunhado pelo teórico norte-americano Henry Jenkins, em seu livro Cultura da Convergência.
Narrativa transmídia nada mais é que a expansão do universo narrativo de uma história. Porém, para que ocorra essa expansão se faz necessária a utilização de múltiplas plataformas e formatos, utilizando tecnologias digitais atuais, proporcionando assim ao espectador se envolver em uma experiência multimidiática, mas no mesmo universo narrativo.
Uma das primeiras experiências de narrativas transmidiáticas da década de noventa foi a série Twin Peaks, dirigida por David Lynch, lançada em 1990. A série gira em torno da investigação do assassinato de Laura Palmer, que aconteceu numa pequena cidade chamada Twin Peaks. O lançamento da série causou uma revolução nas narrativas seriadas, principalmente devido ao pensamento teórico-acadêmico sobre o emergente cenário histórico, onde os conceitos de modernidade e pós-modernidade começavam novamente a tomar força devido às revoluções tecnológicas.
Aproveitando essas discussões, Lynch resolve então desenvolver na série uma experiência até então “nova” para televisão, que proporcionasse ao espectador buscar novas formas de inserção, ampliando assim o universo narrativo de Twin Peaks. Lynch se utilizou do que Henry Jenkins veio chamar de transmídia, para tanto desenvolveu outros dois produtos: o primeiro foi um livro chamado de “O diário de Laura Palmer”, que foi lançado no fim da primeira temporada, e posteriormente o filme “Twin Peaks: Fire Walk With Me” que foi lançado ao fim da última temporada.
Com o desenvolvimento dessa estratégia, Twin Peaks se tornou um sucesso e uma mania nos Estados Unidos, pois o projeto conseguiu dar um caráter complexo à narrativa, deixando-a ampla e desenvolvendo uma espécie de quebra-cabeça que era espalhado por diversas mídias. Contudo, o seu caráter transmidiático, apesar de bem sucedido, não pôde galgar passos mais amplos devido a algumas restrições tecnológicas da época.
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.
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