Quem disse que bordado, tricô, linha, lã e tecido só funcionam na Moda? Ana Teresa Barboza, artista peruana de 33 anos, sabe muito bem que não. Ou melhor, entende direitinho que a arte é uma máquina capaz de mastigar todo o tipo de técnica e transformá-la, junto a doses de sensibilidade e provocação, em interessantes obras. No caso da Ana Teresa, ainda somou-se a esses ingredientes muita criatividade e desenhos impecáveis!
Com uma carreira de dez anos e uma lista considerável de diversas exposições coletivas, individuais, prêmios e muita experiência, ficaria difícil falarmos de todo seu trabalho. Portanto, selecionei aqui 3 das suas séries para apreciarmos e discutirmos.
1. Tejiendo el instante , 2013 | Wu Galería, Lima
O que a o tecido, o bordado e as plantas têm em comum? Qual a intersecção entre eles? De acordo com Ana Teresa, eles se aproximam especialmente no que diz respeito à velocidade: “O tecido e o bordado se assemelham com o crescimento invisível das estruturas das plantas, num trabalho manual lento, que congela e sobrepõe diferentes fragmentos em uma imagem composta por fios.” (tradução livre).
Com isso em mente, a artista instiga o espectador a descobrir seus sentidos, entrar em contato com a terra e perceber as semelhanças entre ele e o mundo que o cerca. Pois só quando nos conhecemos somos capazes de descobrir a natureza ao nosso redor e só quando despertamos nossos sentidos valorizamos a “dinâmica imóvel” das plantas.
Vejam só o que essa reflexão produziu:
2. Suspensión, 2012-13
Mais abstrata e menos óbvia, aqui enxergo que Ana Teresa traduz lindamente como nossa tentativa de tecer nossa realidade é falha e inviável. Por mais que tentemos encaixá-la, emoldurá-la e costurá-la, ela sempre irá ultrapassar e emaranhar-se.
Do ponto de vista puramente estético: que ótimo uso das cores! O oceano, mesmo tecido com linha grossa, com gradação de cores escolhida quase parece foto. Se eu fosse estilista, certamente desenharia uma coleção toda inspirada na paleta de tons em suspensão dessa série.
3. Animales familiares, 2011 | Wu Galería. Lima
Aqui encontramos a natureza visceral e sensual na sua forma mais realista. Alguns veem polêmica, eu só enxergo beleza. Fala de quando nós não estamos, mas somos a natureza. Aqui o tecer e bordar está fortemente presente, além da técnica, nos temas escolhidos. As linhas e agulhas estão nas nossas mãos, nos costurando.
Tentando transver o mundo, como Manoel de Barros bem disse ser preciso.