Expectativas e Previsões para o Oscar – Parte III: Categorias Principais

Finalmente chegamos à Parte III! Onde desvendamos as categorias mais populares. Onde a magia acontece. Sejamos francos, são 24 prêmios, mas daqui a uma semana você vai se lembrar de apenas uns 8, e daqui a um mês, provavelmente, apenas o ganhador de Melhor Filme.

Existem três categorias realmente apertadas, nas quais é difícil cravar o vencedor: Melhor Documentário, Melhor Ator e Melhor Filme Estrangeiro estão francamente divididas entre dois possíveis ganhadores. As categorias de roteiro podem ter surpresas e as demais podem se considerar praticamente fechadas. Praticamente.

E finalmente, a nossa previsão de qual será o Melhor Filme é… Whatever, você já sabe que vai ser La La Land.

Os Concorrentes (na ordem do mais provável a vencer ao menos provável)

Melhor Filme de Animação

  1. Zootopia
  2. Kubo e as Cordas Mágicas
  3. Moana: Um Mar de Aventuras
  4. A Tartaruga Vermelha
  5. Minha Vida de Abobrinha

O departamento de animação da Disney, que alguns anos atrás virou patinho feio perto da irmã mais nova Pixar (as duas pertencem hoje à Disney, mas trabalham separadamente) deve estar em festa. Duas indicações no mesmo ano e nenhuma da Pixar demonstram realmente um ano atípico. Já tendo levado o Globo de Ouro, Zootopia deve ganhar com facilidade: lições sobre vencer preconceitos e diferenças para viver juntos é exatamente o que Hollywood gosta de acreditar que faz. Correndo por fora está Kubo e as Cordas Mágicas, ganhador do BAFTA, e é um filme lindo que ninguém assistiu (#FicaADica).

Melhor Filme Estrangeiro

  1. O Apartamento (Irã)
  2. Toni Erdmann (Alemanha)
  3. Terra de Minas (Dinamarca)
  4. Um Homem Chamado Ove (Suécia)
  5. Tanna (Austrália)

Outra categoria de difícil previsão. Todos os que chegam nessa categoria costumam ter méritos próprios e visões muito particulares. Esse ano a disputa deverá ficar entre duas comédias dramáticas: Toni Erdmann, da Alemanha, e O Apartamento, do Irã.

Lembra que falamos anteriormente sobre o clima geral contra Donald Trump? Pois é. Toni Erdmann caiu melhor no gosto dos críticos, mas o clima anti-islã que Trump tentou instaurar logo no começo de seu governo irá pesar em favor de O Apartamento. O veto à entrada de cidadãos do Irã e outros 6 países de maioria muçulmana levou o diretor de O Apartamento, Asghar Farhadi, a anunciar o boicote à cerimônia. Ora, quer chance melhor para Hollywood hastear uma bandeira branca de paz com o Oriente Médio e o Islã, e cutucar Donald Trump ao mesmo tempo?

Melhor Documentário

  1. O.J.: Made in America
  2. 13th
  3. Eu Não Sou Seu Negro
  4. Vida, Animada
  5. Fogo no Mar

Outra categoria que normalmente é muito forte e carregada de boas histórias, em que opiniões pessoais e percepções influenciam muito a aceitação de cada um. Todos os três primeiros favoritos trabalham com a questão racial, de alguma forma ou de outra. Quem leva? Bom, é uma corrida apertada entre O.J. e 13th.

13th levou o BAFTA, e O.J., o PGA Awards (prêmio da associação de produtores). Embora 13th claramente trata de um tema mais relevante – o sistema prisional americano e como isso é um reflexo das relações raciais nos EUA – estamos falando de Hollywood aqui. O.J. não apenas teve uma boa recepção do público em geral, mas também trata de um evento público de grande relevância nos EUA, muito familiar aos espectadores, que passaram horas e horas discutindo o tema nos anos 1990. Claro, trata-se da história trágica de uma celebridade. Nossa torcida? 13th. A tendência? No momento, O.J. desponta como favorito.

Melhor Roteiro Original

  1. Damien Chazelle – La La Land
  2. Kenneth Lonergan – Manchester à Beira Mar
  3. Taylor Sheridan – A Qualquer Custo
  4. Yorgos Lanthimos, Efthymis Filippou – O Lagosta
  5. Mike Mills – Mulheres do Século 20

Eis outra corrida apertada até o fim. Normalmente, Lonergan venceria facilmente com o roteiro de Manchester à Beira Mar. Indicado anteriormente ao Oscar por outros roteiros, conhecido no meio da Academia, um celebrado escritor de peças e, claro, autor de um excelente roteiro de um dos melhores filmes do ano, Lonergan deveria levar a estatueta em um ano normal. Mas há muito amor em Hollywood para La La Land no momento. Será esse amor capaz de fazer a Academia esquecer que o roteiro de Chazelle realmente não é lá essas coisas (como de quase nenhum musical, diga-se)? Chazelle levou o Globo de Ouro, enquanto Lonergan levou o BAFTA. E quem ganhou o WGA Award, prêmio da categoria de escritores foi Moonlight, que nem indicado ao Oscar como roteiro original foi (é uma história complicada). Não há muito no que se agarrar aqui, mas nossa aposta vai para La La Land por um nariz.

P.S. Não sei se o melhor, mas o roteiro mais original do ano certamente deveria ir para Yorgos Lanthimos, Efthymis Filippou por O Lagosta. Se ainda não assistiu, recomendamos.

Melhor Roteiro Adaptado

  1. Barry Jenkins, Tarell Alvin McCraney – Moonlight
  2. Luke Davies – Lion
  3. Eric Heisserer – A Chegada
  4. Allison Schroeder, Theodore Melfi – Mulheres Além do Tempo
  5. August Wilson – Um Limite Entre Nós

Uma história curiosa aqui: Moonlight buscou a indicação para roteiro original, quando foi descoberto que a história se baseava em uma peça que nunca chegou a ser produzida. Eis o porquê de Moonlight ter concorrido como Roteiro Original ao BAFTA, perdendo para La La Land e no WGA Award, no qual saiu vencedor. Moonlight também perdeu o Globo de Ouro (que não faz distinção entre Original e Adaptado) para La La Land.

Aqui, Moonlight é o nosso favorito, por ser um excelente filme que não terá muito reconhecimento em outras categorias. Vale lembrar que Hollywood ainda está tentando limpar a má impressão que deixou ano passado. Parece uma forma cínica de pensar (e na verdade é), mas a história nos ensina que a Academia pensa dessa forma. Sem La La Land na concorrência, os únicos filmes possíveis de ameaçar Moonlight são Lion, que venceu o BAFTA na categoria e A Chegada, que vendeu o WGA Awards por roteiro adaptado. Há espaço para surpresas, mas é pouco provável.

Ator Coadjuvante

  1. Mahershala Ali – Moonlight
  2. Dev Patel – Lion
  3. Jeff Bridges – A Qualquer Custo
  4. Michael Shannon – Animais Noturnos
  5. Lucas Hedges – Manchester à Beira Mar

Muitos novatos nessa categoria, apenas um ganhador (Bridges) e um indicado anteriormente (Shannon). Com a exceção de Bridges, que fez exatamente a mesma caracterização pela qual foi indicado ao Oscar por Bravura Indômita, atuações sólidas por toda a parte.

Aaron Taylor-Johnson, que ganhou o Globo de Ouro na categoria por Animais Noturnos sequer foi indicado. O BAFTA foi para Patel, enquanto o SAG Awards (prêmio do sindicato de atores) foi para Ali. Quem é o favorito então? Pela brilhante atuação, pela importância do filme e pela sensibilidade hollywoodiana, Mahershala Ali é o favorito, devendo levar para casa o seu primeiro Oscar – de muitos, se considerarmos o grande potencial do ator. Moving On!

Melhor Atriz Coadjuvante

  1. Viola Davis ­– Um Limite Entre Nós
  2. Michelle Williams – Manchester à Beira Mar
  3. Naomie Harris – Moonlight
  4. Octavia Spencer – Mulheres Além do Tempo
  5. Nicole Kidman – Lion

Outra categoria que deve ser uma barbada (teoricamente). O BAFTA na categoria? Viola Davis. O SAG award? Viola Davis. O Globo de Ouro? Viola Davis. A lógica aponta apenas para um nome, com Michelle Williams vindo por fora com alguma chance.

Em sua quarta indicação ao Oscar, a atuação de Wiliams é simplesmente brilhante, impecável e cheia de emoção. Mas a atriz passa pouco tempo na tela – parece mais uma ponta. Viola, além de uma brilhante atuação, é realmente o coração do filme, podendo inclusive ter concorrido ao Oscar de Melhor Atriz… onde ela provavelmente perderia para Emma Stone. Nossa aposta é que a terceira indicação ao Oscar de Viola Davis será a sua primeira vitória.

Melhor Ator

  1. Casey Affleck – Manchester à Beira Mar
  2. Denzel Washington – Um Limite Entre Nós
  3. Ryan Gosling – La La Land
  4. Viggo Mortensen – Capitão Fantástico
  5. Andrew Garfield – Até o Último Homem

A categoria de melhor ator esse ano é uma briga de notáveis: com exceção de Andrew Garfield, todos os concorrentes já tiveram indicações prévias. Essa é a categoria mais acirrada e está entre o irmão mais novo de Ben Affleck e Denzel Washington – o único da lista que já ganhou a estatueta, duas vezes aliás. Affleck ganhou o Globo de Ouro e o BAFTA, enquanto Washington levou recentemente o SAG Awards. Por um lado, a performance de Casey Affleck chamou mais atenção. Por outro, lembra do que eu falei sobre a Academia tentando compensar pelo ano passado?

Esse será um dos mistérios da noite e pode ir para qualquer um dos dois, mas aqui damos uma ligeira vantagem para Casey Affleck – atuação notável, nunca ganhou o prêmio, em um bom filme que deve levar poucas estatuetas. Gosling dificilmente superará os dois (sua chance é que os dois dividam muitos votos e ele consiga supera-los), enquanto Mortensen e Garfield estarão apenas felizes de estar ali.

P.S. O mero fato de termos dado ligeira vantagem para Casey Affleck vai fazer com que Denzel Washington ganhe o prêmio. Mas se tivéssemos optado por Denzel como mais provável, Casey seria o ganhador. Não tem como escapar.

Melhor Atriz

  1. Emma Stone – La La Land
  2. Ruth Negga – Loving
  3. Natalie Portman – Jackie
  4. Isabelle Huppert – Elle
  5. Meryl “The Boss” Streep – Florence: Quem é essa mulher?

Outra barbada. La La Land será eleito o Melhor Filme (aceite), então, como você chama a atriz que é o coração e a alma do melhor filme do ano? Esta é a primeira indicação ao Oscar para Negga e Huppert, que terão um lugar fabuloso para assistir Emma Stone subir ao palco para receber a sua primeira estatueta e cutucar Donald Trump.

A performance de Emma Stone, além de incrível, entra em consonância com a história pessoal de muitos membros da Academia: o desafio de começar uma carreira em Hollywood, com muitas frustrações, fracassos, sacrifícios, mas motivado por um sonho. A atriz já ganhou o Globo de Ouro, o BAFTA e o SAG Awards pelo papel, então certamente ela já tem um belíssimo discurso na ponta da língua para a ocasião.

No mais, Natalie Portman, que já tem o seu Oscar deve curtir o show sentadinha, enquanto Meryl Streep segue com seu trono cativo entre as indicadas. Rumores de que ano que vem ela será indicada por ir comprar pão na esquina. Com justiça, Meryl de havaianas deve comprar pão com muito mais emoção e classe do que qualquer um de nós.

Melhor Diretor

  1. Damien Chazelle – La La Land
  2. Barry Jenkins – Moonlight
  3. Kenneth Lonergan – Manchester à Beira Mar
  4. Denis Villeneuve – A Chegada
  5. Mel Gibson – Até o Último Homem

Outra vitória para La La Land e com toda a justiça. Essa é a primeira indicação de Chazelle (já havia sido indicado por Roteiro Adaptado com Whiplash) para Melhor Diretor e será sua primeira vitória. Esse ano Chazelle já levou o Globo de Ouro, o BAFTA e o DGA Awards (prêmio da associação de Diretores). Além disso, há um velho entendimento na Academia: quem dirige o Melhor Filme é o Melhor Diretor, uai. Os dois prêmios andam de mãos dadas ao longo da história. Em 88 edições, apenas 25 vezes o Oscar de Melhor Diretor e Melhor Filme não foram para o mesmo filme. E como nós já sabemos qual será o melhor filme…

O risco para Chazelle será se a Academia olhar com mais carinho ao trabalho de Barry Jenkins no também belíssimo Moonlight. Essa é a primeira indicação de Jenkins e uma vitória seria certamente muito celebrada – nenhum diretor negro foi premiado e essa é apenas a quarta indicação na história.

As chances de vitória de Lonergan e Villeneuve são mínimas esse ano, também sendo a primeira indicação ao Oscar de Melhor Diretor para ambos (Lonergan foi indicado anteriormente como roteirista). Quanto a Mel Gibson, o único da lista que já venceu o prêmio, certamente Hollywood ainda não está tão pronto assim para perdoá-lo (provavelmente o colocarão sentado perto do banheiro).

Melhor Filme do Ano

  1. La La Land
  2. Moonlight
  3. Manchester à Beira Mar
  4. Lion
  5. A Chegada
  6. Estrelas Além do Tempo
  7. Até o Último Homem
  8. A Qualquer Custo
  9. Um Limite Entre Nós

Você vai me fazer dizer? Sério?

Existe uma chance, muito, muito pequena, de La La Land não ser agraciado como Melhor Filme do ano. É difícil, mas já aconteceu. Ano passado, Spotlight, que ganhou apenas um outro Oscar (Roteiro Original) ganhou o Melhor Filme por ser um tema de relevância e ficar na zona de conforto da votação do Oscar. Explicando: o sistema de votação privilegia filmes medíocres de fácil aceitação, que ficam em boas posições na lista de votação de todo mundo, enquanto prejudica filmes que atraiam maior paixão dos votantes – e que sejam mais polarizadores, dividindo os votos.

Se, se, **SE**, uma boa parcela dos membros da Academia resolverem que La La Land é realmente um filme muito bonitinho, mas com pouca relevância no mundo real e que a história só lembra de todos os white people problems que eles passaram, há a chance do Oscar passar para Moonlight. Lembra da lei de compensação da noite? É uma possibilidade e o Oscar também estaria em boas mãos.

Mas isso levaria em conta Hollywood deixar de lado todo o seu ego. Não conte com isso. La La Land já levou Melhor Filme no Globo de Ouro, no BAFTA e no prêmio da associação de produtores (PGA Awards). Assim, O grande vencedor da noite, com estimados 9 Oscars e Melhor Filme de 2016, deverá ser La La Land.

E fim de papo.

Bolão do Oscar 2017

Quer ganhar um par de ingressos para a sala VIP do Cinépolis Natal Shopping, um poster de La La Land, três livros* da editora Intrínseca e três marcadores, feitos pelo Felipe Ernesto, personalizados sobre os filmes indicados? Participe do Bolão do Oscar 2017 do Blog O Chaplin em parceria com o Set Cenas! O participante que tiver o maior número de respostas corretas leva todos esses prêmios! É a sua chance de impressionar aquele(s) contatinho(s) cinéfilo(s)!

*Livros: “História da sua vida e outros contos”, de Ted Chiang; “Tony e Susan”, de Austin Wright; “Sully: O herói do Rio Hudson”, de Chesley Sullenberger e Jeffrey Zaslow)

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Diego Paes
Formado em Relações Internacionais, Mestre e talvez Doutor (me dê alguns meses) em Administração, mas que tem certeza de que está na área errada. Pode ser encontrado com facilidade em seu habitat natural: salas de cinema. Já viu três filmes no cinema no mesmo dia mais de uma vez e tem todas as fichas do IMDb na cabeça. Ainda está na metade da lista dos Kurosawa e vai tentar te convencer que Kieslowski é o melhor diretor de todos os tempos.
Diego Paes

Diego Paes

Formado em Relações Internacionais, Mestre e talvez Doutor (me dê alguns meses) em Administração, mas que tem certeza de que está na área errada. Pode ser encontrado com facilidade em seu habitat natural: salas de cinema. Já viu três filmes no cinema no mesmo dia mais de uma vez e tem todas as fichas do IMDb na cabeça. Ainda está na metade da lista dos Kurosawa e vai tentar te convencer que Kieslowski é o melhor diretor de todos os tempos.

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