“O problema é que as pessoas distanciam muito a gastronomia da culinária. Quando escutam a palavra ‘gastronomia’ nem parece que é algo próximo da culinária. E aí, só pelo nome, já elitizam a prática da gastronomia que acaba ficando, muitas vezes, reservada para as classes mais altas em restaurantes de luxo”, comentava o chef carioca (mas que reside no Nordeste) Arthur Coelho em um dos momentos em que parei para assistir rapidamente à apresentação do I Circuito Gastronômico de Natal, na tenda armada na Praça das Flores, localizada à avenida Hermes da Fonseca, em Petrópolis. Seja pela explicação dada pelo chef ou pela localização privilegiada do evento (em um dos bairros mais caros de Natal, onde uma porcentagem mínima da população mora), foi exatamente essa a sensação que senti ao visitar o evento, em sua noite de abertura, na última quinta-feira (14).
Apesar dos pratos a preços acessíveis à população (a maioria varia entre R$ 5 e R$ 10, e são diversificados entre culinária local e cozinha estrangeira), a grande parte dos visitantes parecia compor a elite natalense e se divertiam nas mesas distribuídas pela Praça enquanto degustavam suas taças de vinho. Se essa não foi uma percepção errônea, trata-se de um grande mal entendido, visto que o intuito do Circuito, bem como de toda a programação do Natal em Natal (evento maior do qual ele faz parte), é o de levar a cultura à toda população, em eventos abertos e gratuitos.
Além das palestras, oficinas e duelos que acontecem na tenda armada, há oito quiosques (ou tendas de especialidades), nomeadas pelos chefs responsáveis, que vendem comidas e bebidas das mais variadas para os visitantes. Os preços são acessíveis, geralmente com pratos abaixo de R$ 10. Dentre os quiosques, encontramos comida regional, portuguesa, vinhos, drinks, e vários outros. Tive a oportunidade de conferir algumas delas e recomendo o bolinho de bacalhau dos chefs Jorge Sequeira e Eli Marinho. São quatro bolinhos deliciosos ao custo de R$ 10, vale à pena a degustação.
Há também as apresentações culturais que acompanham o evento. Foi armado um palco improvisado na Praça onde bandas e nomes locais se apresentam para aqueles que estão trabalhando e visitando o Circuito. Durante o tempo em que estive lá, fui embalada por um chorinho, o que tornou a experiência ainda mais agradável.
Alguns problemas também podem causar frustrações na visita, a começar pelo estacionamento, um pouco complicado por aquelas redondezas. Além disso, há pouco espaço para a acomodação dos visitantes, o que incita a demonstração de má-educação de alguns deles, ou mesmo a falta de tato dos chefs “hosters” dos quiosques.
Ainda assim, vale a pena conferir o evento, que continua até o domingo (17). A programação completa os interessados podem conferir no site do Natal em Natal.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.