O nascimento de uma linguagem – Parte I

Em 1895, ocorria na França a primeira exibição cinematográfica paga. Tal exibição foi organizada pelos inventores do cinematógrafo, os irmãos Lumière. A partir daí, essa nova forma de entretenimento começa a ganhar forma tanto que as indústrias começam a surgir em torno dessa nova forma de arte. Um bom exemplo é a Pathé, que durante as primeiras décadas foi uma das principais indústrias cinematográficas do mundo, tanto que manteve algumas salas itinerantes em vários outros países. Ainda que o cinema seja agora um produto “industrializado”, naquela época, ele não tinha uma linguagem própria e ainda apresentava grandes lacunas na sua estrutura narrativa, tanto na forma de construção das elipses temporais, na forma de interpretação como também na maneira de filmar. Tais brechas na maioria das vezes deixavam os espectadores desnorteados ao fim da exibição, um bom exemplo é o filme “O Maravilhoso Magico de Oz” de 1910. Durante o filme não conseguimos nos orientar de maneira clara nas transições temporais entre os pontos. Para quem quiser conferir, abaixo segue o filme no Youtube.

Em 1915 o diretor norte americano Griffth lança o que é considerado o segundo longa-metragem da história do cinema mundial, “O Nascimento de uma Nação”. O filme dura quatro horas e na época de sua exibição conseguiu um público extraordinário de mais de 1 milhão de espectadores. Deve-se levar em consideração que naquela época cinema era considerado artigo de luxo, poucas pessoas tinha condições de ter acesso às salas de exibições.

O filme poderia ter ficado na história do cinema apenas por ser considerado o segundo longa-metragem produzido até então, porém ele se propôs a ir mais longe já que Griffth, ao conceber essa obra, propôs ao cinema inovações técnicas e narrativas que acabaram se transformado em uma linguagem cinematográfica, linguagem essa que é estudada até os dias de hoje. Na obra acompanhamos a vida de duas famílias durante a Guerra de Secessão e a subsequente Reconstrução dos Estados Unidos: de um lado a família Stonemans, nortistas consecutivamente pró-união e os Camerons, sulistas pró-confederação. Além disso, o filme ainda traz consigo vários fatos históricos que marcaram os Estados Unidos, a exemplo do assassinato de Abraham Lincoln por John Wikes.

Griffith nos apresenta nesse filme inovações técnicas incríveis para a época e, com isso, estabeleceu um padrão narrativo vigente ainda hoje. Uma dessas inovações foi o uso alternado de planos entre médio, gerais e até mesmo close. Planos esses que até então praticamente não “existiam”; um outro ponto que merece destaque é a maneira como Griffth buscou o uso do foco para destacar algo ou objetos que eram importantes para a compreensão da narrativa, além do uso de locações externas e montagens paralelas. A utilizações desses recursos garantiu um ritmo fluído ao longa

Não satisfeito em desenvolver tais inovações, Griffith ainda participou do processo de montagem do filme, auxiliado por Joseph Henabery, James Smith, Rose Smith e Raoul Walsh. Além disso, o diretor abusa de planos e movimentos de câmera ousados para a época, como os impressionantes planos gerais da marcha para o mar e dos campos de batalha, além do uso de travellings, recurso que foi desenvolvido por ele. Na minha próxima postagem, continuarei falando desta obra prima do cinema. Para quem gostou do assunto, meu muito obrigado.

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Cicero Alves
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.
Cicero Alves

Cicero Alves

Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.

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