Uma graphic novel que provavelmente vai se transformar em um filme, se tiver algum produtor interessado. Esta foi a primeira ideia que me ocorreu ao ver a capa do “O Quinto Beatle: A História de Brian Epstein”, empresário que ajudou a impulsionar a carreira do quarteto de Liverpool. Contudo, a história do Brian não é somente um ótimo enredo para uma película, mas também uma fonte de pesquisa que ajudará a entender todo este culto ao grupo.
A obra foi escrita por Vivek J. Tiwary, roteirista de espetáculos da Broadway, como “American Idiot”, inspirado no disco de mesmo nome do Green Day.
A edição brasileira contou com a tradução de Delfin e possui o prefácio assinado por Billy J. Krammer, que também foi empresariado por Epstein, e Andrew Oldham, produtor dos Rolling Stones. O posfácio, por sua vez, teve a contribuição do cartunista Howard Cruse. Para compor o quadrinho, Vivek estudou a vida do Brian e entrevistou pessoas que o conheceram.
O livro é dividido em três partes. A primeira retrata o trabalho na “Nems”, a loja de discos da família dele. Além disso, mostra a sua ida ao Clube Cavern, quando assistiu pela primeira vez a um concerto dos Beatles e ficou encantado com o som da banda. Epstein viu o potencial dos rapazes e se ofereceu para ser empresário deles.
“Toquem seus instrumentos. Eu tocarei os negócios como se fossem o meu instrumento. Mas vocês vão precisar ouvi-lo”, esta é uma das frases da novela gráfica. De fato foi isso que aconteceu. Brian Epstein organizou os trajes e o corte de cabelo do grupo, também foi dele a ordem de que os garotos não bebessem, falassem palavrão ou xingassem nos palcos.
Nesta parte também retrata a dificuldade do grupo a serem aceitos por uma gravadora e realizar o sonho de Brian de fazer com que os Beatles fossem “maiores que Elvis”.
A segunda parte fala da fama que os Beatles alcançaram nos Estados Unidos e a participação do empresário nesta conquista. Por último, retrata a gravação do disco mais importante do grupo, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, e a luta de Epstein contra os seus demônios.
A graphic novel procurou o equilíbrio entre contar o início dos Beatles e a vida pessoal de Brian, sem que uma sobrepusesse à outra. Isto é um ponto positivo da história.
Também mostra que Brian ajudou não somente os Beatles, mas também vários outros artistas, como a cantora Cilla Black, e foi bem procurado na Inglaterra, uma vez que ele era jovem, bem-sucedido e ficou famoso por ser a pessoa que fez com que o grupo inglês e outros artistas crescessem.
Apesar do sucesso e de ser rodeado de pessoas, Brian era uma pessoa solitária, extremamente ansiosa e dependente de remédios. Sofreu diversos preconceitos, uma vez que ele era homossexual (considerado um crime na Inglaterra, naquela época) e judeu. Antes de ser empresário, ele atuou no Exército e foi estilista.
Os quadrinhos foram desenhados por Andrew C. Robinson e Kyle Baker. Possuem traços realistas, pois a intenção era mostrar o caráter dos personagens e o sombreado ajudou a enfatizar as reações e atitudes dos mesmos. Foi feito a lápis e pintado em aquarela e outros tipos de tintas. Isto fez com que a história ficasse cada vez mais realista e tivesse uma forte conexão entre a imagem e texto. Os desenhos, algumas vezes, passaram por edições em programas de imagens.
Apesar de haver personagens e partes fictícias, “O Quinto Beatle” mostra a importância de uma boa gestão de empresário para se ter uma carreira musical de sucesso. Os autores conseguiram retratar e mostrar alguém que dedicou de corpo e alma a algo em que realmente acreditava. Nunca os abandonou, nem nos momentos mais difíceis. Muitos lembram da importância do George Martin, produtor dos discos do grupo e o consideram o verdadeiro quinto Beatle, entretanto esquecem Brian. Recentemente, Epstein foi indicado ao hall da fama do rock and roll, na categoria “Não Artista”.
Vale lembrar que após a morte de Epstein, em 1967, a banda começou a declinar, e em 1970, o grupo se desfez. “Então eu sabia que estávamos em apuros. Eu não tinha nenhuma ilusão sobre nossa capacidade de fazer qualquer outra coisa que não fosse tocar, e eu estava com medo”, disse John Lennon, na década de 70 e esta citação abre a graphic novel.
A história do empresário é contada em 135 páginas e na edição brasileira possui seção de extras com memorabilia do grupo e do empresário, esboços da graphic novel e capas alternativas. Se você quer saber da importância de um homem que dedicou cinco anos de sua vida por uma das maiores bandas da história da música, O Quinto Beatle é uma ótima pedida.
O Quinto Beatle – A História de Brian Epstein
Editora Aleph
Autor: Vivek J. Tiwary
Desenho: Andrew C. Robinson com Kyler Baker
Tradução: Delfin
168 páginas
Preço: R$ 59,90
Natalense, jornalista, gosta de música, livros e boas histórias desde que se entende por gente. Também tem uma quedinha pela fotografia.