É difícil admitir quando um filme tão esperado e bem produzido não atende às nossas expectativas. Dá aquela sensação de “estou virando um espectador de mídia de massa”, mas antes isso que ser hipócrita, certo? Não me entendam mal, o filme britânico “Os Miseráveis” (de Tom Hooper) é bom e merece todos os prêmios técnicos que possa arrebanhar, mas após assisti-lo não entendi muito bem qual foi a da academia encaixando-o na lista dos indicados ao Oscar de Melhor Filme.
Isabelle Allen (a pequena Cossette) e Hugh Jackman, como Jean Valjean |
Na postagem sobre o que esperar do filme fui apenas elogios e estava convicta de que a produção, que se trata de uma adaptação do musical homônimo da Broadway, seria mais uma obra prima do diretor de O Discurso do Rei, Tom Hooper. Contudo, ao que parece, mesmo com todo o elenco, cores, fotografias, locações e excelente produção, Hooper “perdeu a mão” dessa vez, e o resultado é um filme esforçado, mas pouco cativante.
Tenho medo dessa história de adaptações do teatro para as telonas. Às vezes, até dá certo (vide Closer – Perto Demais), mas às vezes o resultado é quase desastroso (vide Carnage, de Polanski). Em Os Miseráveis, nem uma coisa e nem outra. Tom Hooper utilizou-se bem dos artifícios cinematográficos e não se contentou com o fato de o roteiro – vindo do teatro – já estar mais ou menos encaminhado.
Amanda Seyfried como Cossette |
O filme usa e abusa do talento de seus atores e atrizes. Contudo, poucos chamam atenção de fato. Não acho que Hugh Jackman, que interpreta Jean Valjean, tenha sido excelente a ponto de também merecer uma indicação ao Oscar de Melhor Ator. Quem rouba a cena, na verdade, é Anne Hathaway, que mesmo aparecendo apenas na primeira parte do filme e nas cenas finais, demonstra uma maturidade artística que até então eu não conhecia em seu trabalho. Suas cenas são fortes, intensas e sensíveis, e sua versão de “I Dreamed A Dream” não deixa a desejar. À propósito, outra surpresa que tive é que Hathaway acaba se destacando como a melhor cantora de todo o musical, ultrapassando até mesmo os olhinhos brilhantes e técnica vocal da nova queridinha-faz-tudo das Américas, Amanda Seyfried (Cossette).
Anne Hathaway se torna o ponto alto do filme |
Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, como o casal Thérnardier, estão, como quase sempre, esquisitíssimos e excelentes. Ficaram ótimos juntos e são responsáveis pelos poucos risos – em meio a tanto drama – que podemos extrair de Os Miseráveis. Russell Crowe, como o inspetor Javert, disfarça-se atrás da personalidade fria de seu personagem e, dono de uma bela voz, acaba se destacando apenas quando canta. Uma revelação é Samantha Barks, uma inglesa ainda pouco conhecida que interpreta com talento admirável Eponine, e encanta em uma cena em que canta sozinha, não apenas pela técnica vocal, mas pela atuação emocionante que domina paralela a isso.
Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen: perfeitos juntos com os vilões cômicos da história |
Tom Hooper também sabe como utilizar uma fotografia atraente, além de detalhes e técnicas que só são possíveis dentro da linguagem cinematográfica. Mas apesar disso tudo, falha na tentativa de emocionar por exatamente duas horas e trinta e sete minutos. Creio que eu tenha me pegado verificando o tempo restante do filme por pelo menos quatro vezes durante o processo. As cenas musicais (quase o filme em sua totalidade) são demoradas e quando não são acompanhadas por uma atuação excelente (como a de Anne Hathaway) se tornam maçantes e cansativas. Talvez, na tentativa de não desapontar o original da Broadway, Tom Hooper se descuida do que já provou saber muito bem: fazer cinema.
Samantha Barks: a iniciante tem talento de gente grande |
Ao fim da película, a sensação é a mesma que se sente quando encomendamos um trabalho a alguém excelente mas que, ainda assim, não nos devolve o esperado. A frustração de ter um filme tecnicamente excelente, com nomes de peso e talento, mas pouco cativante. Senti falta de uma essência mais comovente. Deixamos a sessão aliviados e pouco transformados.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Aqui ele ainda não estreou, so dia 01/02, mas eu realmente estou esperando muito, muito mesmo. N quero me decepcionar é claro. Espero que eu consiga gostar mais do filme 😀
Idem Raissa Debora xD
Também espero que vocês consigam gostar mais do filme, meninas. Embora eu tenha, sim, gostado, não é um filme ruim, só que esperava mais. Bem mais, na verdade. Bom filme!