Os Miseráveis (2012): bem-feito, enfadonho e superestimado

É difícil admitir quando um filme tão esperado e bem produzido não atende às nossas expectativas. Dá aquela sensação de “estou virando um espectador de mídia de massa”, mas antes isso que ser hipócrita, certo? Não me entendam mal, o filme britânico “Os Miseráveis” (de Tom Hooper) é bom e merece todos os prêmios técnicos que possa arrebanhar, mas após assisti-lo não entendi muito bem qual foi a da academia encaixando-o na lista dos indicados ao Oscar de Melhor Filme.

Isabelle Allen (a pequena Cossette) e Hugh Jackman, como Jean Valjean

Na postagem sobre o que esperar do filme fui apenas elogios e estava convicta de que a produção, que se trata de uma adaptação do musical homônimo da Broadway, seria mais uma obra prima do diretor de O Discurso do Rei, Tom Hooper. Contudo, ao que parece, mesmo com todo o elenco, cores, fotografias, locações e excelente produção, Hooper “perdeu a mão” dessa vez, e o resultado é um filme esforçado, mas pouco cativante.

Tenho medo dessa história de adaptações do teatro para as telonas. Às vezes, até dá certo (vide Closer – Perto Demais), mas às vezes o resultado é quase desastroso (vide Carnage, de Polanski). Em Os Miseráveis, nem uma coisa e nem outra. Tom Hooper utilizou-se bem dos artifícios cinematográficos e não se contentou com o fato de o roteiro – vindo do teatro – já estar mais ou menos encaminhado.

Amanda Seyfried como Cossette

O filme usa e abusa do talento de seus atores e atrizes. Contudo, poucos chamam atenção de fato. Não acho que Hugh Jackman, que interpreta Jean Valjean, tenha sido excelente a ponto de também merecer uma indicação ao Oscar de Melhor Ator. Quem rouba a cena, na verdade, é Anne Hathaway, que mesmo aparecendo apenas na primeira parte do filme e nas cenas finais, demonstra uma maturidade artística que até então eu não conhecia em seu trabalho. Suas cenas são fortes, intensas e sensíveis, e sua versão de  “I Dreamed A Dream” não deixa a desejar. À propósito, outra surpresa que tive é que Hathaway acaba se destacando como a melhor cantora de todo o musical, ultrapassando até mesmo os olhinhos brilhantes e técnica vocal da nova queridinha-faz-tudo das Américas, Amanda Seyfried (Cossette).

Anne Hathaway se torna  o ponto alto do filme

Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, como o casal Thérnardier, estão, como quase sempre, esquisitíssimos e excelentes. Ficaram ótimos juntos e são responsáveis pelos poucos risos – em meio a tanto drama – que podemos extrair de Os Miseráveis. Russell Crowe, como o inspetor Javert, disfarça-se atrás da personalidade fria  de seu personagem e, dono de uma bela voz, acaba se destacando apenas quando canta. Uma revelação é Samantha Barks, uma inglesa ainda pouco conhecida que interpreta com talento admirável Eponine, e encanta em uma cena em que canta sozinha, não apenas pela técnica vocal, mas pela atuação emocionante que domina paralela a isso.

Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen: perfeitos juntos com os vilões cômicos da história

Tom Hooper também sabe como utilizar uma fotografia atraente, além de detalhes e técnicas que só são possíveis dentro da linguagem cinematográfica. Mas apesar disso tudo, falha na tentativa de emocionar por exatamente duas horas e trinta e sete minutos. Creio que eu tenha me pegado verificando o tempo restante do filme por pelo menos quatro vezes durante o processo. As cenas musicais (quase o filme em sua totalidade) são demoradas e quando não são acompanhadas por uma atuação excelente (como a de Anne Hathaway) se tornam maçantes e cansativas. Talvez, na tentativa de não desapontar o original da Broadway, Tom Hooper se descuida do que já provou saber muito bem: fazer cinema.

Samantha Barks: a iniciante tem talento de gente grande

Ao fim da película, a sensação é a mesma que se sente quando encomendamos um trabalho a alguém excelente mas que, ainda assim, não nos devolve o esperado. A frustração de ter um filme tecnicamente excelente, com nomes de peso e talento, mas pouco cativante. Senti falta de uma essência mais comovente. Deixamos a sessão aliviados e pouco transformados.

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Andressa Vieira
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.
Andressa Vieira

Andressa Vieira

Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.

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Raissa Debora
11 anos atrás

Aqui ele ainda não estreou, so dia 01/02, mas eu realmente estou esperando muito, muito mesmo. N quero me decepcionar é claro. Espero que eu consiga gostar mais do filme 😀

Raíssa
11 anos atrás

Idem Raissa Debora xD

Andressa Vieira
Reply to  Raíssa
11 anos atrás

Também espero que vocês consigam gostar mais do filme, meninas. Embora eu tenha, sim, gostado, não é um filme ruim, só que esperava mais. Bem mais, na verdade. Bom filme!

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