Há alguns anos, o universo nerd que engloba quadrinhos, cinema e também as séries de TV vem dividindo o público com algumas decisões relacionadas à representatividade de minorias, com o objetivo de inserir negros, asiáticos e homossexuais, às histórias. Essas ações estão sendo consideradas progressistas por alguns, mas, para outros, são uma afronta aos costumes e descaracterizam os personagens.
O caso mais recente – e que acabou trazendo de volta este assunto – foi a personagem Mulher de Ferro, que substituirá Tony Stark depois dos acontecimentos da Guerra Civil II, cujos eventos já são realidade nos quadrinhos. Depois do anúncio, parte do público se revoltou, dizendo que a troca de personagens não poderia acontecer de forma alguma. Em vez de argumentos, essas pessoas soltaram piadas machistas sobre o caso.
A Mulher de Ferro, Riri Williams, foi desenhada por um brasileiro e terá um título solo nas próximas edições após a Guerra Civil II. Ela é uma adolescente de 15 anos, treinada pelo próprio Stark. A criação da personagem devia ser comemorada, já que, até agora, a única mulher negra bem desenvolvida na Marvel é Tempestade.

Outro caso bastante discutido nas redes foi a ameaça de boicote ao último filme da franquia, Star Wars: o despertar da força porque o personagem Finn, que é negro, estava protagonizando o filme junto com a personagem Rey, que é asiática. Na ocasião, acharam que um ator negro e uma atriz pouco conhecida não dariam certo na franquia, e isso também foi pretexto para piadas inadequadas com ambos.
E quando a ocorrência é ao contrário, ou seja, quando um personagem ou um ator de uma minoria é substituído por um branco, há o whitewashing ou embranquecimento, ninguém se incomoda.
Por exemplo, a adaptação do anime Ghost in the Shell terá Scarlett Johansson como protagonista e, de acordo com alguns, “não há nenhuma atriz asiática boa o suficiente para o papel”. Vocês viram alguma proposta de boicote em resposta a isso? Mas se uma personagem negra é anunciada como sucessora (veja bem, sucessora; não é nem como se o Tony fosse apagado da Marvel), o mundo vem abaixo.

Me digam se houve reclamações quando o Hank Pym – o primeiro Homem Formiga – foi substituído pelo Scott Lang, o segundo deles? Claro que não. Porque a revolta em questão nem é pela mudança, enquanto um homem branco for trocado por outro. Está enraizado pra alguns que o herói tem que ser branco. E a heroína, quando ela existe, é sempre branca, ilustrada com um corpo turbinado e desproporcional. Nos quadrinhos, a mulher “normal” não salva o mundo.
“Ah, mas pra que mexer num personagem tão consagrado; cria um novo então”.
Se criam um personagem novo e as vendas forem mal, não há nenhum interesse. Ou vocês acham mesmo que as editoras estão super engajadas em diversidade, sendo que essa mesma diversidade não é observada no quadro de seus funcionários? É óbvio que as editoras não querem perder dinheiro apostando em material novo para seus leitores, mesmo com uma pesquisa apontando que personagens representantes de minorias estão dando muito certo não só no mundo dos quadrinhos, mas também no cinema e na TV. Um verdadeiro “cala a boca” para os haters de plantão que querem que nós engulamos seu conceito de normatividade garganta abaixo.
A Riri é um pequeno passo. Comemoremos, mas sem esquecer que este ainda é o mundo do OscarSoWhite. Ainda há muito o que se fazer e superar.