Há cerca de três anos, talvez um pouco mais que isso, me deparei com a banda californiana Warpaint e de súbito me envolvi com o baixo marcante de Jenny Lee Lindberg, o canto um tanto blasé e desleixadamente charmoso de Emily Kokal, a guitarra milimetricamente calculada hipnotizante de Theresa Wayman e as marcações da bateria de Stella Mozgawa. Recordo-me de uma ligeira estranheza inicial, para logo cair de amores. O som do quarteto é regado a psicodelismo, indie, pitadas a gosto de pop, referências diversas que vão desde o bucolismo britânico do Radiohead até o desamor contínuo de Cat Power, tudo isso com uma assinatura própria.
A banda lançou em janeiro deste ano o seu segundo disco homônimo, que prontamente ganhou elogios da crítica especializada. Embora “The Fool” (2010) ainda seja meu disco favorito do grupo, “Warpaint” (2014) traz um quê ousado e inovador que o torna irresistível. O tom misterioso está presente no coro das quatro vozes unidas em “Teese” até título do álbum. Ao todo são doze faixas, todas feitas para serem lenta e silenciosamente escutadas pouco a pouco, deixando-se envolver pelos acordes espaçados e baterias eletrônicas.
Diferentemente do trabalho anterior, polido e psicodélico por essência, “Warpaint” mantém bastantes elementos de seu antecessor, porém agora acrescidos de beats de baterias eletrônicas e um verniz trip-hop que por vezes me lembra os áureos tempos do Radioehad, como o caso de “Hi” e “Drive”. Outras faixas soam mais orgânicas e parecem ter sido gravas em um take só, como o caso de “Keep it Heathly” (uma das minhas favoritas do álbum) e “Go In”. Com ou seu psicotrópicos pra acompanhar, ouvir “Feeling Right”, “Love is to Die” e “Teese” pode transportá-lo a lugares idílicos e deixá-lo anestesiado por horas a fio em um eterno looping de sensações.

Lançada ainda em 2013, “Love is to Die” foi o primeiro single do álbum, um belo cartão de visitas para o que estava por vir, com o baixo sensacional de Jenny e a bateria ágil e precisa de Stella, mostrando que são uma das melhores “cozinhas” das bandas atuais. A letra da canção traz uma desilusão amorosa ou um amor sofrível por assim dizer, tema pra lá de recorrente nas músicas das meninas e, por que não dizer, nas nossas vidas. Não por acaso a faixa foi eleita como a porta bandeira do disco, mas talvez seja a mais emblemática e, na minha opinião, uma das melhores músicas que ouvi nos últimos tempos.
O som do Warpaint tem todos os elementos para ser a melhor trilha sonora das madrugadas insones e reflexivas, da estrada e daqueles dias cinzas. Sua protagonista sem sombra de dúvidas é Jeeny Lee Lindberg, que eleva o seu baixo ao instrumento principal da banda. Como poucos musicistas tarimbados, ela toca com uma desenvoltura técnica, sem pretensiosismo, contribuindo com as canções exatamente com o necessário, com elegância e sofisticação, sem soar forçado. O entrosamento de Jenny com a baterista Stella Mozgawa norteiam o som da banda, que ganha corpo e ares místicos e soturnos com as guitarras e vozes de Emily e Theresa, fechando assim uma união frutífera e extremamente criativa.
Ambicioso, mais maduro e talvez mais conceitual que seu antecessor, o homônimo disco das quatro garotas de L.A nos traz uma nova faceta de uma banda que aparentemente tinha gasto todas as suas fichas no debut sensacional. O mérito também deve ser creditado ao genial Nigel Godrich (produtor dos mais emblemáticos discos do Radiohead) que mixou “Love is To Die” e “Feeling Right”, na minha opinião, as duas melhores canções do álbum. Warpaint é uma daquelas bandas cativantes, viciantes e que prontamente se tornam uma de suas favoritas, no entanto, é preciso ter os ouvidos mais atentos e permitir-se embarcar na viagem sonora!
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.