Só Deus Perdoa: no novo filme do diretor de Drive, não há perdão

Drive foi primeiro ovacionado em Cannes, de onde saiu com o prêmio de melhor diretor e longos minutos de aplausos em pé, depois em todo o mundo. Drive é, para mim, o melhor filme dos últimos anos. Então, todos estavam esperando pelo novo trabalho da dupla de Drive, o diretor Nicolas Winding Refn e o ator Ryan Gosling, Só Deus Perdoa (Only God Forgives). Vai ver, esse foi o problema. A expectativa. Explico: o longa foi vaiado e aplaudido em Cannes. As criticas têm sido extremamente negativas, apenas 37% de aprovação no Metacritic, e 35% no Rotten Tomatoes. Ainda no Metacritic, das 38 criticas que o site registra do longa, 18 são negativas, 14 mixas, e apenas 6 positivas. Dessas 6 positivas, Damon Wise do Empire e Peter Bradshaw do The Guardian deram nota máxima ao filme. E eu estou com eles dois, Só Deus Perdoa é uma obra-prima!

Ryan Gosling como Julian, depois de um longo dia de trabalho

Vamos voltar no tempo um pouco aqui. Stanley Kubrick foi indicado ao framboesa de ouro de pior diretor por O Iluminado. O Iluminado, um clássico do terror, que recentemente entrou na lista do Sight and Sound dos melhores filmes feitos. A expectativa para um novo filme do Kubrick devia ser enorme naquela época. Dito isso, voltamos a Só Deus Perdoa.

O longa se passa em Bancoc, e conta a história de Julian (Ryan Gosling), dono de um clube de boxe, que serve como fachada para o tráfico. Seu irmão, Billy, estupra e mata um garota de 14 anos. O policial Chang obriga o pai da garota a matar Billy. Julian vai atrás do pai da garota, mas percebe que o pai não é o verdadeiro culpado, e sim o policial. Estaria criada ai a plot para uma história de vingança, mas não é tão simples assim. Julian se recusa a matar o policial, é quando entra em cena a mãe dele, que veio dos EUA, e questiona o motivo de Julian não ter vingado o irmão. “Ele matou uma garota de 14 anos”, argumenta Julian, “Ele provavelmente teve seus motivos” alega a mãe, Crystal. As cenas entre os dois estão entre as melhores do longa. “Julian sempre teve inveja do irmão, por que o Billy tinha um pau maior”, diz Crystal em uma cena de jantar, onde estão ela, Julian e Mai, uma prostituta de luxo que presta serviços a Julian. Julian não responde à provocação, aliás, quando Mai o questiona por que ele a deixa tratá-lo daquela maneira, Julian pega ela pelo pescoço e a empurra contra a parede, “porque ela é minha mãe”, responde.

Julian e a prostituta Mai

Os personagens do longa não agem de maneira normal, mas sim estilizada, e talvez isso incomode as pessoas. Nicolas pega o estilo de Drive e o leva ao máximo, em uma comparação para os entendedores, Drive é Goodfellas e Só Deus Perdoa é Casino. Julian é o mais estilizado dos personagens, e é perfeito para o estilo de atuação minimalista do Ryan Gosling. Julian está em guerra com ele mesmo, esse é o verdadeiro conflito do filme. Ele fala pouco, acho que se tiver 20 falas no filme é muito, uma das melhores falas, que estava no trailer é “Wanna fight?” (Quer brigar?), que dará inicio a uma das melhores sequência do longa, a luta de Julian contra o policial Chang. Além de ser perfeitamente filmada e coreografada, a trilha da cena é um encaixe perfeito, uma pegada eletrônica que lembra Drive. Cliff Martinez também compositor de Drive, é quem assina a trilha. À propósito, há uma música sensacional no longa, que é tocada apenas no órgão.

A mãe de Julian, Crystal

Mas o que mais chama mais atenção é o estilo de direção do Refn. Ele sempre tem um outro olhar, de como a situação deve ser mostrada. Aqui, ele sempre está filmando a ação através de portas. Tem uma cena, que ele mostra, de dentro das casas, o que acontece numa rua e vemos toda ação através das portas. Há uma contemplação dos ambientes, dos personagens, é como se ele dissesse “Perai, eu quero lhe mostrar uma coisa, de uma maneira diferente e em um tempo diferente”. Podemos dizer que é um filme experimental. Embarcando ou não nessa viagem do Refn, é um filme que deve ser visto. Ah, só mais uma coisa, é bom inteirar que o filme é extremamente violento, com destaque para uma cena de tortura…

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Jonathan De Assis
Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.
Jonathan De Assis

Jonathan De Assis

Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.

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