Casio, um não-humano, e P.C., um tipo nerd cientista, são uma dupla em uma missão. Eles devem entrar na mente de Mateus, que está em coma profundo, em um hospital na cidade do Natal. Uma tempestade violenta está a caminho da cidade, e Mateus tem algo a ver com isso, pois seus terríveis pesadelos passam para o mundo real, e para complicar a situação, na mente de Mateus há uma criatura que o persegue para utilizar seu poder. Esta é a armação inicial de Tempestade Mental: Ano Zero, nova HQ do selo potiguar de quadrinhos K-Ótica, que será dividida em seis partes. A primeira será lançada na noite de hoje, 16, às 19h, na Livraria Nobel (Salgado Filho, 1742, ao lado do Midway Mall).
Devido ao seu conteúdo e idiossincrasias as histórias de fantasia e ficção cientifica têm uma dificuldade a mais, precisam apresentar seu mundo ao leitor/público, e o deve fazer usando a máxima para narrativas visuais (quadrinhos, cinema): “Mostrar e não dizer”.
Nesse ponto, a dupla de autores, Renato Medeiros (roteiro) e Rodrigo Xavier (desenho), peca. Apesar de ser uma dupla, Casio e P.C. parecem não saber nada sobre o que o outro fará. Em plena missão um precisa explicar ao outro o que está fazendo, sendo um fraco recurso narrativo usado para explicar a história ao leitor. Há um diálogo entre os dois que P.C. reclama que Casio nunca lhe conta nada, então Casio decide contar dessa vez. É um diálogo que tenta justificar o excesso de explicações.
Mas não existem apenas problemas. Há excelentes passagens, principalmente as dos sonhos. A sequência inicial que introduz o personagem Mateus e seus sonhos bizarros, por exemplo. E há inserções (“insert shot”) bem interessantes, como a do carro despencando e de um carrossel aparecendo no meio do nada, que criam esse mundo de mistura de sonhos e realidade.
Com a apresentação da história concluída, vem o segundo ato, a confrontação, o drama: Casio dentro da mente de Mateus e P.C. sofrendo com as estranhas coisas que acontecem no hospital. O arco de Casio nos sonhos de Mateus apresenta sequências visualmente interessantes, principalmente quando ele ainda está perdido no emaranhado de pensamentos. Mas o embate com a criatura deixa a desejar, sendo esta vencida facilmente e de forma bem cafona.
No arco de P.C. não há um bom casamento de texto e desenho. Ele precisa fugir do hospital, então vê uma janela, e o desenho já deixa bem claro isso, mas vem um balão de pensamento “Uma Janela! Posso passar por ali e chegar ao carro!”, e quando ele está correndo em direção ao carro, ambos estão em quadro, vem o balão “Ainda bem! Está aqui!”. O texto nessas passagens sempre está dizendo o óbvio.
Um bom uso de linguagem dos quadrinhos torna possível perceber qual dos dois elementos está informando o principal: texto ou desenho. Quando o desenho passa a informação necessária, deixa o texto livre para informar outra coisa, ou ser mais poético, e o contrário também, se o texto passa a informação necessária deixa o desenho livre.
Mas apesar dos problemas, Tempestade Mental: Ano Zero ainda é uma boa leitura, deixando bons elementos que me fazem querer ler o segundo volume, Ano Um. Vamos ver se agora, com os elementos base apresentados, a história conseguirá fluir sozinha, sem tantas explicações.
SERVIÇO
Tempestade Mental – Ano Zero (K-Ótica)
Livraria Nobel (Salgado Filho, 1742)
Sexta-feira, 16, Às 19h
Valor: R$ 10
Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.