Muitas expectativas pairavam em torno do novo filme dos mutantes mais famosos dos quadrinhos. Positivas ou negativas, essas expectativas chamavam muita atenção para Bryan Singer (Operação Valquíria), que retorna à direção 11 anos após X-Men 2. Enfim, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido chegou para se firmar não só como o melhor episódio da franquia, mas como o melhor filme de super-heróis do ano até o momento.
Após Mística (Jennifer Lawrence, Trapaça) matar o cientista Bolivar Trask (Peter Dinklage, Game of Thrones) nos anos 1970, o governo americano desenvolveu as Sentinelas, robôs gigantes que identificam e matam mutantes. Passados 50 anos do assassinato, Professor Xavier (Patrick Stewart, X-Men: O Confronto Final) e Magneto (Ian McKellen, O Hobbit: A Desolação de Smaug) juntam forças para lutar contra o governo e evitar o extermínio de sua espécie. Investidas em vão, surge a última chance dos X-Men: enviar Logan/Wolverine (Hugh Jackman, Os Suspeitos) ao passado para que ele convença os jovens Xavier (James McAvoy, Em Transe) e Magneto (Michael Fassbender, 12 Anos de Escravidão) a impedirem o assassinato de Trask no intuito de reescreverem o futuro.
Comecemos pelos pontos fracos… Dias de um Futuro Esquecido é a quinta película do grupo de mutantes, e a sétima considerando as duas aventuras solo de Wolverine. Por isso, é importante estabelecer o que deve ou não influenciar seus acontecimentos. Assim, a produção de 2014 não sabe se posicionar dentro da cronologia da série cinematográfica e se atrapalha ao tentar ser, simultaneamente, recomeço e continuação da franquia.
Isso é facilmente percebido ao examinar acontecimentos dos filmes anteriores. Por exemplo, o desfecho para o Professor Xavier em X-Men 3: O Confronto Final o impediria de estar no novo filme como o vemos em tela. O roteiro de Simon Kinberg (Sherlock Holmes) não só ignora esse fato como opta por não explicar a volta do líder dos mutantes na forma que gostaríamos de vê-lo. O fato da história começar no futuro repleto de Sentinelas não dialoga com o presente da trilogia inicial, que não trazia os robôs com a relevância que temos aqui. Além disso, um importante acontecimento no fim de Wolverine – Imortal é completamente ignorado, embora não afete tanto como a presença de Xavier.
Para tentar trazer os elementos necessários para a boa trama, o roteiro só considera dos episódios anteriores o que lhe é conveniente. Dito isso… Simplesmente tive uma das melhores experiências cinematográficas do ano até o momento. Sensacional!
Kinberg tinha em mãos uma história madura e complexa. Mesmo assim, ele conseguiu estabelecer um bom produto de super-heróis com conteúdo. É verdade que as cenas de ação praticamente dão lugar a algo mais cerebral. Porém, nós temos verdadeiros motivos para que elas aconteçam, e não tolos pretextos. Destaque para a incrível cena de Mercúrio, realizada de forma inteligente com o Super Slow, enriquecendo o filme e não despejando a tecnologia aleatoriamente. Outro ponto positivo do roteiro é a forma como ele costura as tramas do presente e do passado de forma simples e de fácil entendimento.
Quanto mais próximo do fim, mais vezes o foco da história transita entre os dois tempos. Mérito dividido com a montagem de John Ottman (Operação Valquíria) e do estreante Michael Louis Hill, que consegue organizar as cenas de forma lúcida e de maneira que o espectador jamais deixe de entender o que vê em tela, principalmente nas sequências de luta onde cada mutante utiliza seus poderes. Um dos melhores trabalhos do ano na categoria.
O elenco brilhante também merece destaque. A produção não poderia ter escolhido um personagem melhor para ligar os dois tempos. Ainda mais porque, a cada filme, Jackman está mais dentro de Wolverine, o mais carismático dos mutantes nos cinemas. Mesmo assim, o grande nome é McAvoy. O ator escocês consegue mergulhar no psicológico ferido de Xavier levando-o à tristeza convincente e fazendo-o ressurgir de forma natural e elegante. Suas aparições ao lado do estupendo Fassbender chamam a atenção por si. Os dois trazem tanta força em tela que conseguem “ofuscar” Hugh Jackman.
Já Lawrence não tem tanto espaço aqui, mas consegue desenvolver sua Mística em relação ao X-Men: Primeira Classe. Dos demais atores, boa participação de Dinklage, contido e eficiente, e de Stewart e McKellen, que trazem segurança e experiência em suas atuações.
O grande nome dessa película, porém, é Bryan Singer. O amadurecimento como diretor foi perceptível quando este brinca com a linguagem cinematográfica ao transitar de câmeras de ultima geração para filmagens realizadas em Super 8, na cena de Mercúrio e nas sequências de luta com suas criativas coreografias. Singer apenas falha ao posicionar o novo filme dentro da franquia, mas essa falha reflete o sacrifício da produção em “apagar” seus erros, recolocando a série cinematográfica dos mutantes nos trilhos.
X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é um grande trabalho que me arrebatou por completo. Com ação na medida certa e uma trama impecável, fui “convidado” a me sentir parte da trupe do Professor Xavier. A empolgação foi tamanha que a vontade era de rasgar a camisa dentro do cinema e correr pela sala com as garras de adamantium de fora… Mas o bom senso (por incrível que pareça) falou mais alto. Como 300 me instigou a ser um espartano, o novo X-Men me instigou a ser mutante. Isoladamente, a obra é irretocável. Pena que ao avalia-la eu não possa ignorar o universo onde está inserida.
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!