A Grande Aposta conta os bastidores de uma das maiores crises financeiras da economia norte-americana que logo respingou em todo o mundo. O diretor Adam McKay construiu sua carreira no programa de TV Saturday Night Live e fez seu nome em Hollywood com comédias como O Âncora, Quase irmãos e Os Outros Caras, todos em colaboração com Will Ferrel. À sua disposição, um elenco de dar inveja a qualquer indicado ao Oscar: Steve Carrel, Christian Bale, Ryan Gosling e Brad Pitt (que também é produtor do filme).
Steve Carrel é o centro moral do filme, um agente financeiro que se revolta pela forma como os bancos deixaram, de forma tão irresponsável, isso acontecer. Mesmo ganhando dinheiro com isso, vemos um personagem se desencantar com sua profissão e, para ser bem franco, com a humanidade.
Ryan Gosling é o oportunista, um bancário que, por acidente, descobre o que está por vir e resolve ganhar o seu. Brad Pitt é o guru que ajuda dois jovens aprendizes que também veem a oportunidade de lucrar em cima dos bancos que estão para quebrar o país. Oferecendo uma perspectiva mais social, o personagem dele procura não se envolver, atuando apenas como conselheiro. Christian Bale é o excêntrico. Um médico, gênio dos números que atua no setor financeiro. É o primeiro a enxergar o que está por vir e quem começa todo o processo que leva os outros personagens a entrarem no jogo.
O filme traz uma linguagem fotográfica quase documental, os planos não são convencionais, a câmera está sempre se movendo e constantemente procurando o foco. Pode até parecer acidente, mas não é. Esses caras descobriram que a crise ia acontecer antes de todo mundo e mal podiam acreditar, a fotografia do filme apenas reflete a internalização de cada personagem diante dos fatos.
O ponto forte de A Grande Aposta é não se levar a sério demais (um diretor com o background de McKay colabora bastante para isso). Com um bom número de personagens e tratando de um assunto um tanto técnico, o filme oferece uma armadilha para o espectador mais distraído perder o fio da meada e consequentemente o interesse. Mas a linguagem leve, a edição ágil e os recursos utilizados para explicar melhor todos os termos econômicos e bancários postos no filme acabam compensando e tornando o filme atrativo.
Se você não viu ainda, eu te aconselho a tirar 10 minutinhos para ler sobre a crise imobiliária e econômica na terra do Tio Sam. As explicações de Margot Robbie e Selena Gomez (como elas mesmas!) são úteis e incentivam a empatia e engajamento do espectador, mas um conhecimento prévio do assunto fará o filme fluir melhor para qualquer um.
A Grande Aposta pode não ser o filme do ano. Indicado a cinco Oscars (inclusive o de melhor filme), é possível que não leve nenhum (ou que, quem sabe, venha a surpreender). Mas é um refresco cinematográfico, repleto de uma linguagem própria e inovação narrativa que merece ser visto naquela maratona antes da premiação.