Transmitir a realidade da guerra, principalmente a mais famosa delas, é um desafio para qualquer diretor. Em Até o Último Homem, além desse desafio, ficam tão evidentes as características que marcam bastante o diretor Mel Gibson, que ganha até um certo charme. O protagonista é um religioso, e também há a violência extrema inerente do meio de guerra. Ambas as características – o extremismo religioso e a violência – podem ser vistas no cotidiano do diretor por manchetes e polêmicas em que o astro está envolvido.
O filme narra a história real do médico de guerra Desmond Ross (Andrew Garfield), que o primeiro membro do exército americano a ser um Opositor Consciente (o soldado que se recusa a pegar em armas e matar outras pessoas). Mesmo sendo considerado um “desertor”, Desmond salva cerca de 75 homens na Batalha de Okinawa, durante a Segunda Guerra Mundial.
Filme sobre guerra o cinema está lotado. Mas é aí que entra a genialidade deste longa, já que ele explora o protagonista desde a infância e o insere na guerra por motivos não tão óbvios à primeira vista, já que só o espectador descobre os reais motivos no decorrer da história. Além disso, há claras referências ao clássico de Kubrick, Nascido Para Matar (1987), e a cenas de batalha que lembram bastante O Resgate do Soldado Ryan (1998), embora o charme mesmo de Até o Último Homem esteja em como a história é desenvolvida e a clareza técnica colocada à prova.
A maneira com que a história te leva de um ponto a outro é impressionante, não há qualquer pudor de tirar o espectador de um ambiente lindo para um totalmente hostil onde a morte é totalmente inevitável. Todavia isso não chega a ser um ponto negativo à trama, já que é totalmente plausível esse choque de realidade que a obra provoca.
Como tantos outros filmes indicados este ano, esse entra, indubitavelmente, na categoria de inspirador. Os meios justificaram os fins do protagonista, até porque mesmo não portando uma arma ele conseguiu salvar vários de seus colegas de batalhão. Palmas merecidas também a Andrew Garfield, superando expectativas quanto a seu trabalho mais famoso e o pior de todos: o horrível Peter Park que ele interpretou na trilogia O Espetacular Homem Aranha.
Transformar o visceral em belo não é trabalho pra qualquer um. Mel Gibson literalmente fez arte com esse filme e pôs a prova que ele tem genialidade bastante para isso. Em suma, é mais um filme de guerra que foi bem executado, tanto em questões técnicas quanto narrativas.
Jornalista em formação, fluente em baianês e musicalmente conduzido no dia a dia