“Um filme apaixonante”, essa é a definição do cineasta Walter Salles para o filme “Depois de Maio” do diretor Olivier Assayas, que estreou dia 14 de novembro. Sim, posso assegurar que a definição do famoso cineasta dosou bem o que “Depois de Maio” representa: um filme encantador.
Ambientado na França, começo dos anos 70, Assayas desenha o sentimento e o momento pós-revolução de maio de 68, momento de protestos estudantis e greve da classe operária francesa. O filme, em sua essência, é leve e possui uma verdade que inebria desde o primeiro minuto. Esta característica vem principalmente da escolha do diretor por pessoas que não eram atores para compor a maior parte do seu elenco.
O que mais me surpreende na trama é a atualidade do tema com a realidade explosiva dos últimos protestos do Brasil, a participação estudantil francesa de 40 anos atrás nos elucida o quão despolitizado foi o povo brasileiro na maior parte da sua história contemporânea. O longa é celeiro de temas como aborto, liberdade sexual, psicodelia e cinema experimental como forma de crítica ao cinema capitalista burguês.
Como personagem central, o jovem Gilles é cortado pelas suas maiores dúvidas: seguir na luta coletiva ou dedicar-se ao seu projeto individual de artista, querela íntima vivenciada pela maioria dos outros personagens. Neste ponto, Assayas nos provoca a atemporal reflexão: até onde vai a luta social puramente coletiva? Despe assim a fantasia das revoluções sociais e aponta-nos como principais motivos para o seu esmorecer os desejos e objetivos individuais inerentes ao homem social.
Destaque primordial para a trilha sonora de “Depois de Maio” que cuidadosamente foi regada com clássicos da música setentista como “Know” de Nick Drake, “Why are sleeping” de Robert Wyatt e aquela que foi responsável pelo meu maior interesse no filme: “Terrapin”, do gênio da psicodelia Syd Barret.
Depois de Maio tem cara de filme “anos 70” mesmo, juraria pela sua fotografia que o mesmo não fora filmado nos tempos atuais, esta é a sua maior perfeição e delicadeza. Sensível, é um convite ao deleite da época que eu sempre quis viver.
Mãe de Maria Anita, advogada por formação, na poesia tem um pé, na música o coração.