Embora se trate de uma premiação dos colonizadores britânicos, o Bafta tem se mostrado, nos últimos anos, uma boa medida para o principal prêmio do cinema americano, o Oscar. Embora sempre mais sensato, os principais prêmios tendem a se repetir, e foi assim nos últimos dois anos com o prêmio de Melhor Filme. Em 2012, “O Artista” foi o eleito pelo Bafta e, no mesmo ano, mesmo com suspeitas de que os americanos não se renderiam a uma produção francesa, o filme protagonizado por Jean Judardin também arrebanhou o Oscar. Um ano depois, em 2013, “Argo“, de Ben Affleck, também embolsou o prêmio principal nas duas entregas. E ao que tudo indica, o feito se repetirá esse ano: “12 anos de escravidão“, favorito ao Oscar, recebeu dos britânicos, no último domingo, 16, o prêmio de melhor filme da British Academy Film Awards.
À propósito, pareceu-me que a Academia britânica também entrou na onda de aproveitar o apelo de “12 anos…” para se redimir com os negros. Digo isto pois, além de consagrar “12 anos…”, o Bafta concedeu mais dois prêmios a atores negros: Chiwetel Ejiofor (12 anos de escravidão) levou a estatueta (belíssima, diga de passagem) de melhor ator, derrubando nomes como Tom Hanks (Capitão Phillips) e Leonardo Dicaprio (O Lobo de Wall Street); e o somali Barkhad Abdi (Capitão Phillips) arrebatou melhor ator coadjuvante, desbancando Daniel Brühl (de Rush, que felizmente foi lembrado nessa premiação) e Michael Fassbender (12 anos de escravidão).
Os prêmios femininos, por sua vez, foram mais previsíveis. Cate Blanchett acabou – merecidamente – levando mais um por sua performance arrasadora como Jasmine, de Blue Jasmine, provando que as recentes polêmicas envolvendo o nome de Woody Allen (leia aqui e aqui) não chegaram, ao menos nas terras da rainha, a atingir a atriz. Já o prêmio de atriz coadjuvante acabou indo para Jennifer Lawrence, tornando a disputa mais difícil entre a nova queridinha de Hollywood e Lupita Nyong’o, com o agravante de ainda contar com uma experiente e competentíssima Julia Roberts (Álbum de Família) como concorrente. Mas nesse round, o prêmio ficou mesmo com a menina Lawrence.
“Gravidade”, que divide a nacionalidade britânica com os Estados Unidos, também brilhou no Bafta, levando o prêmio de melhor diretor para Alfonso Cuarón e melhor filme britânico. Além disso, também arrebanhou outros quatro prêmios em categorias merecidas: fotografia, efeitos visuais, trilha sonora original e som. Como tem sido previsto, “Gravidade” sai campeão em categorias técnicas e de quebra o filme também conseguiu consagrar a coragem e a inovação de seu diretor, Cuarón.
Algumas categorias também surpreenderam positivamente – ao menos a mim. Foi o caso da categoria “melhor roteiro adaptado”, em que “Philomena” venceu, derrubando O Lobo de Wall Street e o próprio 12 anos de escravidão. Na categoria de melhor roteiro original, Trapaça levou a melhor contra Gravidade, Blue Jasmine e Nebraska, embora não tenha sido exatamente uma surpresa. O forte de David O. Russell sempre foram os roteiros, e o de Trapaça chama atenção, embora, por muitas vezes, me pareça um tanto desnorteado. Trapaça levou ainda o prêmio de melhor maquiagem. Esse acredito ter sido injusto, principalmente quando se tem na lista de concorrentes “O Hobbit: A Desolação de Smaug”.
O exagerado e alegórico Baz Luhrmann também foi lembrado no que sabe fazer de melhor, e o seu “O Grande Gatsby” acabou levando os prêmios de figurino e direção de arte. Outra boa surpresa foi a premiação do eletrizante filme “Rush” na categoria de melhor edição, contra Gravidade e O Lobo de Wall Street. Apesar da difícil escolha, acredito que foi uma vitória justa, e fiquei contente por Rush ter sido lembrando na premiação.
Por fim, se torna quase desnecessário falar que a nova produção da Disney, “Frozen”, levou mais um prêmio de melhor animação. Após ser contemplado em todas as premiações do gênero, inclusive no Annie Awards e no Globo de Ouro, o Oscar teria que ir muito na contramão para não dar uma estatueta às irmãs Ana e Elsa.
O Bafta se mostrou, novamente, uma das premiações mais sensatas do cinema e por isso sempre faço questão de escrever sobre ela. E claro, o glamour das divas com sotaque britânico e a elegância dos gentlemen sempre ajudam.
Confira aqui a lista completa de vencedores do BAFTA 2014.
Jornalista, cinéfila incurável e escritora em formação. Típica escorpiana. Cearense natural e potiguar adotada. Apaixonada por cinema, literatura, música, arte e pessoas. Especialista em Cinema e mestranda em Estudos da Mídia (PPgEM/UFRN). É diretora deste site.