A história do Cinema Expressionista Alemão, Parte I

No início do século XX, mais precisamente na primeira década, o cinema alemão era relativamente incipiente em termos de produção, e sua relevância à esfera europeia era mínima – levando em conta os prolíferos cinemas francês e dinamarquês. As películas germânicas desse período se limitavam a reproduzir os maneirismos recorrentes do “cinema de atualidades”, filmes documentais que retratavam a pompa cotidiana da casta aristocrática daquele país, e seu maior baluarte, o cáiser Guilherme II, o primeiro grande “astro” do cinema alemão.

Passada essa primeira década, o cinema mundial reorganizou suas estruturas de produção, e verticalizou a sua relação com outras esferas artísticas, tal como a dramaturgia e a pintura; essa, em especial, foi um solo fértil para o surgimento de diversas escolas estéticas, dentre as quais, destacou-se, o expressionismo, um estilo caracterizado pelo uso extático da cor e a distorção emotiva da forma, ressaltando a projeção das experiências interiores do artista no espectador.

A raiz dessa estética estava intrinsecamente ligada ao romantismo, um movimento literário que teve seu limiar na Alemanha através do escritor Johann Wolfgang von Goethe, em sua obra “Os Sofrimentos do Jovem Weather”, que influenciou na concepção de “dor do mundo”, um conceito que os artistas românticos aplicavam a suas obras, que pode ser interpretado como o “desterro do homem frente ao ambiente que lhe é dado a viver”.

 

A melancolia presente nesse ideal imagético-literal encontrou seu eco em uma sociedade alemã horrorizada pelas catastróficas consequências trazidas pela Primeira Guerra, que praticamente excluiu as produções do país dos circuitos internacionais.

Devido ao isolamento político e cultural sofrido nesse período, a industria cinematográfica alemã passa a suprir sozinha o seu mercado interno (até então, apenas 10% dos filmes exibidos eram nacionais). As obras produzidas durante a guerra apresentavam temáticas ufanistas, de edificação moral, como forma de elevar a auto-estima das tropas e do povo, cada vez mais quebrantado frente a iminência da derrota.

 

É no fim da guerra que é criada a UFA (Universum Film Aktien Gesellschaft), uma companhia destinada a centralizar e fortalecer a produção/distribuição cinematográfica, profundamente prejudicadas pela campanha anti-germânica encabeçada por Hollywood. É válido frisar que boa parte do capital empregado na UFA provinha de investimentos privados das classes abastardas, classes essas, influenciadas pela arte expressionista, que cada vez mais, entrelinhava-se com categorias de arte além da pintura, literatura, música, e, como veremos posteriormente, o cinema.

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Fernando Lins
Abandonou a escola logo cedo porque não conseguia aprender nada. Cursou História na UFRN, para mais uma vez descobrir que as instituições de ensino são “gulags” que destroem todo e qualquer sentido genuíno de saber. Hoje, exilado em Campina Grande-PB, dedica-se ao anarquismo espiritual.
Fernando Lins

Fernando Lins

Abandonou a escola logo cedo porque não conseguia aprender nada. Cursou História na UFRN, para mais uma vez descobrir que as instituições de ensino são "gulags" que destroem todo e qualquer sentido genuíno de saber. Hoje, exilado em Campina Grande-PB, dedica-se ao anarquismo espiritual.

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