Além do clichê: a juventude escrita por John Green

Não muito diferente da sua fórmula já convencional, a juventude escrita por John Green é cheia dos mais simplórios clichês. A escola que não satisfaz, os amigos que mudam ao longo dos anos, os novos amigos que descobrimos nesse meio tempo, as encrencas, as dúvidas, o espírito de aventura, a impulsividade, o amor… A princípio tudo do mais do mesmo. A juventude escrita por John Green é a que todos – fora e dentro dos Estados Unidos – imaginamos conhecer. Somos, ao longo dos anos, bombardeados com imagens e sons que nos dizem sobre esses jovens tão “comuns”, que acham o ensino médio o auge da vida e que popularidade e felicidade são a mesma coisa.

Cidades de Papel (2013, Intrínseca) poderia ser muito bem mais um livro assim, e é um pouco, mas com um diferencial: a juventude escrita por John Green. Tudo o que eu disse antes é bem verdade, mas que a vida é cheia dos mais salientes clichês, todo mundo sabe. O interessante é que a literatura do João, podemos chamá-lo assim, tem um carisma que aproxima o leitor da sua obra. Assim como A Culpa é das Estrelas consegue laçar o leitor pelo drama, em Cidades a gente é pego pela curiosidade do que vai acontecer e muita comédia. Sim, muita comédia.

Imagem: psychobooks
Imagem: psychobooks

Quentin Jacobsen, mais conhecido como Q., é o jovem narrador e personagem principal desta obra. Estando no seu ultimo ano de colegial, aparentemente ele é só mais um caricato nerd norte-americano, insatisfeito com a escola e completamente apaixonado pela garota mais popular do colégio. Margo, é, nas palavras de Q., o seu milagre. “Na minha opinião, todo mundo tem seu milagre (…) Meu milagre foi o seguinte: de todas as casas em todos os condados da Flórida, eu era vizinho de Margo Roth Spiegelman”.

John Green, escritor norte-americano
John Green, escritor norte-americano

A trama dessa história se passará através do desaparecimento de Margo, que já é famosa na cidade por sumir e deixar pistas indecifráveis do seu paradeiro. Quentin, ao lado dos seus dois melhores amigos, Radar e Bem, tentarão desvendar não só a localização dela nessa aventura, como também o porquê desse espírito inquieto e cheio de liberdade que a garota possui.

Margo sumia com tanta frequência que ninguém organizava campanhas no colégio para encontrá-la ou coisa parecida, mas todos sentíamos sua falta.

Porém, o que parecia ser uma caçada a uma menina encantadora e com problemas familiares, passa a se tornar uma perseguição a um mistério. “Nem tudo o que parece, é”, isso é o que você vai aprender com a obra. Para descobrir o paradeiro dela, Q. terá que pensar como ela. E isso, eu logo afirmo, abrirá uma porta para os seus próprios questionamentos, sejam de caráter de valor ou de sentimento. “Cidade de papel” é um termo que faz referência a uma antiga técnica que cartógrafos faziam em seus mapas, escrevendo neles cidades que não existem na realidade, para assim, caso outra pessoa tente imitá-lo, essa armadilha possa ser identificada.

Você vai para as cidades de papel e nunca mais voltará.

Margo deixou pelo caminho alguns rastros de seu mergulho no mundo, tais como um recado dentro da porta de Quentin, e também alguns trechos do poema “A Canção de Mim Mesmo”, de Walt Whitman, inspirando-o a não desistir de encontrar as respostas que tanto o incomodam.

Vai ser difícil você saber quem sou ou o que estou querendo dizer…
Não me cruzando na primeira não desista,
Não me vendo num lugar procure em outro,
Em algum lugar eu paro e espero você.

– A Canção de Mim Mesmo, de Walt Whitman

A comédia é o ponto forte dessa obra, pois os amigos de Q. são tão espontâneos – e por que não dizer estranhos – que não há como não nos divertimos. Radar é o nerd informatizado, sempre antenado e que responde tudo; Bem é o nerd dos videogames, preguiçoso crônico e um virgem desesperado. Ao lado deles, Quentin cruzará os EUA para ouvir da boca de Margo todas as respostas para as suas questões, incluindo seu amor platônico nessa balança.

Tais questionamentos sobre liberdade, o amadurecimento da sexualidade e os elos da amizade me fizeram refletir. Será mesmo tão inocente e clichê a literatura do João? Pergunto-me isso porque no fim eu vi personagens extremamente complexos, que estão tanto em crescimento emocional como intelectual. Cidades de Papel me fez rir muito, porém, mais do que isso, me fez entender que toda juventude é um mistério a ser decifrado, que o destino deixa pistas no meio do caminho e cabe a nós pegar a estrada e atravessar, mesmo que seja o país, para descobrir as respostas que mais cobiçamos.

O autor, que também tem uma página no YouTube chamado “Vlogbrothers”, falou um pouco sobre o livro. Aviso: é melhor você ir pausando o vídeo, pois o João as vezes fala mais rápido que o Eminem. (risos)

Imagem: psychobooks
Imagem: psychobooks

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Gustavo Nogueira
Estudante de jornalismo, com um tombo por cinema e literatura. Curte um festival de música assim como um bom gole de café. Enquanto não acha seu meu rumo, continua achando que é a pedra no meio do caminho.
Gustavo Nogueira

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Estudante de jornalismo, com um tombo por cinema e literatura. Curte um festival de música assim como um bom gole de café. Enquanto não acha seu meu rumo, continua achando que é a pedra no meio do caminho.

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