Anna Zêpa, o amor e a arte na estrada entre Natal e São Paulo

Ela tem 30 anos e mora em São Paulo, sendo natural de Natal-RN. Estudou no colégio Henrique Castriciano e se formou em Publicidade e Propaganda pela Universidade Potiguar. Em Natal, foi gerente de marketing da Destaque Promoções, onde trabalhou por 5 anos. Sua formação como atriz se iniciou quando ela se mudou pra SP. Estudou por 2 anos no Globe-SP, participou e participa de diversas oficinas e workshops ministrados por grupos de teatro como o potiguar Clowns de Shakespeare e o dinamarquês Odin Teatret.

Além de atriz, é poeta e produtora cultural.  Em  2012 fundou, ao lado da portuguesa Tânia Reis e do paulistano Galileo Gagliardi, a companhia de teatro “as de fora”, que tem em seu repertório o espetáculo “ninguém no plural” , adaptação de contos do escritor moçambicano Mia Couto – Direção de Rita Grillo. “as de fora” também atua como produtora cultural e há 2 anos é responsável pela produção da Balada Literária, evento realizado e idealizado pelo escritor Marcelino Freire. Em 2013, ela publicou, pelo selo doburro, o livro ”primeiro corte”, uma seleção de poemas autorais. O nome dela é Anna Zêpa e conversei com ela sobre tudo isso, essa vida linda de trabalhos maravilhosos.

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O CHAPLIN: O seu livro, Primeiro Corte, é uma antologia de poemas seus, todos curtos. Existe alguma explicação pra essa tendência a escrever poesia curta?

Gosto do conciso que muito me diz. Talvez a passagem pela propaganda tenha me deixado essa característica. Me interesso pelo efeito do poema curto, de tudo que se consegue dizer em poucas palavras.

 994061_552089258217798_439921967_nO CHAPLIN: Em São Paulo, sempre vemos você participando de slams e tudo o mais. Qual a importância desses eventos literários pra você?

Na verdade eu participo mais do Menor Slam do Mundo, pela própria característica do meu texto. Nos slams – batalhas de poesia falada – é possível entender como a nossa poesia chega para o outro de maneira rápida. Esse tipo de evento também instiga a produção. Acabo querendo escrever mais para “testar” mais . Ao mesmo tempo, tem poesia que não tem o mesmo efeito da escrita.

O CHAPLIN: A balada literária é um festival literário que agita a cena cultural de São Paulo desde 2006, inventada e guiada pelo incansável Marcelino Freire. Como é participar da produção de um evento com essa importância e beleza?

É extremamente inspirador. Marcelino Freire tem uma teimosia contagiante e isso é importantíssimo no meio da produção cultural. Muita arte e muitos nomes envolvidos em sete dias de evento. É lindo.

''ninguém no plural''.  foto: Mauricio Pisani
”ninguém no plural”.
foto: Mauricio Pisani

 O CHAPLIN: Como nasceu o grupo As de Fora? 

Eu, Tânia e Galileo estávamos envolvidos em outro projeto com mais 3 pessoas, porém haviam divergências em relação ao que queríamos fazer. Resolvemos sair desse projeto e naturalmente rolou essa nossa junção. Eu estava super inquieta querendo fazer um espetáculo, com a justificativa de buscar minha formação no próprio mercado. Levantei a bola da minha louca vontade. A Tânia tinha ideia de fazer uma peça com um texto português, de Pedro Eiras, para ser dirigida pelo Roberto Lage. E tínhamos ainda a Balada Literária conosco, então só nos restava tentar andar pra frente com esses 3 projetos. E assim vem se configurando a atuação de “as de fora”.

O CHAPLIN: Recentemente, você participou de uma peça teatral chamada Ninguém no Plural, que teve uma resposta de público muito grande. A peça homenageava Mia Couto e o próprio estava lá na platéia, aplaudindo vocês. Qual é o sentimento de ter seu trabalho tão bem reconhecido (pelo menos naquele exato momento)?

“ninguém no plural” pra mim é um espetáculo realmente especial. É meu primeiro profissional, onde consegui unir pessoas que admiro, envolvidas e trabalhando no projeto com um texto de um cara sensacional. Estreamos e cumprimos temporada em São Paulo, no Sesc Consolação. O nome de Mia Couto causa um certo burburinho e, acho que unido a todas as pessoas envolvidas na montagem do espetáculo, a nossa temporada se esgotou desde a primeira semana. Ter o próprio autor na plateia duas vezes é algo bem difícil de colocar em palavras. Ele é muito humilde, gente como a gente, e olha para o trabalho do outro com bastante respeito; olha para alguém que também está realizando um trabalho. Durante a temporada tivemos ainda uma série de bate-papos em torno da obra dele. Os bate-papos tiveram curadoria de Marcelino Freire e participaram nomes como Gero Camilo, Noemi Jaffe e Andrea Del Fuego; também foi uma honra tê-los em nossa plateia e ouvi-los após os espetáculo. Ainda estamos no começo da nossa trajetória e talvez seja cedo pra falar em algo “tão bem reconhecido”.

por Renan Rego - 2013

 O CHAPLIN: Você nasceu em Natal, uma grande cidade pequena, e foi pra São Paulo, com seus gigantes prédios impunes e seu céu cinza. Como você se sente em cada um dos locais? Como é sua arte em Natal e sua arte em São Paulo? Ela sofre mudanças?

Estou em São Paulo há 5 anos. Natal e São Paulo são cidades muito diferentes em suas essências e no que também significam pra mim. É difícil comparar as 2 cidades. Sofro influência das 2, porém artisticamente comecei a me expressar mais veementemente aqui em São Paulo. Digamos que a minha produção propriamente dita teve início aqui. Em Natal eu escrevia algumas coisas, tinha uma inquietude e muitas vontades, mas ficavam mais comigo. Cheguei até a experimentar poesia falada/gravada com a ajuda de Camila Masiso e Daniela Abreu, mas era algo mais meu mesmo. São Paulo “grita” comigo o tempo inteiro.

''primeiro corte'' é o primeiro livro de Anna Zêpa, uma seleção de poemas curtos e cortantes
”primeiro corte” é o primeiro livro de Anna Zêpa, uma seleção de poemas curtos e cortantes

O CHAPLIN: O projeto gráfico de Primeiro Corte, seu livro de poesias, foi assinado por Daniel Minchoni e deu muito o que falar. Com um corte na capa do livro e duas cópias de cada poema, é possível ao leitor distribuir os textos presentes no livro com quem quer que ele julgue merecer. Qual a importância, o sentimento de saber que sua poesia está no mundo, com quem quer que seja?

É massa. Depois que tá no mundo, a gente não tem controle pra onde vai, nem como chega, nem o que de fato causa nessas pessoas que recebem os poemas. Acho que a própria poesia se transforma. É interessante quando alguém vem me perguntar algo sobre determinado poema, trazendo seu ponto de vista, e vejo que é uma outra leitura do que eu escrevi. Cada um tem uma história e outras referências de vida; e isso deve mudar a forma como o texto “bate” em cada pessoa. Além do livro trazer a possibilidade da distribuição, busco ainda outros suportes para dialogar com o mundo, unindo às vezes o meu trabalho de atriz. Tenho poemas no Between Coffee; tenho um projeto de vídeo-poesias com Mirelle Martins; e stencil do poema “não dá pra ser sem dor”.

O CHAPLIN: Você teve muito retorno com o Primeiro Corte? Muitos comentários? Como você recebe as críticas (tanto as positivas quanto as negativas)? 

 No geral tenho tido retornos positivos, dos amigos. (Acho que as pessoas não tiveram coragem de falar. Rs). Não tive nada da crítica dita especializada, mas de outubro pra cá vendi um pouco mais de 300 livros; e acho um número bom.

 O CHAPLIN: Pretende lançar mais livros? Já tem algo a caminho?

Pretendo sim, mas ainda não tem nada concreto a caminho. O primeiro livro foi uma espécie de apanhado dos meus escritos. Não escrevi necessariamente pensando em publicá-los. Agora penso em fazer algo específico para publicar.

 O CHAPLIN: Quais são suas maiores referências literárias?

As referências são várias, incluindo a própria vida. Mas gosto dos poetas curtos: Paulo Leminski, Alice Ruiz, Sinhá, Ruy Rocha, Bobby Baq, Daniel Minchoni. Gosto da brincadeira das palavras e oralidade de Mia Couto, Manoel de Barros e Marcelino Freire, por exemplo. E pra encerrar: adoro o cotidiano do peito diluído em palavras. Não importa muito quem escreve.

Você pode comprar o livro ”primeiro corte” de Anna Zêpa com ela, falando pelo facebook ($24 pro Brasil inteiro) e, em Natal, no Between Coffe & Deli.

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Regina Azevedo
Poeta, estudante de Multimídia, formada no curso FIC de Roteiro e Narrativa Cinematográfica pelo IFRN, apaixonada por História da Arte e fotografia.
Regina Azevedo

Regina Azevedo

Poeta, estudante de Multimídia, formada no curso FIC de Roteiro e Narrativa Cinematográfica pelo IFRN, apaixonada por História da Arte e fotografia.

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