Raramente as pessoas prestam atenção nas páginas sugeridas que aparecem na timeline do Facebook, talvez pelas sugestões bizarras de coisas como dietas milagrosas e conteúdo gospel a gente acabe nem lendo. Mas eis que ao acionar a barra de rolagem aparece a oportunidade de ver online o primeiro episódio da série “O Hipnotizador” na sua página oficial e, sem saber nada da trama. Embarquei nessa aventura.
A série estreou semana passada na HBO, e é uma adaptação da HQ argentina homônima de Pablo de Santis “El Hipnotizador”, em 8 episódios. O enredo conta a história de Arenas (interpretado pelo argentino Leonardo Sbaraglia), um personagem que tem o dom de fazer as pessoas dormirem por meio da hipnose, e com isso pode ajudá-las a desenterrar segredos que não estão acessíveis na superfície das memórias. Porém, este talento não funciona para si mesmo, uma vez que ele não consegue dormir, nem resgatar suas próprias recordações.

Num primeiro momento, quem está assistindo e não sabe nada sobre trama pensa que se trata de uma série falada apenas em espanhol, mas desta vez a trama apostou em misturar português e espanhol para que os atores (compostos de argentinos, uruguaios e brasileiros) utilizem suas línguas maternas, gerando uma torre de babel que não é exatamente desconfortável para os que convivem com o “portunhol” habitual na comunicação com estrangeiros que falam espanhol, mas que incomoda nos primeiros minutos.
Há a confusão temporal e locacional proposital característica da trama, proporcionada pela ambientação temporal não definida entre os anos 20 e 40, onde o personagem principal de trem, com um aviso futurista de controle de fronteiras, desembarca em uma Montevidéu (Uruguai) modificada e recriada por computação gráfica para virar também uma cidade indefinida. Tudo isso em busca de prender o telespectador em um transe e complementar o universo onírico e mágico que compõe o tema da trama, a Hipnose. Um tema que não é estranho ao público, mas que é fascinante para quem cresceu vendo números de indivíduos que utilizavam essa prática em desenhos, shows de arrebatamento em igrejas e programas de auditório.

O figurino impecável é um ponto forte da trama dirigida por Alex Gabassi e José Eduardo Belmonte, e em conjunto com a trilha sonora dramática e sombria, se encaixa perfeitamente. Esse minimalismo é uma das características recorrentes também nas produções latino-americanas da HBO, a exemplo de outra produção brasileira a série “O Negócio“. A caracterização do personagem principal quanto à maquiagem segue as escuras olheiras do original dos quadrinhos com o mesmo ar grave.
O elenco conta com nomes brasileiros conhecidos como Bianca Comparato (Como Esquecer, Avenida Brasil) no papel da camareira Anita, Chico Díaz (Amarelo Manga, Gabriela) como o antagonista Darek, e Juliana Didone (Malhação, As Canalhas) como Lívia, uma mulher que aparece nos devaneios de Arenas. Conta também com atores argentinos, como o protagonista da série Leonardo Sbaraglia (Relatos Selvagens) e a veterana Marilu Marini (La répétition, Mentiras piadosas) e uruguaios como César Troncoso (XXY, Faroeste Caboclo).
Apesar de algumas escorregadas com relação à duração de devaneios e na escolha de narrativa que demora um pouco a engatar no primeiro episódio, a série em si é uma grande promessa em relação à sua proposta e às perguntas que suscita, como a principal: o mundo da série é parte do mundo real ou parte do território do sonhar? Só os próximos episódios podem responder.
Por enquanto, só quem tem HBO pode acompanhar a série que vai ao ar todo domingo às 21h. Já está na hora do canal criar uma parceria ou investir no serviço de streaming, é garantia de mais sucesso na certa.
Confira o primeiro episódio:
Dotada de um humor estranho e viciada na busca por música nova. Ama HQ, gibi e as demais coisas que envolvem literatura e arte. Formada em Jornalismo e Rádio & TV na UFRN. E cursando Letras na UFPI.
Sempre nos surpreendendo com incrível série da O Hipnotizador, pessoalmente nove Produções latino Que ela fez foi o meu favorito, actuaciones das Além ótimas são.