Não é de hoje que a Netflix “está na boca do povo”. Se antes era cobiçada como um serviço de streaming com possibilidades amplas de assistir a diversas séries e filmes, nos últimos anos mais e mais pessoas assinam o canal querendo acompanhar as suas produções originais.
Tudo começou em 2013 com House of Cards, primeira produção original do canal. A trama densa, que esmiuçava o lado negro do circuito político americano, agradou público e crítica e em pouco tempo a trama competia as atenções com o fenômeno Breaking Bad já em sua reta final. No mesmo ano veio Orange is The New Black, trama absolutamente original, desde o enredo ao próprio título. Hoje, Piper, Crazy Eyes, Alex e Red já podem ser consideradas personagens icônicas da TV, sem exageros.
A coisa toda só melhorou em 2015, o ano ainda nem acabou, mas que ano! Logo no início, em abril, a tão esperada parceria com a Marvel se concretizou na bem sucedida produção de Demolidor. Foram 13 episódios lançados de uma só vez para o mais completo deleite dos milhões de fãs do Daredevil que passaram o fim de semana felizes devorando a temporada (eu entre eles). Em seguida o canal emplacou outras duas produções de sucesso: Sense8, que apesar de ter dividido a crítica especializada, viralizou na web, e mais recentemente Narcos, que bem, desde seu lançamento há poucos dias, tem sido campeã de audiência nas mídias sociais.
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Muitos são os fatores do sucesso do canal, aliás fatores bem parecidos com os atribuídos aos sucessos da HBO, outra queridinha do público. A ousadia e originalidade dos enredos é um enorme mérito. No caso de Orange is The New Black, não é todo dia que se encontra uma trama com foco em um presidio feminino, tendo as relações homoafetivas como protagonistas e não coadjuvantes, ou pior, figurantes.
E claro, Sense8. Apesar de ser uma trama sci-fi o que mais chamou a atenção foi a aposta em um enredo multicultural, com personagens tão distintos. A transexualidade de Nomi e a resistência que ela enfrenta da própria família; o medo de Lito, galã de filmes mexicanos, em se assumir homossexual; os problemas sociais enfrentados por Capheus – o Van Damme – em Nairóbi, África; o machismo do pai de Sun que se recusa a reconhecer a competência da filha enquanto empresária, por ser mulher; são apenas algumas das interessantes facetas abordadas no primeiro ano da trama.
Outra questão é a enorme qualidade técnica das produções. Os efeitos e a direção de arte de Demolidor por exemplo, são um espetáculo (ah, aquela abertura!) e o que falar do nível de Narcos, na competente direção de José Padilha e roteiro de Chris Brancato, na atuação destruidora de Wagner Moura (sotaques à parte).
A Amazon, inclusive, segue os passos da Netflix. Oito produções originais estão previstas para 2016 (dentre elas a tão falada série de Woody Allen, que muito se fala e pouco se sabe). Ano passado, a empresa lançou a já premiada comédia de humor negro Transparent. Série essa também curta, com 10 episódios a primeira temporada. Aliás, olho nesse padrão, as narrativas mais curtas e rápidas por temporada prometem virar tendência. Aos poucos surgem mais e mais produções com 13 ou menos episódios, deixando de lado os convencionais e cansativos 22 episódios. A alternativa em lançar uma temporada inteira também é excelente ao meu ver, resolve o irritante problema de ter de acompanhar um episódio por semana, (isso quando não tem hiato no meio, algo comum na TV americana). É claro que para a TV propriamente dita, fica difícil entregar uma temporada inteira logo de uma vez. É aí que entra o diferencial e a chance de crescimento de mídias como Netflix e Amazon.
Vou além, esse sucesso da Netflix deve chegar às imaculadas novelas, ainda tão populares entre os latinos, principalmente os brasileiros. Com a popularidade das séries de narrativas curtas, vai ficar cada vez mais difícil continuar mantendo o interesse do público nas verdadeiras sagas que são as tramas novelescas. De modo que para acompanhar o novo momento que a ficção na telinha passa, os canais vão ter que, mais cedo ou mais tarde, reinventar suas produções, de NBC à Globo.
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A tendência é que apareçam mais e mais Netflixs (boatos de que a Apple já está montando um concorrente), como consequência, o “ver TV” que já é expressão relativa ficará mais relativa ainda, pois nossa TV pode ser o aparelho propriamente dito, o desktop, tablet, smartphone. E a audiência ao vivo, ainda tão preciosa para as emissoras, cada vez mais está perdendo importância para o número de assinaturas, downloads e replies nas redes sociais.
Dito isto, uma coisa parece ser fato: a TV está mudando, e o futuro começou na Netflix.
19 anos. Estudante de Jornalismo pela UFRN, Fã dos livros e filmes da vida. Meio nerd. Meio Rock N Roll.