Concebida por Alan Moore e Brian Bolland, a graphic novel Batman – A Piada Mortal se tornou uma das obras mais relevantes do universo do Homem Morcego. Intensa, a história influenciou bastante, por exemplo, a trilogia do Cavaleiro das Trevas, do diretor Christopher Nolan. Eis que, em 2016, ganha sua própria adaptação, mas o resultado é bem decepcionante.
O filme acompanha o vigilante de Gotham caçando o Coringa, que fugiu da prisão e agrediu violentamente alguém próximo ao Batman. Tão breve quanto a sinopse, o roteiro de Brian Azzarello, que escreve quadrinhos, entrega um interessante prólogo que prepara Barbara Gordon para sua importante participação. O curioso é que essa escolha é o maior acerto da produção.

Após o primeiro ato, a história segue de fato para seu objetivo e começa a se perder. A obra original é conhecida por trazer um pouco do passado do famoso vilão da DC e, principalmente, por levá-lo a um estado extremo de loucura. Só que a direção de Sam Liu se limita a reproduzir em tela o que a HQ oferece em seus quadros.

Resgatar o passado de um personagem tão enigmático e complexo como o Coringa é desmistificar um ícone, humanizar uma força idealista e representativa. Ainda mais quando A Piada Mortal intercala o passado de um homem comum com as atitudes caóticas de um criminoso nocivo. A mistura acaba por reduzir toda uma filosofia insana. Não que humanizar um personagem seja, por si, ruim ou errado, mas alguns personagens parecem ter vida própria e colocá-los num contexto ordinário acaba sendo uma escolha equivocada.
Se analisarmos as atitudes que movem o contraponto do Homem Morcego dentro do contexto fílmico, ainda nos debruçamos no problema Liu. Como já dito, sua direção se preocupa em entregar um visual fiel ao original. Nisso, o clima sombrio da trama e a profundidade psicológica de seus personagens dão lugar a um superficial embate infantilizado. A incompetência da direção é tão grande que a cena mais impactante acaba sendo completamente ofuscada por um deslocado número musical, uma encenação circense que não acrescenta nada ao filme.

Batman – A Piada Mortal é um grande desperdício. Guiado por um vilão pouco ameaçador, mesmo realizando gestos horrendos. A direção imprecisa e o roteiro superficial tropeça em escolhas questionáveis e entregam um desfecho confuso. Até mesmo do Batman pouco se aproveita. Positivamente, fica a boa química entre o Morcego e a Batgirl e a fidelidade estética, que privilegia o incrível traçado de Bolland e entrega fotografia e traçados belíssimos. Mas é pouco, muito pouco.
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!