A obra literária do escritor H. G. Wells, O Homem Invisível, conta com a história do cientista Griffin, um personagem misterioso e disposto a reverter os efeitos de seus próprios experimentos após torna-se invisível. A história de Wells já passou por várias adaptações cinematográficas, como o primeiro longa comandado por James Whale, em 1933, trazendo um personagem completamente enfaixado – do ator Claude Rains – para dar vida ao cientista.
Diferente da primeira adaptação, perceptível não apenas pela evolução dos recursos utilizados no cinema, mas principalmente pela releitura proposta, o filme de 2020 traz uma nova ótica sobre o clássico, discutindo temas atuais e muito necessários. Protagonizado pela atriz Elisabeth Moss, intérprete da personagem Cecília, conta a história de uma mulher que tenta se ver livre do relacionamento abusivo ao lado de Adrian, do ator Oliver Jackson-Cohen, um cientista milionário que forja a própria morte para depois atormentá-la com perseguições encorajando os que estão ao redor a creditarem Cecília como uma mulher mentalmente instável.
Na direção de Leigh Whannell, a obra de Wells ganhou uma roupagem realista, O Homem Invisível constrói uma narrativa tensa e com terror a medida sem precisar apelar aos sustos exagerados, trazendo elementos intrigantes à trama. A abordagem de um relacionamento abusivo, e o protagonismo feminino mostra-se uma releitura interessante e necessária de discussões ao espectador.
O suspense dirigido por Whannell têm êxito ao construir uma narrativa tensa e sem exageros. O gaslighting – manipulação, em tradução – aparece como principal recurso de construção do enredo, quando o abuso acontece silenciosamente em alguns momentos e de forma distorcida, fazendo a vítima duvidar de sua própria sanidade. O terror do relacionamento abusivo é mostrado entre cenas de aflição, perseguição e ameaça de um personagem invisível, porém, muito presente psicologicamente.
Na parte estética, os elementos inseridos no filme contribuem para o clima de tensão, assim como o uso de planos simples, câmeras em posição estática, foco em objetos inanimados ocupando longos minutos de tela, além dos movimentos de câmera e planos sequência agregam nos momentos de terror, com recursos que fogem da narrativa convencional em filmes do gênero.
Entre os acertos, o roteiro também escrito por Leigh Whannell constrói de forma coerente a angústia e a aflição da protagonista pela experiência de um abuso psicológico, em uníssono à incrível performance de Elizabeth Moss. Porém, o roteiro também perde a chance em alguns momentos de explorar a fundo a trama psicológica e a personalidade de seus protagonistas, ao longo do filme provavelmente o espectador pode se questionar: quem de fato são esses personagens e como tudo começou?
Ainda sim, O Homem Invisível tem êxito ao construir uma narrativa tensa e intrigante, utilizando elementos simples, que fogem das obviedades e jump scares presentes em filmes do gênero. Uma trama autêntica com atuações formidáveis, levantando discussões extremamente atuais que valem a pena ser conferidas.
Uma jornalista em formação, escrevendo a sua visão de mundo, e o seu entusiasmo sobre a capacidade que o cinema possui de inspirar com suas histórias.