A Editora Tribo, num projeto bacana de lançar um zine por mês durante um ano, encerra 2014 com chave de ouro. O último fanzine do ano, ”Vidraçaria’‘ é, na verdade, um grande presente, recheado com poemas de Olga Hawes e ilustrações de Amanda Lopes, da página AmanDrafts.
Sobre o zine, Olga declara: ”É o resultado de uma fase de auto-reflexão. Vidraçaria vem daí. Imagine-se num salão de espelhos daqueles circos de horrores, com várias imagens distorcidas de si mesmo, sem saber qual o espelho que te reflete de verdade. É essa a sensação que os poemas passam pra mim. Uma sensação de se entender, de se redescobrir algo totalmente diferente todos os dias. De dirigir um carro meio descontrolado dentro de si sem saber pra que lado virar, mas aproveitando o lado bom de cada uma das possibilidades antes de decidir. É isso que eu espero que as pessoas possam sentir ao ler o Vidraçaria: um conhecimento mais profundo de todas as faces que você pode ter. ”
Os poemas
Olga é natalense, tem 15 anos e cursa administração no IFRN. Tem paixão por gatos e, claro, poesia. Os poemas dela são certeiros. Crus e com muita estrada pela frente, obviamente, mas o que me chama atenção são as referências que o texto dela trazem de forma muito explícitas. A menina só lê coisa boa e aproveita isso da melhor forma possível.
“-Foi morte instantânea – Disse-me o guarda Sem dor, sem nada Mas nenhuma dor nessa vida é instantânea nem mesmo a pobre poesia nem este pobre poema que já acaba.”
O CHAPLIN: Como se sentiu ao poder participar do projeto da Tribo e, consequentemente, publicar seu trabalho de forma impressa pela primeira vez?
O que eu gostei mesmo dessa coisa toda é que eu to publicando um fanzine. E muita gente acha um zine uma besteirinha, uma coisa pequena que a gente faz em casa. É verdade, dá pra fazer em casa sim, mas não é a mesma emoção de publicar assim, de cara, uma coisa sua. De ter uma galera trabalhando duro pra ver seu trabalho sendo exibido naquelas folhinhas. É uma coisa bem pequenininha, mas vem carregada com um pedacinho de mim, e imaginar outras pessoas lendo um pedacinho de mim, mesmo que tão pequenininho, é muito amor!
O CHAPLIN: Quais os critérios que você usou pra selecionar os poemas que iam pro zine?
Vamos lá, eu tinha muita poesia acumulada. Tanto coisa escrita quanto coisa pronta na cabeça, ainda pra escrever. Daí eu decidi que separaria dependendo da fase em que eu estava. Tudo que tá no zine vem de uma fase de auto-reflexão. Puro lirismo. Decidi não colocar nada que rolou depois disso, porque pra primeira coisa que eu ia publicar, e, de certa forma, eu queria algo que mostrasse mesmo um pouquinho do que eu sou.
O CHAPLIN: Com que frequência você escreve poemas? E como começou a escrever?
Então, é que eu sou bem inconstante. Tenho minhas fases. Às vezes passo longos bloqueios criativos de três meses ou até mais sem escrever nada, e às vezes escrevo um livro de poemas inteiro em uma semana. É relativo. Quando eu boto na minha cabeça algo sobre o qual tenho que escrever, eu espremo a coisa até não ter mais palavra pra tirar dali. Sobre começar a escrever, eu sempre me dei com a escrita, mas foi depois de um certo acontecimento que botei pra frente. Acho que foi lá pelo 6° ano mais ou menos. Sempre gostei de português e de fazer textinhos, mas nesse ano, mandaram a gente escrever um acróstico de liberdade. E acabou que eu fiz um acróstico-poema que lembro até hoje. A professora falou que eu tinha jeito pra coisa, e aí eu comecei a criar meus tumblrs, blogs e tentativas frustradas de livros que existem até hoje em algum lugar no meu computador.
O CHAPLIN: O que você tem lido?
Aí fica difícil. Pra falar a verdade, tenho lido mais do pior jeito: por obrigação. Isso me deixa sem tempo pra ler o que eu realmente gosto, mas de vez em quando rolam alguns contos ou poemas. Andei lendo contos do Carpinejar, e pra poesia, to buscando mais autores que nunca tinha me interessado muito, como o Chacal, que comecei com algumas coisas agora e ando curtindo bastante (obrigada Iapois rs). Nos romances, os últimos que li foram Bukowski por quem me interesso muito no que se trata de inspiração. No geral, eu curto mesmo é a literatura brasileira, o clássico que todo mundo conhece, mas nem todo mundo se aprofunda na obra: Gullar, Quintana, Drummond, Pessoa… Não me pergunte o porquê, mas a poesia atual nunca chega pra mim do jeito que essas pessoas conseguem chegar.
O CHAPLIN: E a pergunta que não quer calar: Por que escrever poesia? O que te atrai neste meio?
Eu gosto da objetividade que a poesia traz, De poder colocar em alguns versos o que muita gente leva um livro inteiro pra entender. Vejo a poesia como dar um choque na pessoa. Você joga um bocado de informações na cara dela e diz: Entenda. E bom mesmo é ver que cada um entende do seu jeito. Às vezes você passa o que queria dizer. É empático no poema. Outras vezes não. E eu adoro o fato de um mesmo pensamento, aparentemente tão pequeno, poder ser interpretado de várias formas diferentes, cruzando tantas histórias diferentes.
As ilustrações
Amanda Lopes tem 20 anos, terminou informática no IFRN e agora estuda pra cursar medicina. Mas ela também tem o talento de ilustradora, e sua página, AmanDrafts, é bem popular na internet, apesar de ter sido criada apenas como hobby. Amanda conta que às vezes rola uma graninha de encomendas que recebe, mas só isso. (Que delícia seria se todos os artistas conseguissem viver só de arte, né? 🙁 )
O CHAPLIN: Como foi que você ilustrou os poemas de Olga?
Os poemas dela são bem interiorizados, sabe? Algo que veio muito do íntimo. Tentei entrar nisso e reproduzir o que eu via neles. Tive até uns bloqueios algumas vezes, aliás. Porque vinham mil coisas à cabeça e eu não sabia o que por no papel. O Aureliano [editor] me ajudou nessas horas.
O CHAPLIN: Qual material utilizado nas ilustras?
Papel A4 (folha de impressão mesmo) grafite e caneta nanquim.
O CHAPLIN: Que significado o Vidraçaria tem pra você?
Bem, já que o Mulheres Nos Quadrinhos (esqueci de falar que to participando do livro) só vai sair em Março, o Vidraçaria é minha primeira publicação física em algo.
SERVIÇO
Lançamento do zine ”Vidraçaria”, de Olga Hawes e Amanda Lopes
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