Aronofsky é um cineasta independente. Todos seus filmes foram feitos a baixo custo. Ele flertou com super produções, como “Batman”, “Robocop” e “Wolverine”, mas nunca deram em nada. Mas após o enorme sucesso de seu “Cisne Negro”, que custou apenas US$ 13 milhões, e faturou quase US$ 330 milhões em todo mundo (informações de Box Office Mojo), Aronofsky teve finalmente acesso a caixinha de brinquedos de Hollywood.
Com orçamento de 125 milhões, Noé é um épico repleto de efeitos especiais, mas é focado no drama psicológico de seu protagonista, Noé, mais precisamente na sua obsessão de livrar o mundo do mal do homem, tarefa dada pelo Criador (nunca Deus, vale salientar). Para atingir seu objetivo ele irá até as últimas consequências, levando-o a autodestruição. Noé é como todos os personagens principais dos filmes de Darren Aronofsky, que é um diretor obcecado por obsessões.
Em “Pi” (1998), primeiro longa de Darren, o matemático Max é obcecado em encontrar um padrão no número Pi. No “Réquiem para um sonho” (2000) os personagens querem conseguir seu sonho (aparecer na TV, por exemplo) e para isso usam as drogas. A história de “Fonte da Vida” (2006) é sobre o médico Tommy, que tenta encontrar uma cura para o tumor de sua mulher. Em “Lutador” (2008), Randy quer seu lugar ao sol no ringues do Wrestling. “Cisne Negro” (2010) é sobre Nina querendo atingir a perfeição.
Para contar a história da arca de Noé, Aronofsky volta a algumas de suas velhas obsessões. Ele retoma a “hip hop montage”, que usou extensivamente em seus dois primeiros longas, “Pi” (1998) e “Réquiem Para Um Sonho” (2000). A técnica consiste em uma montagem com cortes rápidos, fragmentando uma ação, adicionando efeitos sonoros para enfatizar. Uma vez com a montagem estabelecida, como Max tomando as pílulas em “Pi” ou o uso de drogas em “Réquiem…”, Darren repete a sequência várias vezes durante o filme.
Veja abaixo, a utilização da “hip hop montagem” nesta sequencia de “Réquiem…”, provavelmente um dos melhores trabalhos de montagem da história do cinema:
Em Noé, a sequência montagem hip hop incorpora três ações/ideias: a cobra que tentou Eva, o fruto proibido, e a mão de Caim desferindo o golpe mortal em Abel. A montagem é mostrada várias vezes, e traz várias ideias: aqueles que falharam com o Criador, o mal do homem, a tentação, que o próprio Noé sofre, e que ele deve cumprir a tarefa que lhe fora passada.
Aronofsky traz aqui também algo que ele nunca deixou para trás: o surrealismo. Apenas em “O Lutador” ele não utiliza sequencias surrealistas. Aqui, Noé tem visões como ver o chão coberto de sangue, ou estar debaixo d’água repleto de corpos a sua volta, e vê a si mesmo em uma versão animalesca. Aliás, é comum os personagens se verem nos filmes do Aronofsky, como acontece em outras obras do diretor.
Voltando a caixinha de brinquedos de Hollywood, Aronofsky sabe muito bem usar os efeitos especiais, sempre à serviço da história. Uma das sequências que mais se destacam é a da criação do mundo, da evolução dos animais, criando uma espécie de stop-motion. É interessante também destacar que o diretor mostra a teoria de Darwin enquanto Noé conta para seus filhos a versão da criação divina. Na montagem 1+1=3, a combinação das duas teorias cria outra coisa: os dias da criação são como eras. Ciência e Fé, tema que Aronofsky aborda desde seu primeiro filme, retomando-os em “Fonte da Vida”, e agora em “Noé”.
“Noé” pode até não ser o melhor filme de Aronofsky, mas é importante notar que o diretor entrou no mainstream e fez um filme com personalidade, com a sua cara, trazendo todas as suas obsessões. Aronofsky não perdeu sua voz.
Acredita piamente que o Pink Floyd é a maior banda de todos os tempos e que ninguém canta melhor que o Robert Plant. Tem o Scorsese como ídolo máximo e sabe que ele transformará o DiCaprio no novo DeNiro. Com Goodfellas aprendeu as duas coisas mais importantes da vida: Nunca dedure seus amigos e mantenha a boca sempre fechada.
Legal fazer uma leitura sobre os aspectos e características do diretor em Noé. Todas as outras críticas prezam muito pelo aspecto religioso no filme, cansa! Gostei da inovação, Chaplin! Abraços!!
O filme é bacana e você é feliz em seus comentários, Jonathan. Mas o que me incomodou no filme foram o ritmo castigado e desinteressante, salvo por algumas cenas isoladas, e o sem número de personagens rasos. Profundidade só mesmo em Noé (e Russell Crowe sabe utilizar sutileza!) e um pouco em Cam. Os demais todos se mostram, desinteressantes.
Como se Aronofsky abrisse mão disso para dar mais peso e humanidade à história.
Filme bacana e bonito esteticamente, mas eu esperava bem mais por ser de quem é!