“Estrelas Além do Tempo” é simples e cativante

Neil Armstrong é muito conhecido. Astronauta, marcou seu nome na história dos Estados Unidos ao ser o primeiro homem a pisar na lua, em 20 de julho de 1969. O que poucos sabem é que tal façanha talvez não ocorresse se, em 1961, três mulheres negras não fossem tão determinadas e competentes.

Em Estrelas Além do Tempo (Hidden Figures, 2016), Katherine G. Johnson (Taraji P. Henson), Dorothy Vaughan (Octavia Spencer) e Mary Jackson (Janelle Monáe) são matemáticas que trabalham na NASA como computadores, termo dado aos profissionais responsáveis por conferir cálculos. Durante a corrida espacial na Guerra Fria, elas são envolvidas em projetos maiores da agência.

Escrito em parceria entre o diretor Theodore Melfi e Allison Schroeder, o roteiro oferece um clima leve, agradável e bem humorado, sem jamais esquecer da atmosfera preconceituosa em torno das protagonistas. Logo no início, o trio é abordado por um policial com postura nada amistosa. Porém, elas contornam a situação com elegância e astúcia. Mesmo simples, a sequência é fundamental para apresentar a personalidade de cada uma delas e deixar claro que o foco narrativo está nas conquistas das três, apesar da cultura segregacionista.

Mesmo optando pela leveza, o filme aponta as dificuldades presentes na agência governamental, que são mostradas em escalas mais simples, como a cafeteira destinada à unica negra da sala, ou de maior impacto narrativo, como os obstáculos criados para impedir que duas das personagens centrais conquistem cargos melhores na NASA.

Em alguns momentos, a produção peca pelo exagero. Após saber que sua funcionária corre um longo caminho para ir ao banheiro, Al Harrison (Kevin Costner) diz algo do tipo: Aqui na Nasa, todos urinamos da mesma cor. Embora tenha sentido, o tom heroico e a frase cretina destoam da proposta do filme. Outra passagem que merece ser citada (sem spoiler) é a que envolve a instalação de uma máquina IBM.

O elenco bem escolhido mostra entrosamento e é muito convincente. Do trio de protagonistas, Taraji P. Henson e Janelle Monáe compõem as personagens mais interessantes. A primeira é um gênio da matemática e altamente introspectiva. Consegue se destacar pela eficiência intelectual e determinação. Já a segunda tem a personalidade mais interessante, sabendo se portar num ambiente preconceituoso mesmo sem baixar a cabeça para as limitações impostas. Octavia Spencer se vale de sua persona carismática, mas não apresenta nada diferente do que já vimos em outros trabalhos.

Entre os coadjuvantes, os méritos são todos de Kevin Costner. Seu Al Harrison passa autoridade, rispidez e ainda se mostra uma figura agradável. A presença do ator e a falta de maneirismos em sua atuação contemplam a sobriedade do papel. Mahershala Ali tem pouco tempo de tela, mas se faz necessário em suas boas participações. Já Kirsten Dunst e Jim Parsons entregam desempenhos esquecíveis.

Theodore Melfi recorre ao burocrático em sua direção. Sem jamais ousar, aposta acertadamente na direção de elenco, arrancando o melhor de tal recurso. A fotografia de Mandy Walker evoca um clima de positivismo através de suas cores bem definidas, escolha também refletida nos bons figurinos de Renee Ehrlich Kalfus.

Estrelas Além do Tempo é formulaico, mas conta uma história bonita de forma singela e eficiente. Mesmo com uma forçada indicação a Melhor Filme no Oscar, merece ser visto pela relevância de seu tema e pela experiência agradável que rende.

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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