Dentro do panorama ambiental, categoria do Festival do Rio 2013 na qual costumam ser exibidos documentários, uma ficção com Matt Damon e dirigida por Guns Van Sant ganha um peso grande. Quando a justificativa da intervenção norte-americana no Oriente Médio para garantir o acesso às fontes de energia está presente no contexto atual, o filme ganha dimensões imensuráveis. Ainda mais quando a obra promete uma reflexão sobre o que nós, consumidores de notícias de todos os formatos, compreendemos – a partir delas – por “renovável” e “limpo”. Tudo isso, imbricado, está lotando as sessões de “Terra Prometida” (2012), que – na verdade – explora mais a manipulação política e financeira do negócio do que números e previsões ligados ao movimento ambientalista.
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Matt Damon, também roteirista de “Terra Prometida”, interpreta o representante Steve Butler |
O filme é centrado numa dupla de funcionários da empresa fictícia Global, uma companhia de gás que circula pelo interior dos EUA tentando convencer fazendeiros a assinarem um contrato permitindo o direito de perfuração do solo. Em McKinley, uma das cidades duramente afetadas pelo declínio econômico ianque dos últimos anos, os representantes da Global Steve Butler (Matt Damon) e Sue Thomason (Frances McDormand) acreditam que todos aceitarão facilmente a oferta “generosa” da sua empresa. Porém, numa consulta pública que reuniu a grande parte dos cidadãos de McKinley, o professor Frank Yates (Hal Holbruck, ator com mais de 90 anos) chama atenção dos participantes para os prejuízos a longo prazo da exploração do gás natural. Além disso, chega à cidade o ambientalista Dustin Noble (John Krasinski), convencendo os moradores a formar um pensamento mais crítico e individual. O trabalho na localidade rural, que parecia ser simples e prometia uma curta estadia, acaba afetando Steve, que até então acreditava que o negócio beneficiava a todos.
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Damon e Hal Holbruck juntos em cena: reviravolta na consciência moral é previsível |
O roteiro é assinado por Damon e Krasinski. É impressionante ver como o ganhador do Oscar de melhor roteiro por “Gênio Indomável”, em 1998, sucumbe à previsibilidade dos acontecimentos em “Terra Prometida”. Inspirado pelo documentário “Gas Land” (2010), que também chegou à cerimônia de Hollywood, mas não levou o prêmio, “Terra Prometida” é quase uma fórmula matemática, cujos fatores são a posição corporativa firme da personagem de Damon no começo do filme, que vai sendo cada vez mais subtraída pelos acontecimentos ocorridos entre Steve e aquela população rural. O resultado é, evidentemente, uma virada de consciência, no momento em que quase tudo estaria perdido. Montagem dramática, mais americana, impossível. Além disso, o filme tem um final pobre e forçado, dando a entender um romance entre Butler e Alice (Rosemarie DeWitt), uma professora de McKinley, situação muito mal encaixada na narrativa e que em nada acrescenta. O único elemento interessante é a descoberta da real função do ambientalista Dustin, mas os elogios ao roteiro param por aí.
Se Matt Damon erra a mão no roteiro, sua atuação – no entanto – é o destaque do filme. O ator norte-americano interpreta muito bem o comerciante oriundo do campo que conseguiu triunfar na cidade e, agora que retornou ao campo, sua consciência oscila entre a vontade de ser o melhor no seu trabalho e as consequências morais de sua profissão. Frances McDormand, também vencedora de Oscar de melhor atriz, tem um bom desempenho, na pele da descontraída colega de Butler, Sue Thomason.
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Frances McDormand, ganhadora do Oscar em 1996, com Matt Damon: parceria dentro e fora das telonas |
Gus Van Sant, que dirigiu “Gênio Indomável” e “Milk – A Voz da Igualdade” consegue transpor de maneira particular para a grande tela como as mudanças sociopolíticas, decidas coletivamente (ou por representantes da coletividade) podem atingir o indivíduo. Está bem-intencionado. Mas, em vez de escolher o caminho mais tortuoso e intenso, como nos seus últimos filmes, em “Terra Prometida” ele prefere a narrativa bem demarcada, um lugar-comum do cinema americano. A única congratulação que merece está na maneira de filmar, com bons panoramas e perspectivas. Mas nem isso vai conseguir reverter a imagem de má direção que será deixada aos espectadores após o fim da sessão.
Sagitariano carioca que mora em Natal. Jornalista formado pela UFRJ e UFRN. Apaixonado por cinema, praia e viagens.