Há períodos, depois de ler quatro ou cinco livros que passam meio que em branco, sem provocar aquela faísca, em que você começa a se perguntar o motivo de gostar dessa coisa de literatura. É geralmente durante esses momentos que surgem obras que lhe relembram o tal motivo, e no caso específico de Gado Novo (2013, editora 7 Letras), não só isso, como também confirma o entusiasmo deste que vos escreve com a atual literatura brasileira.
O entusiasmo podia não ser tanto, caso o livro não fosse apenas a estreia literária do catarinense Guille Thomazi. Uma história curta ambientada num Brasil rural profundo, mostrando-nos a condição violenta do homem. A trama muda de ponto de vista de personagem para personagem com as alterações dos capítulos, acompanhando os eventos posteriores a um assassinato brutal de uma adolescente.

A prosa de Thomazi empolga já nas primeiras páginas. Uma narrativa poderosa e bastante concisa. Não sei se é coisa minha, mas lendo Gado Novo, ouvi ecos desde William Faulkner até Wilson Bueno. E não fosse a apresentação do escritor na orelha do livro, que informa que ele divide o tempo entre os negócios da pecuária e a literatura, espantaria o domínio técnico sobre os termos característicos da região rural, não especificada na obra, muito embora dê a entender que fique no Brasil central, no Mato Grosso.

“O fogo vem vindo, com o som das labaredas que rugem. Engrenagens orgânicas do subterrâneo. Saio da casa. Não será hoje o dia de matar o indivíduo. Para casa, a enterrar a minha filha. Os abutres vêm vindo, reclamar o gado novo.” – Trecho do capítulo de mesmo nome do livro.
Para quem gosta de conhecer novas obras, novos escritores: você precisa ler este livro. Para quem só quer ler um livro realmente bom: você precisa ler este livro. Quanto a mim, já aguardo ansiosamente pelo próximo trabalho de Guille Thomazi, quando este der um tempo em seus negócios nos ramos pecuaristas e madeireiros.
Colunista de Literatura. Autor do livro de contos “Virando Cachorro a Grito”(2013). Vive pela ficção e espera no futuro poder viver dela.