Gilbertos Samba: show foi marcado por primor técnico e saudades das músicas autorais

O multifacetado Gilberto Gil apresentou-se em Natal na última sexta-feira (24) no Teatro Riachuelo. Na ocasião o baiano trouxe o show “Gilbertos Samba”, turnê que dá título ao seu mais novo trabalho, uma homenagem a João Gilberto, à bossa nova e, por que não dizer, ao “samba-canção” brasileiro.

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Fotos: Andressa Vieira

No auge dos seus 71 anos, um dos expoentes musicais mais criativos da música brasileira, Gilberto Gil entrou no palco em vestes brancas. Num formato enxuto, Gil contava apenas com três músicos no palco: Domenico Lancelotti (bateria, MPC e pecussão), Bem Gil (guitarra, flauta e percussão) e Mestrinho (sanfona e percussão). O cenário era  igualmente simples, feito de material reciclado e a iluminação discreta, porém eficaz. A casa estava cheia, os ingressos estavam esgotados uma semana antes do show, todos ansiosos para ouvir a nova empreitada de Gil.

Quem buscava animação, a energia e as danças descontraídas do músico, saiu desapontado do show, afinal, aquele era um projeto intimista, banquinho, violão e muito requinte. Sim, requinte! A produção e o cuidado ao revisitar grandes clássicos da bossa nova, em um formato moderno e interessante. Gil chamou a moçada antenada que vem atuando com Caetano Veloso em seus últimos trabalhos pra dar vida ao seu novo rebento. “Gilbertos Samba”, tem produção de Moreno Veloso e Bem Gil, no repertório, nomes consagrados das bossas e sambas brasileiros, como João Gilberto, Carlos Lyra e Dorival Caymmi.

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Sentando em seu banquinho, Gil, que acredita que Bossa Nova é uma das expressões do samba, abriu o show com “Doralice aos Pés da Cruz”, canção do primeiro álbum de João Gilberto. Dando sequência ao selist, Gil tocou “Eu e Você”, uma das canções mais ternas e, na opinião desta repórter, belas da dupla Vinícius de Moraes e Tom Jobim. A terceira música da noite foi “Tim Tim por Tim Tim”, outra de João Gilberto. Ao final dessa primeira trinca musical, os presentes já estavam conformados que daquele “belengue bengue de violão” não sairiam nem “Punk da Periferia”, “Lamento Sertanejo” ou mesmo “Deixar Você” (uma das minhas favoritas).

O cuidado e a delicadeza moderna dos arranjos das músicas me chamaram atenção, por exemplo, “Rosa Morena Rosa” de Jorge Ben Jor me saiu tão boa quanto a original. Simpático e sempre muito sorridente, Gil conversou com a plateia, explicou sobre seu projeto de homenagear João Gilberto e também de gravar um disco de sambas; unindo as duas vontades, originou-se “Gilbertos Samba”.  A plateia cantou “O Pato” e também o clássico dos clássicos da bossa nova, “Desafinado”, ambas de João Gilberto.

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Como já estava preparada pra calmaria e deleite musical “bossa novístico” de Gil, apreciei o show, mas acredito que eu tenha sido uma exceção naquela noite. “Eu Sambo Mesmo” e “Chiclete com Banana” despertaram àqueles mais desanimados na plateia. Gil saiu do palco com o dever cumprido, homenageou de forma elegantíssima o ídolo e ícone de uma geração, João Gilberto. O pai da bossa nova foi o responsável por fazer aquele baiano fã de Luiz Gonzaga vindo lá de Salvador largar o acordeon pra dedilhar os mais elaborados acordes do violão.

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João Gilberto e Gilberto Gil, além de serem “Gilbertos”, assim como a canção inédita tocada no show, têm mais em comum do que apenas um nome, são gênios da música popular brasileira e, por que não dizer, da música mundial. Cada um escrevendo com sua empunhadura a história da MPB.

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Leila de Melo
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.
Leila de Melo

Leila de Melo

Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.

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