Glow: comédia oitentista divertida peca em profundidade

Os anos 80 estão de volta. É o que parece estar acontecendo com as mentes criativas da Netflix. Depois do sucesso da série Stranger Things, mais uma produção inspirada nessa época foi disponibilizada para os assinantes do serviço de streaming. A aposta da vez é a comédia Glow (acrônimo de Gorgeous Ladies of Wrestling), que retrata um programa de luta livre profissional por mulheres na década de 1980. O programa original foi uma criação de David MacLane em 1986 e, no Brasil, chegou a ser exibido pelo SBT. Na série, algumas personagens são uma homenagem às mulheres que participavam da produção real, como a Mountain Fiji e a dupla The Housewives.

O projeto tem criação de Liz Flahive e Carly Mensch, e a produção ficou por conta de Jenji Kohan (criadora de Orange is The New Black). Na trama, acompanhamos a personagem Ruth (Alison Brie), uma mulher que faz vários testes como atriz, mas na maioria deles não consegue êxito. Frustrada e sem perspectiva de que sua vida irá melhorar, ela fica sabendo de uma seleção de atrizes para um programa de TV sem mais detalhes.

Ruth é pautada por duas situações principais: a primeira é sua luta para ser uma atriz reconhecida, o que acaba sendo facilitado devido à inexperiência da maioria das meninas. Ruth se sobressai e se torna a atriz de confiança do diretor Sam Sylvia (Marc Maron). A segunda situação tem a ver com sua ex-melhor amiga, Debbie Eagan (Betty Gilpin), já que ela descobre que seu marido transou com Ruth. Como tudo que é ruim pode piorar, o diretor resolve chamar Debbie para ser a estrela do show, após ver uma briga entre as duas em cima do ringue.

O destaque negativo é a falta de profundidade na história das personagens. Algumas delas ainda detêm mais informações, sobre família e origem, por exemplo. Outras parecem estar ali só para compor elenco, relegadas à coadjuvantes absolutas, e podem até passar despercebidas pelo público. Se houver uma segunda temporada, é algo para a produção ficar atenta. As personagens merecem mais história porque elas são parte de um grupo bem divertido. Outro problema está no roteiro que, em algumas situações aparentemente mais dramáticas, acabou pecando em passar essa sensação ao público. Em outras palavras, o roteiro é simplificado e superficial.

Apesar dos pesares, as atrizes principais e o ator Marc Maron, que interpreta o diretor, fazem um trabalho incrível de atuação. Além disso, a referência à Guerra Fria é um dos momentos mais divertidos. Outros aspectos importante para se destacar são a cenografia, o figurino, maquiagem e cabelos e, é claro, a ótima trilha sonora, oitentista total, causando um sentimento de nostalgia para quem viveu na época, e mesmo para os que não viveram e lamentam por isso.

Mesmo se tratando de uma série de comédia, Glow faz crítica ao machismo que era (e ainda hoje é) bem forte nos anos 80, por meio de temáticas como aborto, divórcio, o espaço da mulher no ambiente de trabalho e o preconceito sofrido pelo grupo devido à escolha de serem lutadoras. Durante a trama, elas vão percebendo o quão importante é o trabalho em equipe e, mesmo sendo muito diferentes, procuram se unir para conseguir gravar o programa.

Meu destaque vai para dois episódios, os quais considero mais legais, o 1° e o 7°, que por sinal foram dirigidos pela mesma Jesse Peretz. A série tinha potencial para ser bem mais que uma sessão da tarde e se transformar numa sessão de horário nobre, mas os problemas de roteiro e falta de aprofundamento me fazem classificá-la apenas como uma produção divertida. Com os cancelamentos recentes que a empresa vem fazendo, Glow fica na corda bamba, e o final da primeira temporada não deu muita margem para que venham mais histórias pela frente.

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Caio Rodrigues
Graduado em Comunicação Social(UFRN), vai do rock ao samba, do Poderoso Chefão a Toy Story, como cantava Adoniran Barbosa, “Deus dá o frio, conforme o cobertor”.
Caio Rodrigues

Caio Rodrigues

Graduado em Comunicação Social(UFRN), vai do rock ao samba, do Poderoso Chefão a Toy Story, como cantava Adoniran Barbosa, "Deus dá o frio, conforme o cobertor".

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