De volta ao lar, novo Homem-Aranha é ótima diversão

É muito difícil extrair algo novo de um personagem após cinco filmes, principalmente depois de uma retomada fracassada. O risco de se tornar repetitivo é alto, tropeço cometido por O Espetacular Homem-Aranha (2012) em relação ao trabalho de Sam Raimi em 2002. Porém, às vezes basta pôr as coisas em seus devidos lugares para ter uma nova chance. Foi exatamente isso que fez a Marvel.

Em Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017), Peter Parker (Tom Holland) está ansioso para voltar a combater o crime após os acontecimentos de Capitão América – Guerra Civil (2016), mesmo sendo monitorado por seu “mentor”, Tony Stark (Robert Downey Jr.), para não entrar em perigo. Tudo muda com a aparição de armas feitas com tecnologia alienígena, levando o jovem herói à ação.

Escrito por seis pessoas, o roteiro é eficiente em diversas camadas: é leve e extremamente divertido, adequando-se perfeitamente ao selo Marvel; funciona como comédia High School; constrói a trama com naturalidade, sem atropelos; consegue se estabelecer dentro do Universo Cinematográfico do estúdio; evita ser outro filme de origem; e também tem sucesso no desenvolvimento de personagens. Além disso, quem já teve oportunidade de ver qualquer coisa do Homem-Aranha sabe de dois eventos primordiais na sua transformação: a picada da aranha radioativa e a morte do tio Ben. Sabiamente, De Volta ao Lar apenas cita esses acontecimentos, ganhando mais tempo para desenvolver a história.

Mesmo tendo grandes capacidades e uma retidão moral bem definida, Peter Parker ainda é um adolescente que está crescendo. Suas necessidades pessoais e até uma certa inocência da sua pouca idade são retratadas em singelas passagens como ao montar uma réplica da Estrela da Morte, quando observa seus amigos na piscina antes de procurar bandidos ou nas suas interações com a tia May (Marisa Tomei).

Adrian Toomes (Michael Keaton) também merece destaque dentro do roteiro. Toomes não carrega desejos megalomaníacos de dominar/destruir o mundo, é apenas um homem desrespeitado pelo Sistema e desesperado para sustentar sua família. Embora algumas de suas reações mais enérgicas soem fora de contexto, o vilão é convincente.

O trabalho de todo o elenco é primoroso. Holland é, disparado, o melhor Aranha. Sua aparência juvenil e suas afobações constroem um adolescente crível, assim como sua ironia e seu timing cômico são perfeitos para seu alter ego. Keaton evita maneirismos e cria uma personalidade centrada e séria, igualmente convincente e incapaz de provocar ira da plateia, mostrando o talento de seu intérprete. Destaque para o diálogo entre ambos dentro de um carro. Jacob Batalon e Marisa Tomei entregam atuações carismáticas e agradáveis com Ned e May, respectivamente, sempre bem em cena. As curtas aparições de Downey Jr. e o retorno de Jon Favreau como Happy Hogan são ótimos.

Por trás das câmeras, a direção de Jon Watts é muito boa. A atmosfera de filme adolescente se adapta bem aos momentos de humor e às cenas mais introspectivas. As sequências de ação são criativas e quase sempre inteligíveis, apenas um pouco confusas no clímax. A computação gráfica é bem utilizada, principalmente no modelo do Homem-Aranha quando em ação. Seus movimentos são compreensíveis e ágeis.

Carregando em seu título a felicidade dos produtores, Homem-Aranha: De Volta ao Lar é leve, agradável, divertido e muito bem realizado. Não traz nada de novo, é verdade, mas cumpre bem as necessidades de sua trama ao apostar no certo e não trazer excessos. Merece ser visto com um bom balde de pipoca!

OBS: Evitem as versões 3D, se possível. Além de dispensável, prejudica bastante nas cenas mais escuras.

OBS 2: Existem duas cenas após o filme. Uma no meio e a outra, literalmente, após os créditos.

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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