Em março de 2013, a série Broadchurch estreava na programação da TV inglesa. Apesar da trama nada original, a produção conquistou público e fama por sua forma humana de tratar um tema. A fama cruzou o globo até chegar à terra do Tio Sam para que os norte-americanos fizessem aquilo em que são mestres: adaptar qualquer coisa boa que não seja feita em sua extensão territorial. A investida da Fox se mostrou bem ruim e virou mais um fiasco do canal que oscila entre boas e péssimas atrações.

Gracepoint acompanha a investigação da polícia que encontra o corpo do Jovem Danny Solano (Nikolas Filipovic), de apenas 10 anos, jogado às margens da praia que banha a cidade que dá título à série. O acontecimento choca os moradores que precisam lidar com a perda e com a dura investigação do detetive Emmett Carver (David Tennant, que interpreta a mesma personagem em Broadchurch), mudando a rotina dos moradores que, sem exceção, passam a ser suspeitos do crime.

Uma das piores coisas da série é seu elenco. Um punhado de atores sem carisma ou química proferindo as mesmas falas da série britânica, mas sem emoção ou competência. Beth (Virginia Kull) e Mark Solano (Michael Peña de Trapaça) são a encarnação da apatia. Os experientes Jacki Weaver (O Lado Bom da Vida) e Nick Nolte (Caça aos Gângsteres) lidam com personagens discretos. Ela se mostra fora do tom como Susan Wright, já ele não consegue entregar muito com seu Jack Reinhold. Tennant até tenta, mas não faz muito diferente da sua interpretação na série original, muito pela dificuldade em fazer duas verões distintas de um mesmo personagem.

A decepção fica mesmo por conta de Anna Gunn. A duas vezes vencedora do Emmy por sua interpretação em Breaking Bad se mostrou completamente deslocada. Gunn não conseguiu estabelecer química com quase nenhum ator com quem contracena, salvando-se por poucas cenas com Tennant. Se em Breaking Bad ela afundava sua Skyler cada vez mais na paranoia e no desespero, a atriz não consegue dar profundidade a sua Ellie Miller demonstrando uma única faceta, a de mãe preocupada.
A trilha sonora não poderia ter sido mais equivocada. Apostando em acordes de violão por causa da descendência latina dos protagonistas, o trabalho de Marty Beller (In Treatment) ignora elementos da atmosfera praiana da cidade e, principalmente, do tom de suspense da série, acertando apenas quando replica as notas da série original. A refilmagem ainda se limita a reprisar os mesmos acontecimentos e técnicas na mesma ordem da produção inspiradora. Registre-se que é o pior uso de slow motion que vi neste ano. Falta coragem e ousadia para apresentar algo diferente. Até o desfecho que apostou numa novidade findou sendo uma variação do mesmo e não uma alteração de fato.

Na busca pela audiência, a Fox fez mais uma tentativa errada. Mesclando sucessos como 24 Horas e American Horror Story com fracassos gigantes, como Terra Nova e Touch, o canal dá mais um tropeço com Gracepoint. Enquanto Broadchurch vai para a segunda temporada e rendeu uma refilmagem, a versão norte-americana foi cancelada após a primeira temporada. Refilmar não significa copiar e colar um conteúdo, tão pouco se limitar à troca de atores.
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!