Homem-Aranha no Aranhaverso desponta como favorito ao Oscar de Melhor Animação

No Oscar, a categoria de Melhor Animação costuma alternar os prêmios entre as obras dos estúdios Disney e Pixar – na verdade, significa que fica tudo num canto só, já que o segundo pertence ao primeiro. A última vez que a cerimônia premiou fora desse revezamento foi em 2012, quando Rango (2011) venceu. Sete anos depois, esse feito pode ser repetido pela Sony e seu maravilhoso Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man – Into the Spider-Verse, 2018).

Na trama, o jovem Miles Morales é fã do amigo da vizinhança que existe em seu universo. Ao ser picado por uma aranha radioativa, o garoto desenvolve capacidades aracnídeas. Após uma máquina abrir portais para outras realidades, cabe a Miles impedir que ela volte a funcionar enquanto precisa enviar outras versões do Homem-Aranha para suas respectivas realidades.

A concorrência na principal cerimônia cinematográfica dos EUA está apertada esse ano. Além de disputar com Ilha dos Cachorros (2018), do competente diretor Wes Anderson, a Sony precisa desbancar Disney e Pixar, representados, respectivamente, com WiFi Ralph – Quebrando a Internet (2018) e Os Incríveis 2 (2018). Com adversários tão fortes, porque Aranhaverso surge com favoritismo?

Buscar originalidade no cinema hoje em dia está cada vez mais complicado. Franquias, derivados e refilmagens são cada vez mais frequentes. Dessa forma, resta aos cineastas tentar alguma novidade na maneira de contar suas histórias. É nesse ponto que a nova animação do aracnídeo traz novo fôlego. Dirigido por Bob Persichetti, Rodney Rothman e Peter Ramsey, Homem-Aranha no Aranhaverso tem uma linguagem inventiva, estonteante e dinâmica, encontrando seu visual ao referenciar diretamente os quadrinhos. O desenho mescla 3D com um aparente traçado à mão, como nas rugas de expressão das personagens e em seus contornos.

Diversas técnicas utilizadas nos quadrinhos ao longo do tempo são homenageadas aqui. O sombreamento, por vezes, é feito com listras mais escuras, criando um efeito de profundidade; quando há aproximação, é visível uma textura formada por pontinhos, remetendo ao recurso de pigmentação antigo para colorir; balões de pensamentos, onomatopeias e quadros dividindo a ação também se fazem presente. Tudo no visual do filme é idealizado para emular a sensação de ler uma revista.

A direção também é inteligente ao entrega enquadramentos mais inusitados, como na cena em que Miles passeia pelas paredes da escola e a “câmera” o acompanha sem se desprender do prédio, ou quando a teia é a forma de locomoção. A produção ainda traz uma energia incrível nas sequências de ação, diminuindo o ritmo apenas nos momentos mais emocionais.

Em sua camada mais superficial, o roteiro de Phil Lord e Rodney Rothman não foge ao padrão do subgênero: uma ameaça coloca a vida das pessoas em risco e o herói em formação precisa se encontrar para, enfim, poder superar o inimigo. Mesmo partindo de um lugar comum, o texto se sobressai nas camadas seguintes. Funcionando como uma linda homenagem, referencia as animações, revistas e demais versões para o Homem-Aranha. Vemos em cena Peter Parker; Gwen Stacy como Mulher-Aranha; Peni Parker; o Porco-Aranha; a versão Noir da personagem; e algumas recriações dos filmes dirigidos por Sam Raimi.

Além disso, existe um cuidado com a representatividade muito bacana aqui. Se estamos acostumados com Peter Parker salvando a vizinhança, agora vemos Miles assumir essa responsabilidade. Um garoto negro, de descendência porto-riquenha, morador do Brooklyn, que faz arte com grafite e que adora ouvir Hip Hop. A escolha por Morales é uma clara tentativa de provocar empatia num público maior, de se aproximar dos espectadores que, raramente, se enxerga nos filmes – tal qual fez Pantera Negra (2018) em escala bem maior. O protagonista personifica a mensagem de que qualquer pessoa pode fazer a diferença.

Olhando para a plateia de forma mais abrangente e sem jamais esquecer as origens, Homem-Aranha no Aranhaverso é um trabalho tecnicamente irretocável, pertinente, atual e um excelente entretenimento. Oferece aos espectadores uma revitalização de uma personagem querida e, aos fãs do cinema, uma linguagem própria e diferenciada. Por todas essas qualidades, é provável que saia do Oscar no dia 24 de fevereiro com a estatueta na categoria em que concorre. Um respiro de originalidade num subgênero cada vez mais castigado.

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João Victor Wanderley
Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d’O Chaplin… E “A Origem” é o maior filme de todos!
João Victor Wanderley

João Victor Wanderley

Radialista por formação e jornalista em formação. Minha paixão pelo cinema me trouxe ao Chaplin; minha loucura, ao Movietrolla. Qualquer coisa, a culpa é d'O Chaplin... E "A Origem" é o maior filme de todos!

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