Em 1930 nascia a primeira produtora cinematográfica brasileira, a Cinédia, que tinha como sede a cidade do Rio de Janeiro. O principal idealizador dessa empreitada brasileira, cuja proposta era tentar industrializar a produção cinematográfica no país, era o cineasta e jornalista brasileiro Adhemar Gonzaga.
A Cinédia tinha como objetivo desenvolver filmes com assuntos que abordavam temas que iam dos dramas populares às comédias musicais. Os principais nomes da Cinédia eram o próprio Adhemar Gonzaga, que produziu filmes com a cantora Carmem Miranda (a exemplo do filme “A voz do carnaval”); Gilda Abreu, atriz e uma das primeiras mulheres a dirigir filmes no Brasil (“O Érbio” foi um deles); e o último grande diretor da Cinédia foi Humberto Mauro, que se destacou por suas produções e apresentou algumas inovações técnicas até então inéditas no cinema brasileiro, como o filme Ganga Bruta que iniciou as gravações em 1931 e só foi finalizado em 1933.
Quando o cinema entra no século XX, percebemos que os filmes começam a levar para as telas elementos históricos e sociais para a construção de seus roteiros, iniciando assim novas discussões sobre sua função na sociedade. Tais mudanças não foram exclusivas só dos grandes centros cinematográficos. No Brasil não foi diferente; os diretores que estavam produzindo perceberam que alguns fatos cotidianos noticiados nos jornais poderiam render boas histórias para roteiros. Nessa relação entre cinema e realidade os roteiros poderiam se apresentar como representações ou construções do real.
Seguindo esses preceitos, em 1931, o diretor Humberto Mauro busca no cotidiano um argumento para a construção do filme Ganga Bruta. Na obra, acompanhamos um homem que na noite de núpcias descobre que sua mulher já fora de outro. Enfurecido, ele a mata. Absolvido pela justiça, vai para o interior trabalhar no ramo da construção. Acaba sentindo-se atraído por uma jovem que é noiva de outro e um novo conflito se estabelece.
Quando assistimos ao filme, percebemos que a função representativa do cinema ocorre na medida em que os personagens vão produzindo no enredo os anseios e preocupações que estavam presentes na sociedade. A partir disso, traçamos no decorrer da obra, um retrato da vida brasileira dos anos 30, período em que a violência urbana e a repressão sexual estavam presentes na vida da sociedade. Além desses fatores, o filme traz empregado em sua narrativa aspectos técnicos que até então não eram empregados nas produções nacionais, como o uso de flashbacks, uso de cortes rápidos, ângulos e planos pouco ou quase não usuais no cinema nacional.
Ganga Bruta, dirigido por Humberto Mauro e Limite, de 1931, dirigido por Mário Peixoto, são considerados as principais obras do nosso cinema, influenciando cineastas tanto no Brasil como no resto do mundo. Para finalizar meu texto, deixo uma dica: os dois filmes citados nesse último parágrafo estão disponíveis no Youtube. Para quem gosta de cinema e se interessa por aprender um pouco mais, recomendo assistir às duas obras.
Fã de cinema desde de criança, estuda Arte e Mídia na Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba). Tem como principais paixões a música, os quadrinhos e o cinema.
[…] já falei na postagem sobre o filme de Humberto Mauro “Ganga Bruta”, a Cinédia, primeira indústria cinematográfica brasileira, abria as portas em 1929 com um […]
Bacana! Gostei muito da locação, sabe onde foi filmado? E realmente tem ângulos incríveis. É engraçado ver como a atuação no cinema mudou. A cena da briga perto da cachoeira seria considerada super fake hoje em dia, parece ter outro “timing”, outra estética.
Vlw!