Meu primeiro contato com o trabalho de Olaf Hajek se deu ao assistir a abertura da minissérie Afinal, O Que Querem as Mulheres?, exibida pela Globo em 2010. Vejam só:
Fiquei curiosíssima! Quem foi o responsável por essa linda composição de imagens? Descobri que, na verdade, eram vários os criadores, dentre animadores, diretores de arte e, vejamos… um artista alemão chamado Olaf Hajek. Não me deterei a essa abertura, mas vale apena ler a entrevista com o Diretor de Arte Alexandre Romano sobre o processo criativo da construção da vinheta.
![voyage.voyage_1](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/voyage.voyage_1.jpg)
Voltemos ao Olaf. Imediatamente encontrei seu site e passei um bom tempo nele, encantada com suas acrílicas e guaches sobre madeira ou papelão e, ainda, com seus trabalhos comerciais, encomendados por grandes grupos, como SWATCH, Golden Camera Award, Cacharel, a própria Rede Globo, e suas várias produções para capas de livros e revistas, cartazes de eventos, mapas, estampas para roupas, vitrines etc.
![Mercedes-Benz/Goldene Kamera](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/goldenekamera.box_.jpg)
![SONY DSC](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/montblanc.window_1.jpg)
Mas me aterei ao seu trabalho artístico em finalidade, feito sob encomenda apenas dos seus desejos. Ficará clara, então, a qualidade da obra de Olaf, que mesmo nos seus tão diversos trabalhos comerciais já citados fica explícito um estilo próprio, uma unidade. Hajek é o que chamam de artista essencialmente contemporâneo, que não limita sua arte a meios e suportes restritos. Se por motivo da sua habilidade técnica ou pela necessidade de sobrevivência financeira, não sei: vou acreditar que por um pouco dos dois.
Na sua produção artística, os temas que se destacam são vários. Vemos a influência do folclore, mitologia, religião, história, geografia, natureza, mais natureza, um amálgama de muitas plantas, flores, flores carnívoras e sensuais, caules, frutos e plantas que se mesclam com pessoas, numa só entidade que tem tudo a ver com a religiosidade de alguns grupos africanos. Vemos também muito orientalismo, hinduísmo, um quê de Índia, sofrimento em forma de lágrimas-cascatas. Cabeleiras e barbas enormes, nas quais cabem um mundo. Multiculturalismo, sincretismo religioso. Misticismo expresso em texturas desgastadas e cores vibrantes.
E muitas, mas muitas, referências. Do jeito que nossa atualidade gosta e pede. Porque com o tanto de coisa que já foi feita no mundo da Arte, tudo é alusão, intertexto. Me valerei desse termo extraído da linguística, intertexto, porque ele é o que melhor exprime essas lembranças e pistas deixadas numa obra e que nos levam a outras.
!["African Dress", Acrylic on Wood, 2011, 40cm x 50cm, Whatiftheworld Gallery, Cape Town](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/africa.dress_1.jpg)
O que imediatamente chamou minha atenção foi a referência à obra do artista – que, não à toa, fascinou os surrealistas – Hyeronymus Bosch (c. 1450 – 1516). Especialmente o tríptico Jardim das Delícias e seu amontoado caótico de personagens humanos (ou não) praticando as mais diversas atividades. Pelo uso da madeira como suporte e a textura que ela dá ao quadro e pelos tipos tão diversos que, num mesmo lugar, estão ao mesmo tempo numa situação de integração e deslocamento.
![Tríptico do Jardim das Delícias: O Paraíso Terrestre, O Jardim das Delícias e o Inferno Musical, 1480 - 1490, Museu do Prado.](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/jardim-da-delícias-1024x541.jpg)
!["Foret Noir2", Acrylic on paper, 2010, 70cm x 100cm, Direktorenhaus Berlin 2010](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/foret-noir2.jpg)
Já pela integração de elementos da natureza com pessoas, ao observar algumas de suas obras me veio à mente os estranhos (no sentido mais positivo que o termo pode ter) quadros-vegetais do maneirista italiano Giuseppe Arcimboldo (c. 1527 – 1593). Comparem:
![Vertumnus, retrato de Rodolfo II](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/Rudolf-II-as-Vertumnus.jpeg)
!["Black Widow" 125x80cm, Acylic on Wood, Whatiftheworld Gallery Cape Town](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/black-widow.jpg)
Ainda lembrei da obra da mexicana Frida Kahlo (1907 – 1954), que caiu tão nas graças do público de uns tempos pra cá – isso dá um artigo à parte! Pelas cores, pela natureza e, em grande parcela, pela temática: sua forte e latente feminilidade, maternidade e sensualidade.
![Minha Ama e Eu, 1937](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/minha-ama-e-eu.jpg)
!["Mother Nature", Acrylic on paper, 2010, 50cm x 70cm, Direktorenhaus Berlin 2010](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/mother-nature.jpg)
![Autorretrato com Macaco, 1940](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/autorretrato-com-macaco-796x1024.jpg)
!["Circle" 100x80cm, Acylic on Wood, Whatiftheworld Gallery Cape Town](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/circle.jpg)
Apesar de tantas associações, que podem multiplicar-se a partir da subjetividade, conhecimento e vivências de cada um, o trabalho de Hajek continua único, não acham? Consciente ou não, seus quadros não são imitações, mas sim um apanhado belíssimo de obras repletas de delicadas homenagens. Intertextos que se cruzam para dar vida a um singular mundo em que não há fronteiras entre crenças, natureza e humano.
!["Hidden Girl" 100x80cm, Acylic on Wood, Whatiftheworld Gallery Cape Town](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/hiddengirl.jpg)
!["Black Paradise" 100x80cm, Acylic on Wood, Whatiftheworld Gallery Cape Town](https://revistapagu.com.br/wp-content/uploads/2014/03/black-paradise.jpg)