Estamos na década de 90. Ismar é um garoto inteligente, engraçado e apaixonado por cinema. O menino tem o sonho de conhecer Hollywood, “a Meca do cinema”, onde os astros da sétima arte brilham e os filmes que tanto o encantam são produzidos. Para conseguir tal façanha, o jovem participa de um programa estilo quiz show, o Domingo Milionário, apresentado por J. Silvestre (já falecido) na já extinta TV Manchete. Caso passasse no desafio, que consistia em responder perguntas de múltipla escolha sobre a sétima arte, o garoto ganharia uma viagem para a terra prometida do cinema.
O curta documentário de Gustavo Beck faz um contraponto entre o Ismar do passado e o do presente. O de antes, um menino que realmente acreditava que conseguiria alcançar seu objetivo por meio de um programa de televisão; o de agora, um adulto sempre mostrado de longe, desiludido e em busca de identidade.
A narrativa é construída com imagens de arquivo das participações de Ismar em programas de TV; a alegria e graça do show que é a televisão são quebradas por imagens em locais pouco iluminados, que denotam justamente o contrário, uma atmosfera de frustração e frieza. É interessante o uso de um aparelho de TV quebrado que não sintoniza em nada. Este recurso é utilizado para mostrar a situação do personagem principal em relação às expectativas do seu eu passado.
Ao longo dos 13 minutos do curta, sentimentos opostos vão sendo jogados para o espectador, até que tudo culmina para uma só coisa. Há um viés cômico que aos poucos vai decaindo para a melancolia. Chama atenção uma das poucas falas do Ismar do presente, na qual diz “eu não me interesso por nada mais que não seja verdadeiro”.
O filme de Gustavo Beck fala sobre ilusão e é de certa forma uma crítica a um padrão de programa televisivo. Neste curta pode-se constatar como um show de TV pode se valer dos desejos de alguém para criar um espetáculo de entretenimento, e consequentemente gerar audiência. E além disso, explicita como esse jogo pode afetar o transcorrer da vida de um indivíduo, neste caso, o personagem que dá nome à obra.
Ismar teve uma carreira frutífera por festivais, ganhando diversos prêmios, inclusive de Melhor Personagem. É um filme que deve ser visto, seja pela sua bela construção ou por seu personagem.
Vale um destaque para a bela canção interpretada pelo protagonista em sua ida ao programa de Jô Soares.
Ismar pode ser assistido no porta curtas.
Jornalista, headbanger baterista e metido a roteirista. A rima só não é pior que o gosto por mindblowing movies.