‘Justiça’: a minissérie da Globo que não falhou

Quatro pessoas, quatro histórias e quatro crimes que renderam 7 anos de prisão aos julgados. Após o cumprimento da pena, todos buscam Justiça. Esse é o plot principal da minissérie da Globo que foi destaque nos últimos meses. Atualmente, a série já não passa mais na emissora, contudo está disponível completa em seu serviço de streaming, o Globo Play.

Vicente (Jesuíta Barbosa), Fátima (Adriana Esteves), Rose (Jessica Ellen) e Maurício (Cauã Reymond) são os protagonistas da história, cada um com suas histórias e motivações diferentes, mas a coincidência entre eles é que todos foram incriminados: Vicente foi incriminado por assassinato de sua mulher; Fátima foi pega por tráfico de drogas, mesmo crime que levou Rose para a cadeia; Maurício, após sua mulher ter sofrido um acidente e ter ficado tetraplégica, faz uma eutanásia a pedido dela.

Depois de serem liberados da prisão após sete anos de cárcere, eles seguem com suas suas vidas e buscam justiça para si mesmos. É importante salientar que o conceito de justiça proposto pela série é um tanto equivocado, já que pode ser encarado muito mais como uma vingança do que necessariamente justiça. Popularmente, tal atitude é conhecida por “justiça com as próprias mãos”. No entanto, essa não é uma regra fixa, já que alguns deles não querem mexer em seu passado e apenas a seguir em frente, como é o caso de Fátima.

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A minissérie, com 20 episódios, é bem montada. Todos os personagens são bem aproveitados, sejam protagonistas ou coadjuvantes. Alguns personagens cruzam uns com os outros em diferentes de diferentes formas, e isso não significa que os quatro protagonistas percam seu próprio universo. Esse dinamismo e os diferentes pontos de vista para contar a mesma história é, sem dúvida, o seu melhor ponto positivo. Certamente usaria esse argumento para convencer um amigo a assisti-la. Outro aspecto técnico bem conduzido é a direção de arte e fotografia, de responsabilidade do talentoso José Luiz Villamarim. Tons e quadros ousados são distribuídos durante os episódios, incluídas aí também as cenas de abertura e as chamadas para os comerciais.

Outro ponto positivo da série é a ambientação. Quando se trata de eixos urbanos, em geral, as tramas da Globo se voltam para o Rio de Janeiro ou São Paulo. Em Justiça, a trama acontece no Recife, mostrando que o Nordeste possui cidades tão efervescentes, social e culturalmente, como as do centro-sul do país. Prova dessa cultura frenética é a trilha sonora escolhida para a série, que conta com grandes nomes nacionais, como Milton Nascimento, Chico Buarque, Roberto Carlos e Erasmo Carlos, mas também tem o cantor Pablo, a mais recente descoberta do gênero nordestino arrocha. Ainda quanto à trilha sonora, vale destacar que tal elemento foi marcante para demonstrar os sentimentos dos personagens, como ao final dos quatro primeiros episódios com a música Hallelujah na versão de Rufus Wainwright.

Da esquerda para direita: Vicente, Rose, Fátima e Mauricio
Da esquerda para direita: Vicente, Rose, Fátima e Mauricio

No entanto, a importância dada aos coadjuvantes nas histórias é tão grande que esses acabam, por muitas vezes, se tornando protagonistas de seu próprio universo. Esse aprofundamento, às vezes, atrapalha bastante o andamento da história e o crescimento do protagonista daquela história, que se torna totalmente dependente de seus coadjuvante para ter emoções e poder de escolha. Um exemplo disso é a personagem Marina Ruy Barbosa, que pertencia ao núcleo de Vicente e ganhou atenção do público e também dos veículos de fofoca pela sua nudez no primeiro episódio. Particularmente, não há nada demais da participação dela nos episódios em que ela aparece, e sim muitos erros, principalmente de caracterização do personagem. Em muitos momentos, a atriz desliza e acaba falando normalmente com seu sotaque sulista e deixa a variação pernambucana de lado. 

Todas as histórias tratam de temas importantes e bem atuais, como estupro, racismo, feminismo, corrupção, impunidade, dentre tantos outros temas apresentados no decorrer da história que são bem explorados. Apesar disso, Justiça tropeça ao apresentar soluções de roteiro preguiçosas, dando soluções bastante previsíveis ao seus personagens que chega a entristecer. Mesmo com esses remendos, no fim das contas, os personagens finalmente encontram a paz e têm a sensação de dever cumprido. Justiça, portanto, acaba valendo à pena apenas por curiosidade de como os personagens irão ser desenrolados até seu momento final.

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Vinícius Cerqueira
Jornalista em formação, fluente em baianês e musicalmente conduzido no dia a dia
Vinícius Cerqueira

Vinícius Cerqueira

Jornalista em formação, fluente em baianês e musicalmente conduzido no dia a dia

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