Quando um filme une com maestria conflito e melancolia é fato que possivelmente ele se desenrole a um ponto que o telespectador simplesmente o ame ou odeie com todas as forças. Mas o filme concorrente à principal categoria do Oscar, Manchester à Beira-Mar, provavelmente se enquadrará na primeira categoria.
Lee Chandler (Casey Affleck) é um homem solteiro e profundamente triste e que não faz a menor questão de conhecer novas pessoas. Mas quando seu irmão, Joe Chandler (Kyle Chandler), acaba falecendo, Lee é obrigado a se mudar para cuidar do sobrinho Patrick (Lucas Hedges). Encurralado por esta situação, Lee precisa lidar com vários problemas, tanto dele quanto os do sobrinho adolescente.
A obra abre incontáveis camadas para o espectador. Por um lado, sabemos o porquê de Lee ser do jeito que ele é, o que responsabiliza totalmente as atitudes que ele toma. Por outro lado, temos Patrick, que como qualquer adolescente, está com nervos à flor da pele, além de lidar com situações pessoais precisa lidar com a morte do pai. Os conflitos pessoais de cada personagem, como a ex-esposa de Lee, Randi (Michelle Williams), também são bem explorados. Executar vários sentimentos de uma vez só em uma trama é algo extremamente difícil por gerar uma possibilidade de confusão a quem vê o filme, e isso não acontece em Manchester à Beira-Mar.
Apesar do personagem ser muito bem escrito, o ator Casey Affleck não esteve em um dos seus melhores papéis. Na minha opinião faltou-lhe mais impacto, e às vezes até cometia o mesmo erro do irmão Ben, atribuindo a um personagem profundo feições congeladas que expressavam um vazio sem tamanho. Já Lucas Hedges, que deu vida a Patrick, tem seus sentimentos expostos ao extremo numa atuação de cair o queixo.

Introspecção seria a palavra-chave para este filme. Mesmo com certa identificação e carinho nutrido por cada personagem, a obra se torna um exercício de rever atitudes como, por exemplo, a falta de contato com as demais pessoas, o que tornou Lee auto-destrutivo e deu-lhe a fama de brigão; ou como um casamento que poderia ser perfeito se torna horrível devido à indiferença.
Outro fato que contribui para o filme ser tão melancólico sem dúvida é dada pela fotografia suave e com cores frias e muitos tons de branco espalhados durante toda a película, além da trilha sonora que faz jus à proporção da história. Todavia, para os menos acostumados, o filme pode parecer bem lento ou que lhe faltem grandes acontecimentos. Mas é a inexistência de reviravoltas elaboradas que dá o tom de “filme de arte” à obra dirigida e roteirizada por Kenneth Lonergan (Gangues de Nova York, 2002).
Em suma, Manchester à Beira-Mar é um filme lindo, tipicamente feito para o Oscar, repleto de mensagens, onde o drama não se torna insuportável e a condução é agradável. Pode vir a ser um grande concorrente e um adversário à altura para os favoritos do ano.