Após uma semana da estreia da comédia brasileira, “Meu Passado Me Condena – O Filme” (2013), eu finalmente fui assisti-la. Em um dia de tensões, nervos à flor da pele, uma comédia seria o antídoto ou ao menos a distração para aquele momento de angústia que vivi nessa última sexta-feira, e foi bem isso que aconteceu. O filme da diretora Julia Rezende, protagonizado por Fábio Porchat e Miá Mello, se passa em um navio transatlântico, onde os personagens principais decidem passar sua lua de mel, mas acabam encontrando com exs na viagem. Baseado na série de TV homônima do canal Multishow, da qual já assisti alguns episódios, o longa não se propõe a ser nada de inovador, muito menos um arroubo de criatividade, no entanto, seguindo a receita hollywoodiana de comédia sobre relacionamentos amorosos, cumpre seu dever de casa comum às últimas produções brasileiras: faz rir, mesmo que pela idiotice.
Após apenas um mês de namoro, eis que Fábio (Fábio Porchat) e Miá (Miá Mello) resolvem se casar, precipitados? Uns dirão que não, afinal: “a vida é curta e é preciso pôr o amor antes dos fatos”; já do outro lado, gente cautelosa como eu dirá: “Rapaz, espere ao menos um ano e faça a experiência de morar junto um mês antes de casar”. Impulsivos e apaixonados, Fábio e Miá recém-casados seguem em um cruzeiro de lua de mel com destino à Europa. Ele trabalha como animador de festas e ela é uma jornalista econômica, ambos vindos de mundos diferentes, porém bastante apaixonados e dispostos a seguir a vida juntos. O ator Fábio Porchat, famoso pelo canal do Youtube Porta dos Fundos, segue aquela linha que já estamos habituados, cheio de tiradas nonsense, exageros e respostas afiadas na ponta da língua. Porém, neste trabalho, isso soa dissonante.
O encontro com Beto (Alejandro Claveaux), ex-namorado milionário de Miá, abala a confiança de Fábio, desencadeando uma série de problemáticas. Embora ainda apaixonado por sua antiga namorada, Beto está casado com Laura, interpretada por uma apática e insossa Juliana Didone, que por sua vez foi a grande paixão dos tempos de escola de Fábio. A história só piora com a entrada da ardilosa Suzana (Inez Viana), uma funcionária do navio que a troco de uns dólares a mais compete com seu ex-marido, Wilson (Marcelo Valle), outro funcionário da embarcação, que o relacionamento dos recém-casados não irá vingar e para isso, ambos fazem joguinhos de intriga entre os casais.
Não bastando a problemática dos exs, ao chegar em Casablanca, enclave situada dentro do Marrocos, Fábio reencontra seu amigo de infância, Cabeça (Rafael Queiroga) e a infantilidade e “leseira” dos amigos tira Miá do sério. O que era para ser uma lua de mel tranquila e romântica se torna uma tragicomédia com todos os ingredientes inerentes a um desses vários “besteirois” fabricados em massa nos EUA e consumidos em larga escala mundo afora. A tentativa de um final “sério” também não convenceu muito, é bem verdade, e encerra o filme que foge ao padrão de qualidade de produção Globo Filmes, porém acerta na bilheteria. Com apenas três dias em cartaz, o longa foi visto por 425 mil pessoas, ocupando imediatamente o segundo lugar no Ranking de Aberturas (estreias) do cinema brasileiro na temporada. Não é à toa que, no cinema local, ocupa duas salas e dez sessões diárias, perdendo para o hollywoodiano “Thor 2 – O Mundo Sombrio”, que ocupa três salas.
As primeiras brigas, as revelações, o ciúmes, o casal passa por uma montanha-russa de emoções em menos de três dias de viagem. Corrida e complicada também foi a vida da produção, uma vez que o filme foi rodado em uma viagem de navio real, usando os passageiros e a tripulação como extras. O cronograma apertado e os dias contados para cada parada e uma data de chegada ao destino final define o ritmo do longa. Os atores usaram muito de improvisação e rebolaram pra seguir a cartilha de filmagens. Por várias vezes Porchat passa do ponto certo da comédia e cai no exagero barato, Miá fica apagada ao seu lado e o casal não encontra uma química que convença. É verdade que eles bem que tentam, talvez até demais e soe um tanto forçado. Caso você leitor esteja de cabeça cheia, a fim de desopilar, não pensar e apenas esquecer por algum tempinho sua vida e estiver disposto a gastar dinheiro, “Meu Passado Me Condena – O Filme” é uma opção, mas fora isso, deixem pra ver a série em um domingo preguiçoso, no conforto de casa.
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.