A Turma da Mônica ganhou traços e novas história com o selo Graphic MSP, os bem sucedidos: “Astronauta – Magnetar”, “Turma da Mônica – Laços”, “Chico Bento – Pavor Espaciar” e “Piteco – Ingár” foram os primeiros da leva de graphic novels dos icônicos personagens de Maurício de Sousa. Em agosto deste ano, foi a vez do cãozinho Bidu. Escrito e desenhado pelos mineiros Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, “Bidu – Caminhos” narra a história do encontro do cachorro azul Bidu e seu dono, o Franjinha. Para aqueles que, assim como eu, têm os personagens da Turma da Mônica como antigos amigos de infância, se deparar com uma nova perspectivas de traço e texto é deliciosamente divertido.
Vamos a uma breve explicação do que é a MSP para aquele leitor que não está por dentro do assunto. A Graphic MSP é um projeto da Maurício de Souza Produções que entrega personagens do Maurício de Souza nas mãos de artistas renomados para que eles criem uma história própria dentro do universo da Turma da Mônica e companhia. Dito isto, voltemos ao que interessa, “Bidu – Caminhos”. O novo rebento do MSP conta a história de como Bidu e Franjinha se conheceram e se tornaram melhores amigos. O próprio título já faz referência aos vários caminhos que eles perseguiram, e em alguns momentos até se cruzaram, para, por fim, se encontrarem. Tudo isso mostrado mais do ponto de vista do Bidu do que do Franjinha, o que torna a HQ ainda mais interessante, uma vez que os autores tiveram de criar uma forma de diálogo do Bidu.
A sacada dos mineiros Eduardo e Luís Felipe com relação à linguagem do Bidu foi uma das coisas que me chamou atenção na obra, estávamos lidando com a história de um cachorro sob o seu ponto de vista e como o Bidu não é um desses animais que têm percepções, fala e vidas humanóides, os autores criaram uma forma de que o cachorro pudesse ter diálogos sem que soasse irreal. Em outras palavras, os artistas passaram a história e o diálogo dos personagens sem precisar do recurso textual. Expressões faciais, onomatopeias, os balões “de diálogo” de Bidu conversando com os demais cachorros que fazem parte de seu universo (Bugu, Duque, Rufius e a Dona Pedra) se dá pelo uso de imagens e símbolos.
É sabido da importância do uso das cores em uma HQ, por meio delas é possível expressar o sentimento dos personagens ou da própria narrativa para o leitor. E a impressão que tive ao folhear as setenta e quatro páginas da história foi que este aspecto foi muito bem retratado. As cores alegres e vivas são utilizadas nos momentos em que Bidu se sente feliz, nuances de preto e sombras quando ele está passando por uma situação sombria e, principalmente, a própria ausência de cores quando ele passa pelo momento mais debilitado e deprimido.
No tocante à narrativa, vemos a “jornada do herói” bem delineada, o Bidu sai de sua zona de conforto, se mete em várias encrencas, encontra humanos que o tratam bem, outros nem tanto, e acaba encontrando em seu caminho um lar. Tudo isso escrito com uma sensibilidade e um olhar muito comovente, trazendo o leitor a ter uma perspectiva mais tridimensional daquele pequeno e por vezes secundário personagem na Turma da Mônica, além de ser um deleite visual!

Uma dado curioso sobre a obra, os autores dos projetos, Eduardo Damasceno e Luís Felipe Garrocho, trabalharam em todo o processo a quatro mãos, isto é, nenhum deles foi só roteirista ou desenhista. Em um consenso, a dupla definiu o argumento da HQ, desenvolveram o roteiro para definir quantas páginas cada cena levaria. Felipe fez o layout da história em traços simples, mas com enquadramentos, diálogos e expressões faciais dos personagens. Posteriormente o processo foi todo realizado no computador. Feito todo o desenvolvimento virtual, as onomatopeias foram acrescidas na história manualmente.
O Bidu foi o primeiro personagem criado por Mauricio de Sousa, juntamente com seu dono, o Franjinha. Ambos surgiram em 18 de julho de 1959, numa tira vertical, em preto e branco, na Folha da Tarde. O personagem do cãozinho azul foi inspirado em um cachorro que Mauricio teve na infância. O autor fez um concurso na redação da Folha para batizar o seu rebento. O sucesso das tirinhas do Bidu o levaram a ter sua própria revista, em 1960, foram apenas oito números.
A Graphic MSP permanece com obras de altíssimo nível, no quesito artístico e no tocante ao enredo, Sydney Gusman, editor dos projetos, está de parabéns pelas escolhas dos autores. Eu não diria que Bidu é o meu HQ favorito do selo, mas sem dúvidas se tornou um destes. Aos interessados na Turma da Mônica, ou aos nem tão interessados assim, aos fãs de artes visuais e a você, leitor curioso, dê uma sacada em “Bidu – Caminhos”, bem como nas demais obras do selo, garanto que vão gostar dessa nova visão dos icônicos personagens de Mauricio de Sousa.
Uma míope quase sempre muito atrasada, cinéfila por opção, musicista fracassada e cronista das pequenas idiotices da vida. Pra sustentar suas divagações é jornalista, roteirista e fotógrafa.