Na primeira exibição do filme Nise – O Coração da Loucura em Natal-RN, o cinema completamente lotado ficou de pé para aplaudir a sessão, uma prática pouco comum em salas de cinema. Uma semana depois, no primeiro dia de exibição da segunda semana em cartaz, uma funcionária do Cinépolis Natal Shopping confirmou que todas as sessões da semana anterior haviam alcançado igualmente o público máximo da sala. Não à toa, “Nise” abre, nesta quinta-feira (04), a sua quarta semana em Natal com uma sessão diária, às 14h (sábado e domingo) e às 19h30 (todos os outros dias da semana).
De tempos em tempos surgem em terras brasileiras almas incríveis que possuem virtudes como afetividade, paciência e perseverança e se tornam heróis de uma época ou uma causa. É o caso de Nise da Silveira, médica psiquiatra que elevou seu nome à fama pela nobre vocação de humanizar o tratamento médico com doentes mentais.
O filme se passa no Rio de Janeiro do ano de 1944 e Nise volta a clinicar em um hospital psiquiátrico. Já dentro das instalações ela se depara com uma equipe médica formada apenas de homens e, depois de questionar algumas práticas que estavam no auge na época, como a lobotomia, ela é designada para o setor de Terapia Ocupacional, carente de recursos e com apenas dois funcionários pouco dispostos. Depois de limpar e colocar alguns móveis no local, Nise começa a incentivar que alguns pacientes sejam tratados no seu setor.
A médica tenta extrair talento, percepção de mundo e respostas de seus clientes fazendo aplicação de arte e alcançando um resultado realmente impressionante, tanto estético, com quadros e esculturas belíssimas, como psicológico, com a melhora significativa de alguns pacientes.
A película é um manual de dedicação e respeito no meio médico. A persistência e a luta da psiquiatra em tratar de forma não violenta os seus clientes é de sensibilizar qualquer um. O eixo dramático do filme é estimulado pelo pano de fundo na questão história da época, onde a mulher ainda não era bem recebida em ambientes como aquele, tratando de outras pessoas como médica e não como enfermeira.
A falta de humanidade dos médicos que trabalham no hospital também é tratada como um dos assuntos principais da obra. O descaso com os pacientes e a falta de cuidado dos funcionários chega a assustar os mais sensíveis e talvez este seja um ponto importante que contribuiu para o sucesso e popularidade do filme: a luta antimanicomial encontra cada vez mais força no país, e obras como Nise ajudam a sensibilizar a população para a sua importância e a necessidade de tratar os doentes como os seres humanos que são.
Provavelmente Glória Pires está em um dos melhores papéis de sua carreira. Há que se destacar a transparência que ela dá à personagem. A atriz consegue trazer nuances para a atualidade, como representatividade e força da mulher no mercado de trabalho, que são temas brilhantemente abordados na obra.
A fotografia do filme retrata muito o consciente da protagonista, quando Nise está iniciando uma nova fase é como uma tela em branco e isso é mostrado com tons mais frios; na medida em que os acontecimentos vão dando certo, o filme se torna mais colorido, tonalidades mais vibrantes preenchem à tela. O figurino está impecável e, adicionado à cenografia, faz com o que filme se torne mais harmonioso.
Seria pouco dizer que Nise – O Coração da Loucura vale a pena. Talvez fosse mais justo classificá-lo como “essencial”. Não apenas para cinéfilos, mas para qualquer um que, na vida, precise lidar com pessoas. Destaca-se também a direção excepcional de Roberto Berliner e o roteiro caprichoso, que foca nos ensinamentos que a médica passa e traz uma bela mensagem motivacional sobre o resgate da esperança humana. Nise com certeza é um filme transformador.